Vi La Dolce Vita de Fellini à uns dez anos, resolvi rever
agora para escrever essa resenha aqui para o blog. o filme foi rodado em 1959,
na Via Veneto, a rua romana das casas noturnas dos cafés e da badalação. Seu
herói Marcello é um colunista de fofocas, que escreve crônicas sobre “a doce
vida” de decadentes aristocratas, estrelas de segunda categoria, envelhecidos playboys e mulheres de comércio. O papel
foi interpretado por Marcello Mastroianni, para mim seu papel mais
representativo de um homem que caia na armadilha de uma vida de noites vazias e
madrugadas solitárias.
O filme transita de uma
extravagância visual para outra, acompanhando Marcello enquanto ele caça
histórias e mulheres. Ele tem uma noiva suicida em casa. Numa casa noturna,
encontra uma promíscua socialite, e juntos visitam o covil de uma prostituta. O
episódio não termina em degeneração, mas em sono.
Outra madrugada. E foi ai que
comecei a entender a estrutura do filme: uma sessão de madrugadas de idas e
vindas. Marcello se enfia em casas noturnas subterrâneas, em estacionamentos de
hospitais, em bordeis e numa antiga catacumba. E sobe no domo da igreja de São
Pedro. As cenas de abertura na qual uma estatua de Cristo é transportada por Roma,
casam o sagrado e o profano,
recheando-as com dúvidas.
Uma das primeiras sequencias mostra
Marcello cobrindo a chegada em Roma de uma saudável mulher que é uma provável
estrela de cinema (Anita Ekberg). A perseguição termina de madrugada quando ela
entra na Fontana de Trevi, e ele vai atrás, idealizando nela todas as mulheres.
A mulher. Ela permanece para sempre fora de alcance.
O filme foi realizado com uma
coragem ilimitada. Fellini parou aqui, no ponto divisor entre o neo realismo
dos seus filmes anteriores e o carnaval visual dos seus extravagantes filmes. A
trilha sonora é uma ajustada e perfeita composição para o filme. A formação do elenco
é cheia de estereótipos, Anita Ekberg talvez não fosse uma grande atriz mas
talvez a única capaz de se auto representar.
Quando vi o filme a primeira vez
imaginava que a “doce vida” representava o pecado, o glamour europeu, o
enfadonho romance do cínico jornalista. Revendo agora tenho pena de Marcello,
das sua noites vazias, da sua solidão. Talvez o que ele chama de “doce vida”
não exista, mas é preciso descobrir cada um por conta própria.
A histórica cena com Anita Ekberg e Marcello Mastroianni na Fontana deTrevi é realmente eterna. Infindável beleza em preto e branco, Aila. Muito bom!
ResponderExcluirRealmente Marcelo, cena eterna! Obrigada pelo comentário volte sempre!!
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