Ouvir Juliette Gréco (1927) é uma
experiência no mínimo diferente, na Paris do pós guerra ela tornou-se um ícone.
Viveu todas as agruras dos seu tempo: a ocupação alemã, a privação de
alimentos, interrogatórios nazistas, prisão aos 16 anos, mãe e irmã em campos
de concentração. Com o fim da guerra era hora de se divertir e o tempo era de
pensar sobre o sentido da vida e da existência com o movimento filosófico
Existencialista do qual ela foi conduzida a categoria de musa, reunidos em
torno dos filósofos Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir.
Mulher insubmissa conquistou o
público com sua maneira peculiar de cantar, quase falando e interpretando as
palavras. Reza a lenda que o próprio Sartre a influenciou a cantar, carreira
que deu tão certo que suplantou a de atriz. Ouvi-la é a certeza de se está
sendo transportado para uma época em que Boris Vian dava as cartas na
literatura. Recentemente aos 87 anos montou um show em homenagem a Jacques Brel
o grande compositor das chansons francesas mostrando que o gênero continua
vivo.
Resolvi postar um vídeo belíssimo de
uma simples e belíssima canção sobre Paris (parece que as canções belas são
sempre as mais simples). Foi escrita em 1951 por Jean Dréjac tendo sido gravada
por muitos intérpretes, dentre eles Piaf. Sobre o vídeo eu diria que vivemos
num tempo em que a tecnológia se sobressai ao real talento de muitos artistas.
Gréco diz com um jeito de lábios, movimentos de mãos, um princípio de sorriso e
fugaz brilho no olhar, juntamente com a simplicidade em dizer as palavras e a
forma de cantar, que passa toda a mensagem daquilo que a música quer nos dizer.
Fico com as palavras de uma
entrevista que Gréco deu em agosto último para a imprensa brasileira sobre o
seu show em homenagem a Jacques Brel. Sobre os tempos atuais: “o ideal de
progresso, o ideal de amor ao outro, o ideal de que os humanos um dia possam se
olhar e se escutar. Agora nós estamos regredindo. Não há mais confiança e isso
me amedronta. É uma época de desconfiança de ficar voltado para dentro de si. Não
é uma época de generosidade. Isso não é a vida”.
Ela é simplesmente maravilhosa!!
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