Meu pai me deu ao
mundo sem ter mais o que me dá
Me ensinou a
jogar palavra no vento para ela voar
Dizia: filha
palavra tem que saber como usar
Aquilo é que nem
remédio cura, mas pode matar
Cuide de pedir licença antes de palavrear ao dono da fala
Que é quem pode transformar o que você diz em flecha que chispa no ar
Quando o tempo for de
guerra e você for guerrear, use pétalas de rosa se o tempo for de amar.
Palavra é que nem veneno mata ou pode curar.
Diga sempre o cuidado que se deve dedicar as forças da natureza: o bicho, a planta, o mar;
Palavra é que nem veneno mata ou pode curar.
Diga sempre o cuidado que se deve dedicar as forças da natureza: o bicho, a planta, o mar;
Palavra foi feita
para se gastar, acaba uma, vem outra que voa no seu lugar.
Ainda ontem lá em
casa quando cozia o jantar lembrei da voz do meu pai que o vento trouxe a
vagar, dos casos de outras eras que desandava a contar.
Gostava de ouvir
sua voz, com mundos a inventar, minha cabeça rodava de tudo que ia contar e
ainda hoje, quando para me sustentar, palavras no vento eu continuo a jogar.