Gosto
de tudo que está relacionado ao Brasil, quando estava na academia procurava entender
o país sob o ponto de vista de estudiosos que usavam como ponto de partida o
método científico, comecei apresentando trabalhos com base no clássico Casa
Grande e Senzala e daí entender o Brasil foi um tema que nunca mais saiu de
mim. Além disso sou fascinada por história, em especial a chamada micro
história, aquela que é mais próxima do mundo da história que não é contada
pelos vencedores. Deve ser por isso que gosto tanto do trabalho do jornalista
Laurentino Gomes, que com esse livro 1889 encerra uma bem sucedida trilogia sobre a
história do país, os outros textos são 1808 e 1822.
Quando
estava no mestrado me questionava quem vai ler minha dissertação? Terá eficácia
prática ou ficará apenas arquivada e empoeirada em alguma estante de uma
biblioteca de uma Universidade? Acredito ser esse o fim da maioria das teses,
principalmente no Brasil, não atingem o grande público, e Laurentino Gomes com o seu trabalho, vai na contramão desse ostracismo, possibilita o alcance dos
acontecimentos sobre o viés da micro história, ao grande público, os fatos que
ele narra na trilogia foram essenciais para a formação e consolidação do país
que temos.
Acredito
que por sua linguagem objetiva, mais próxima da realidade é que seus livros são
sucesso de crítica e de público, o que mostra que existe um grande contingente
de pessoas interessadas em nossa história, talvez não o fizessem porque as
opções que tínhamos no mercado eram emolduradas pelo rigor e pedantismo
academicista.
Sua
linguagem flui, ler o seu texto é como ler uma revista, com o mérito de está
discutindo a formação do país, elemento primordial para compreendermos a nossa
contemporaneidade. 1889, não traz novidades, nem está dividido
através do rigor cronológico, os capítulos, mostram os dois lados da revolução
e são divididos, entre outros, da seguinte forma: O Marechal, O Professor, D. Pedro II, A Redentora. Para mim o mais
interessante é o capítulo que traça o perfil do Imperador D. Pedro II, ele humaniza a figura do homem que viveu pelo Brasil e para o Brasil, o seu relato
é tão fiel, que nada fica a dever a nenhum acadêmico.
Sua
imparcialidade no texto é notável, mas, sabe analisar com precisão os
acontecimentos que narra, quando diz que a República se impôs, mas pela
fragilidade da Monarquia do que propriamente pelo vigor do movimento
republicano ou pela agilidade do Marechal Deodoro. Acredito que o grande mérito
do livro está em mostrar um fato que os acadêmicos já trouxeram e agora com o
livro chega a conhecimento de um número muito maior de pessoas, a falta do elemento
povo, na participação da proclamação da República e da queda do antigo regime,
o povo de forma apática via os novos donos do poder dominar o país e a família
real ser expulsa de sua pátria e ninguém se pronunciar. Uma mostra da nossa
inoperância e desorganização enquanto movimento social político, na defesa dos
nossos direitos.
Outro
fato que eu gostava de dizer em conversas e discussões sobre o assunto,
parafraseando Machado de Assis era que uma grande maioria, aqueles que estão
sempre perto do poder, independente de quem esteja no mando, o que importa é
sombra que o manto público proporciona, foram dormir ideologicamente monarquistas
e acordaram ideologicamente republicanos desde sempre e para concluir fico com
a frase do Capitão Feliciano do Espírito Santo (bisavô do ex presidente
Fernando Henrique Cardoso) “Vocês
fizeram a República que não serviu para nada. Aqui agora, como antes continuam
mandando os Caiado”.
Está
de parabéns Laurentino, por descrever de forma tão bem elaborada esses
acontecimentos que foram as raízes da formação e do caráter do povo brasileiro,
leitura que transcende o prazeroso, já que tem o condão de aguçar a nossa
percepção dos sistemas políticos do país.