Ler sobre o Brasil sempre foi um dos
meus passatempos preferidos, inevitavelmente acabei encontrando no período da
Monarquia brasileira e em especial na figura do segundo imperador uma
notoriedade, uma humanidade impossível de não amar. Nunca vi a figura pública,
aquela fabricada, construída pela história oficial, dos vencedores
republicanos, mas a figura humana, muito bem traçada em perfis de novos
historiadores como Mary Del Priori ou jornalistas com uma nova visão como
Laurentino Gomes.
Pedro de Alcântara, como gostava de
ser chamado, foi um menino triste e criado unicamente para servir ao Brasil.
Órfão de mãe e abandonado pelo pai foi criado por amas e tutores, no frio
ambiente estatal, no fim, foi visto como um menino triste, mas extremamente
estudioso e disciplinado. Assume o trono do Brasil em plena adolescência, e tem
um casamento arranjado com uma nobre europeia a quem considerou feia e sem
graça, se sentindo enganado pela situação, mas no entanto viveu uma vida conjugal
morna, mas com respeito.
Pedro era um homem das letras, e um
homem do seu tempo, viveu em uma época de apogeu das ciência, que até então era
a nova verdade absoluta, soberana do conhecimento e da razão. Amava tanto os
estudos que impôs uma rígida agenda para suas filhas Isabel e Leopoldina, além
de participar pessoalmente das atividades do Colégio Pedro II, assim como fazer
viagens internacionais percorrendo o circuito cultural da época e chegar a
dizer que se não fosse imperador seria professor.
Mas o que me causa profunda
admiração é o seu amor pelo Brasil, seja em se alistar na famigerada Guerra do
Paraguai, como o voluntário número I, numa época em que se recrutava
voluntários na pátria, e fora todas as controvérsias, a Guerra serviu para fortalecer
o sentimento de pertencimento à nação, e para que está não viesse a se
fragmentar como as vizinhas de língua espanhola. Ou pela austeridade com os
recursos públicos, quando passou o Segundo Reinado recebendo o mesmo valor de
pensão do Estado. Além de permitir uma liberdade de expressão para imprensa
impossível de ser pensada na época, pelos caudilhos e ditadores dos países
vizinhos.
Já doente e perto do fim da
Monarquia, quando soube da abolição da escravatura no Brasil, considerou que
agora sim, o país seria uma grande nação. Era amado e respeitado pelo povo, e
gozava de popularidade, no entanto, não se rebelou ao receber o golpe
orquestrado pelo novo regime, à República, e com dignidade recusou uma pensão
dos novos mandatários, e passou a viver no exílio de empréstimos de pessoas
amigas. Quando faleceu o Conde, D`Eu, marido da Princesa Isabel, encontrou
entre seus pertences um travesseiro com terra do Brasil em que estava escrito que
queria ser enterrado com ela. Afirmava sempre no exílio: nunca me esqueci do Brasil morro pensando nele, que Deus o proteja.