Quando
descobri esse livro do autor português Valter Hugo Mãe, confesso que senti um
certo estranhamento, primeiro pelo tom regionalista, pela proximidade com o
realismo mágico, linguagem meio arcaica e o mais interessante a abolição de
palavras maiúsculas como uma espécie de reviver a modernidade. Mas, essas
impressões foram desconstruídas ao final da leitura. Isso prova que no campo da
literatura nada se pode excluir da novidade artística.
A escrita é inspirada numa retórica
de cunho medieval, exprimindo o conhecimento de gente simples, as mesmas gentes
que atribuem a uma explicação sobrenatural tudo aquilo que não conseguem
explicar. Num mundo medieval, os feudais
abusam dos seus direitos. Baltazar, o protagonista deste romance, foi criado
com a pobreza e com a violência numa família em que a vaca, animal de
estimação, parece, afinal, ter tanta importância como a mãe. Porém, no meio da
escuridão, Baltazar vê a luz: Chama-se Ermesinda e é a mais bela e ajuizada da
aldeia. E o casamento acontece como uma benção dos céus, preparando-se Baltazar
para a educação esmerada da sua esposa, uma vez que as mulheres, já se sabe,
são ignorantes e, também por isso, muito perigosas. Mas, essa é vítima de
violência física, psicológica e sexual.
Esse
tratamento medieval que se dava as mulheres nasce do desejo de tratar a mulher
pelo terror exatamente como se fazia com os animais. Com esse livro sinto que a
palavra escrita está mais viva do que nunca, para aqueles que a dominam como
prova o texto. É uma prosa diferente de tudo o que eu tinha visto nos últimos
tempos, uma metáfora da violência doméstica ainda comum nos jornais atualmente.
Valter Hugo
Mãe é assim, a minha mais nova paixão literária. A escrita me agrada porque é
sentida, emotiva, dura, chega a suscitar o pensamento de como alguém é capaz de
escrever sobre isto? Lendo o texto me sinto um pouco no mundo de Saramago, e
isso muito me agrada. O livro é duro, mas realista, próprio do lado mais
agressivo e irracional do ser humano. Li em 24 horas, leitura impactante que
vale a experiência.
Até que em fim encontrei alguém do nordeste no Dihitt
ResponderExcluirJosé Inácio que bom, estou a disposição para trocarmos informações!!
ResponderExcluirAila e José Inácio eu também sou do NE. Aila, sou encantada com V.H.Mãe. Havia visto entrevista dele na FLIP e me impressionei. Comprei e gostei de O filho de mil homens e A máquina de fazer espanhóis. Recentemente fui vê-lo na Fliporto de onde sai mais encantada ainda. Aliás, os outros luso africanos são muuuuuuuuuuuito bons também: Mia Couto, Pepetela, Ondjaki e Agualusa. bj.
ResponderExcluirOi Regina que bom que você gosta, volte sempre!! será sempre bem vinda!! Grande abraço!!
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