Vi
recentemente o filme da Hannah Arendt (2013) de Elisabet Van Trota a filósofa
que da nome ao filme é autora de uma das mais importantes obras do século XX.
Arendt para mim sempre foi uma figura dura, gostei particularmente do filme por ter
retratado seu lado mais humano. Como uma professora que tem um trabalho
acadêmico, boas relações com seu alunos, uma mulher feliz no casamento, mas com
firme postura e decisões bem recortadas diante da vida. O enredo é centrado na
época em que Arendt escreveu seu polêmico livro Eichemann e Jerusalém. O filme retrata sua viagem ao julgamento do
carrasco nazista capturado na Argentina e julgado em Jerusalém em 1962.
O que se vê é a polêmica que a
produção do seu texto provoca ao desmistificar Eichemann como um louco
sanguinário. Sua percepção a cerca desse homem como uma pessoa comum causou mau
está entre seus amigos, comunidade acadêmica, judeus e muita gente que não
compreendeu sua postura. Ela dentro de uma postura filosófica descompromissada
com qualquer tipo de facção, ideologia ou religião, se abstém de personalizar o caso. Admiro sua postura porque
ela não usava sua condição de judia como superior a de pensadora.
Os que se posicionaram mais
ofensivamente contra sua tese não a compreenderam, porque o seu caráter é
difícil. O praticante do mal banal seria um cidadão comum, que não assume uma
postura deliberadamente maligna é aquela pessoa que ao receber ordens, punha em funcionamento a máquina de morte do sistema nazista. Arendt retratou Eichemann
como alguém vazio incapaz de pensar que apenas repetia clichês sem qualquer
tipo de consciência. A banalidade do mal seria algo tão sério que quando ocupa grupos sociais e políticos ocupa espaços institucionais.
Trata-se de um filme denso, mas, uma
biografia de alta qualidade ao retratar a personagem por suas ideias e não
somente por sua vida pessoal. No Brasil, por exemplo, como se daria a
banalidade do mal? Através da naturalização da corrupção da homofobia e de
outras práticas excludentes. Filme profundo de ritmo lento, mas de excelente
qualidade provando que o cinema é muito mais do que mera diversão.