Nos 60 anos da morte de Getúlio
Vargas pensei em ver um dos episódios mais sombrios do seu governo a prisão do
literato Graciliano Ramos, reproduzida com base no seu livro Memórias do Cárcere levado ao cinema
pelas hábeis mãos do cineasta Luís Carlos Barreto e estrelado por Carlos Vereza
em 1984. O filme dura três horas e sete minutos e exibe as humilhações sofridas
por um homem detido sem processo sob suspeita de ter participado da Aliança Nacional Libertadora, a
frente ampla organizada para combater as sombras do fascismo que Getúlio
ameaçava projetar sobre o país.
A via crucis de Graciliano começa na
noite de 3 de março de 1936 quando ele aguardou paciente em sua casa com a
esposa e os filhos esperando para ser preso. Graciliano passou pela Colônia
Penal de Ilha Grande onde conviveu com assassinos e delinquentes comuns e na
Casa de Detenção onde conviveu com intelectuais e militares de alta patente. Presenciou as atrocidades da ditadura getulista, como a deportação de Olga
Benário Prestes, que também estava presa na ala feminina na Casa de Detenção,
grávida de oito meses. Olga mulher do comunista Luiz Carlos Prestes morreria
num campo de concentração nazista.
O filme pretende ser uma elegia a
liberdade e mostrar o cárcere como uma metáfora da sociedade brasileira. Revelando
uma cadeia no sentido mais amplo, a cadeia das relações sociais e políticas que
aprisionam o povo brasileiro. O filme baseado na obra homônima de Ramos
contribuiu imensamente em ajudar que o Estado Novo fosse visto
erroneamente, já que as pessoas tendem a ver o segundo Vargas, aquele da década
de 1950. O texto de Graciliano Ramos muito bem adaptado no filme é de uma
limpeza formal absoluta e constitui um documento político de inestimável valor.
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