quinta-feira, 14 de novembro de 2013

QUANDO LI O REMORSO DE BALTAZAR SERAPIÃO



            Quando descobri esse livro do autor português Valter Hugo Mãe, confesso que senti um certo estranhamento, primeiro pelo tom regionalista, pela proximidade com o realismo mágico, linguagem meio arcaica e o mais interessante a abolição de palavras maiúsculas como uma espécie de reviver a modernidade. Mas, essas impressões foram desconstruídas ao final da leitura. Isso prova que no campo da literatura nada se pode excluir da novidade artística.


            A escrita é inspirada numa retórica de cunho medieval, exprimindo o conhecimento de gente simples, as mesmas gentes que atribuem a uma explicação sobrenatural tudo aquilo que não conseguem explicar. Num mundo medieval, os feudais abusam dos seus direitos. Baltazar, o protagonista deste romance, foi criado com a pobreza e com a violência numa família em que a vaca, animal de estimação, parece, afinal, ter tanta importância como a mãe. Porém, no meio da escuridão, Baltazar vê a luz: Chama-se Ermesinda e é a mais bela e ajuizada da aldeia. E o casamento acontece como uma benção dos céus, preparando-se Baltazar para a educação esmerada da sua esposa, uma vez que as mulheres, já se sabe, são ignorantes e, também por isso, muito perigosas. Mas, essa é vítima de violência física, psicológica e sexual.


            Esse tratamento medieval que se dava as mulheres nasce do desejo de tratar a mulher pelo terror exatamente como se fazia com os animais. Com esse livro sinto que a palavra escrita está mais viva do que nunca, para aqueles que a dominam como prova o texto. É uma prosa diferente de tudo o que eu tinha visto nos últimos tempos, uma metáfora da violência doméstica ainda comum nos jornais atualmente.


            Valter Hugo Mãe é assim, a minha mais nova paixão literária. A escrita me agrada porque é sentida, emotiva, dura, chega a suscitar o pensamento de como alguém é capaz de escrever sobre isto? Lendo o texto me sinto um pouco no mundo de Saramago, e isso muito me agrada. O livro é duro, mas realista, próprio do lado mais agressivo e irracional do ser humano. Li em 24 horas, leitura impactante que vale a experiência.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O BRASIL NA ERA DO RÁDIO



            Uma época culturalmente rica e magnifica em criações culturais, responsáveis pela construção dos cânones da música brasileira e pela divulgação do mercado de consumo, foi a chamada era do rádio, que viveu seu auge no Brasil entre as década de 1940 e 1950. Era a introdução de um novo aparato no mais íntimo do lar, repousando sobre uma toalhinha de renda caprichosamente bordada e ecoando na alma de milhares de ouvintes.


            O rádio, milagre da tecnologia moderna, permitia a substituição da voz da consciência interna de cada um, pela voz abençoada e irresistível das irmãs Miranda: Nós somos as cantoras do rádio/levamos a vida a cantar/a noite embalamos teu sono/de manhã nos vamos te acordar/. Como a vida parecia melhor ao som dessas vozes melodiosas. Mas, os políticos descobriram a grande maravilha, e nos anos 1930, o populismo já fazia caminho nas ondas do rádio. O Brasil conheceria o fenômeno com Getúlio Vargas quando tornou institucional a sua prática em cadeia, dramatizada pela Radio Nacional, nos discursos oficiais do Estádio de São Januário: Tra-ba-lha-do-res do Bra-sil!.



            No Brasil o desenvolvimento do rádio foi mais tardio, em sociedades europeias e nos Estados Unidos da América o apogeu da nova maravilha tecnológica se deu no contexto da Primeira Guerra Mundial. Só a partir dos anos 1930, é que o rádio traria uma influência significativa na transformação da cultura brasileira. No Brasil as rádios criaram uma dupla vocação, criar mitos e depois esmiunçar e divulgar detalhes mais palpitantes de suas vidas privadas. Isso estabelecia o circuito ídolos/fãs/dramas.


            Não foi o rádio que lançou a música brasileira, mas o contrário, quando as rádios tinham suas plateias lotadas para assistirem a exibição de artistas, demonstrava isso. Carmen Miranda foi contratada pela gravadora Victor, com as recomendações de cantar somente música brasileira, pois era conhecido que ela cantava tangos. Além de não poder revelar sua origem portuguesa para não prejudicar a música brasileira e assim, os ritmos nacionais eram preservados.


            Os ritmos que tocavam nas rádios seguiam o repertorio clássico, alguns boleros e tangos argentinos, música americana como jazz e foxtrote, mas o que prosperava mesmo era a música popular com destaque para maxixes samba carioca e marchinhas de carnaval. Quando as gravadoras se cruzaram com a difusão das rádios e das músicas populares, que a grande mágica se deu, gerando o que foi denominado como a era de ouro da música popular brasileira, em especial, das marchinhas de carnaval.


            Os intérpretes masculinos prezavam pela impostação vocal, com cunho meio lírico, os campeões de popularidade foram: Francisco Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Cauby Peixoto. Merece destaque também o radio jornalismo com programas como o Repórter Esso e o Grande Jornal Falado Tupi, eles serviam para que o jornalismo fosse tomando suas definições.


            Uma outra forma de prender as pessoas ao pé do rádio eram as rádio novelas, sucesso de grande porte nos anos 1940 e 1950, era um dos meios de entretenimento mais famosos e hipnotizantes, com histórias bem construídas, bons autores, e efeitos sonoros, prendia o ouvinte, em especial as donas de casa. A Rádio Nacional era líder no setor, e O Direito de Nascer o maior sucesso do gênero. As radionovelas, criaram o público e indiscutivelmente influenciaram as novelas da TV.



            É inegável o valor que o rádio assumiu para delinear a cultura brasileira, com seu indefectível ruído fazia parte do cotidiano das pessoas e era um companheiro de todas as horas, era tão importante que os que não possuíam rádio se reuniam na casa do vizinho para ouvir a programação. hoje ele continua sendo um meio de comunicação indispensável nas mais diversas localidades da sociedade brasileira. 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

QUANDO LI TRAVESSURAS DA MENINA MÁ



            Acho que leitura boa é aquela que você faz de um fôlego só, quando li Travessuras da Menina do Peruano Mario Vargas Llosa fiz em dois dias, a obra, é daqueles tipos de livros que casam com o nosso humor e nossa vontade de sumir do mundo e de tudo a nossa volta, foi essa impressão que  tive da leitura. Ricardo Somucurcio, é um peruano que tem como único sonho e ambição na vida morar em Paris, o que dá uma aura de magnitude ainda maior a Cidade.


            Ele é um rapaz simples, e modesto que na infância se apaixona por uma garota chilena, muito difícil de ser conquista Lily, são várias as tentativas de conquista, todas em vão, mas esse encontro muda a vida completamente. Essa paixão persiste por toda a vida de Ricardo e o melhor da estória é a contextualização histórica dos vários encontros que ambos têm durante a vida.


            Eles se encontram em diversas fases e facetas, na Paris bela e revolucionária, na Londres dos Skins Heads e do “paz e amor” dos hippies, na Tóquio das máfias e dos prazeres extravagantes, e na Madri dos anos 1980. Nesses encontros e partidas, conquistas e derrotas, sempre a mesma pergunta é feita pela malvada Lily: ainda me ama Ricardito?


            Ela ambiciosa, gosta de luxo e riqueza, vida impossível de ser dada pelo trabalho de modesto tradutor de Ricardito. Ela sempre quis conquistar o mundo, ele apenas ela. Nesses encontros e desencontros que se cruzam ela se mostra diferente e mesmo assim ele é capaz de ama-la. A montagem da obra é genial, e mostra como que o amor pode ser uma droga, e me deixou uma pergunta que está longe de ser respondida por mim, e acho que por qualquer pessoa: qual a verdadeira face do amor? 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

MARIA ANTONIETA DE SOFIA COPOLA





Quando Maria Antonieta foi lançado em 2006 fui ao cinema, ver sua estréia, e lembro que me impressionei mais com as cores, e tom romântico da película, do que com o filme em si, nesses dias de ócio criativo, resolvi rever e tirar algumas impressões. O filme é considerado como uma das obras primas da diretora Sofia Copolla. De inicio causa impacto as cores alegres e as músicas atuais, que formam um contraste interessante com a atmosfera do século XVIII. Um outro fato de relevância no filme é que não está centrado na morte de Maria Antonieta, nem na propaganda negativa feita sobre sua pessoa, mas na sua vida.


No início mostra a jovem Maria Antonieta, que sai de sua Áustria natal, em busca do apático marido, de um novo reino já decadente, com problemas e desavenças internas. Aqui se mostra a inocência de uma adolescente diante de um mundo perverso e incomum. A jovem quando se despe dos ornamentos de sua corte, e assume uma nova vida, na França, se vê perdida diante de tantas regras de etiqueta e desnudada perto de estranhos.


Para mim, o ponto alto do filme, é quando ela passa a usar sua posição de soberana para criar uma atmosfera irreal, de sonho, e fugir da formalidade e das tensões da corte. A vida que levavam em Versalhes, era o de uma ilha da fantasia, estima-se que 6% do que era arrecadado no país era destinado ao castelo. Nesse ambiente, o decoratismo barroco é mostrado em toda a sua plenitude.


Uma reprodução fiel a história é a fase campestre de Maria Antonieta, quando ela se recolheu no Trianon para fugir do protocolo da corte. Ali ela abandona as vestes pomposas e se mostra em trajes campestres. O bom do filme é que ele desmente a famosa frase do brioche.


Após a queda da bastilha os então aliados fogem e outros são pegos, Maria Antonieta passa a ser odiada, e se instaura uma fase de luto, a família real é obrigada a se mudar para Paris dizendo adeus para sempre a vida de conto de fadas. E assim o filme é terminado e é aí, que está a melhor mensagem do filme, não mostrar Maria Antonieta como a figura construída pelos vitoriosos burgueses e por sua propaganda negativa.



O que Copola fez nesse filme foi ir na contramão dessa propaganda negativa em torno da figura de Maria Antonieta, mas fazer um tributo a imagem daquela mulher com sua vida e seus amores. Seu objetivo foi alcançado com uma prodigiosa festa de cores e lugares exóticos. O filme é festa para a história e para a educação visual.