Uma época culturalmente rica e
magnifica em criações culturais, responsáveis pela construção dos cânones da
música brasileira e pela divulgação do mercado de consumo, foi a chamada era do
rádio, que viveu seu auge no Brasil entre as década de 1940 e 1950. Era a introdução
de um novo aparato no mais íntimo do lar, repousando sobre uma toalhinha de
renda caprichosamente bordada e ecoando na alma de milhares de ouvintes.
O rádio, milagre da tecnologia
moderna, permitia a substituição da voz da consciência interna de cada um, pela
voz abençoada e irresistível das irmãs Miranda: Nós somos as cantoras do rádio/levamos a vida a cantar/a noite
embalamos teu sono/de manhã nos vamos te acordar/. Como a vida parecia
melhor ao som dessas vozes melodiosas. Mas, os políticos descobriram a grande
maravilha, e nos anos 1930, o populismo já fazia caminho nas ondas do rádio. O
Brasil conheceria o fenômeno com Getúlio Vargas quando tornou institucional a
sua prática em cadeia, dramatizada pela Radio Nacional, nos discursos oficiais
do Estádio de São Januário: Tra-ba-lha-do-res
do Bra-sil!.
No Brasil o desenvolvimento do rádio
foi mais tardio, em sociedades europeias e nos Estados Unidos da América o
apogeu da nova maravilha tecnológica se deu no contexto da Primeira Guerra
Mundial. Só a partir dos anos 1930, é que o rádio traria uma influência
significativa na transformação da cultura brasileira. No Brasil as rádios
criaram uma dupla vocação, criar mitos e depois esmiunçar e divulgar detalhes mais
palpitantes de suas vidas privadas. Isso estabelecia o circuito
ídolos/fãs/dramas.
Não foi o rádio que lançou a música
brasileira, mas o contrário, quando as rádios tinham suas plateias lotadas para
assistirem a exibição de artistas, demonstrava isso. Carmen Miranda foi
contratada pela gravadora Victor, com as recomendações de cantar somente música
brasileira, pois era conhecido que ela cantava tangos. Além de não poder
revelar sua origem portuguesa para não prejudicar a música brasileira e assim,
os ritmos nacionais eram preservados.
Os ritmos que tocavam nas rádios
seguiam o repertorio clássico, alguns boleros e tangos argentinos, música americana
como jazz e foxtrote, mas o que prosperava mesmo era a música popular com
destaque para maxixes samba carioca e marchinhas de carnaval. Quando as
gravadoras se cruzaram com a difusão das rádios e das músicas populares, que a
grande mágica se deu, gerando o que foi denominado como a era de ouro da música
popular brasileira, em especial, das marchinhas de carnaval.
Os intérpretes masculinos prezavam
pela impostação vocal, com cunho meio lírico, os campeões de popularidade
foram: Francisco Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Cauby Peixoto. Merece
destaque também o radio jornalismo com programas como o Repórter Esso e o
Grande Jornal Falado Tupi, eles serviam para que o jornalismo fosse tomando
suas definições.
Uma outra forma de prender as
pessoas ao pé do rádio eram as rádio novelas, sucesso de grande porte nos anos
1940 e 1950, era um dos meios de entretenimento mais famosos e hipnotizantes, com
histórias bem construídas, bons autores, e efeitos sonoros, prendia o ouvinte,
em especial as donas de casa. A Rádio Nacional era líder no setor, e O Direito
de Nascer o maior sucesso do gênero. As radionovelas, criaram o público e indiscutivelmente
influenciaram as novelas da TV.
É inegável o valor que o rádio
assumiu para delinear a cultura brasileira, com seu indefectível ruído fazia
parte do cotidiano das pessoas e era um companheiro de todas as horas, era tão
importante que os que não possuíam rádio se reuniam na casa do vizinho para
ouvir a programação. hoje ele continua sendo um meio de comunicação
indispensável nas mais diversas localidades da sociedade brasileira.