Estive pensando e vi que o
ressentimento como um afeto declarado é mau visto moralmente pela sociedade. O sujeito que se mostra ressentido é tido como aquele que
não vai para a frente, que é amargo e rancoroso. Ninguém gosta de ser
reconhecido como ressentido, mais quando o ressentimento aparece camuflado em
alguém que se sente injustiçado com uma determinada situação, ou alguém
sensível, ele é visto com muita complacência, e em geral como um sinal
positivo.
O ressentimento é uma constelação
afetiva composta de (mágoa, inveja, desejo de vingança, raiva), acho que é um
afeto que não pode ser nomeado mais que tem um brilho narcísico qualquer. Se
manifesta como uma espécie de mágoa que não se supera, e ao que parece a pessoa não quer esquecer, tem algum gosto em relembrar. O que tem que ser pensado é
qual a função dessa chama que mantém viva a memória do agravo?
A função do ressentimento parece ser
(prazer em acusar, vingança embutida, preservar o narcisismo, culpar o outro) é
como se a pessoa dissesse eu não fiz nada
de errado, se estou nessa situação alguém me prejudicou. De modo que o
ressentido interpreta qualquer falta na sua vida como um prejuízo, não é porque
a falta faz parte da vida, ou porque o sujeito fez uma escolha que não deu certo, alguém
o prejudicou, assim o ressentido se isenta de responsabilidades. O narcisismo
do ressentido se preserva, ele não quer saber onde eventualmente errou, ele não
quer responder como co- responsável desse eventual fracasso na sua vida.
Acho que em certos termos o
ressentimento está relacionado a modernidade, pois vivemos numa sociedade
narcísica, em que cada um tenta responder a esse ideal de ser alguém muito
especial, que foi feito para não sofrer, para ser feliz, para ser melhor que os
outros. São tempos de extremo individualismo em que cada um deve se fazer por
si mesmo, construir o seu destino, fazer sua vida sem depender de ninguém, o
que já é uma falácia, porque nossa dependência do outro é constitucional, é
parte do humano.
O individualismo é um ideal que
funda um ideologia incapaz de se cumprir, todos nós somos divididos, e a ideia
de que você faz o seu destino e chega lá sem depender de ninguém é uma grande
falácia. No ressentimento o sujeito preserva o ideal individualista ele
acredita que pode chegar lá sozinho e se ele fracassa a culpa é do outro, alguém
se atravessou no seu caminho. Para Nietzsche o ressentimento é uma vingança imaginária e adiada. Isso porque com
essa queixa o ressentido acredita que o outro, a quem ele atribui a responsabilidade pelos seus males um dia sofra.
Acredito que o grande mecanismo do
ressentimento está que na origem, já que, houve covardia, submissão voluntária e o sujeito não quis lutar, sendo assim, a saída é a acusação do outro. A pessoa ressentida se reconhece como vítima em vez de derrotada se livrando de todas as suas responsabilidades.
Ele espera que o forte deixe de ser forte e apresenta um apego inconsciente ao
passado ideal do seu próprio narcisismo.
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