Hoje é domingo e nesse momento ouvindo músicas de meditação
que ganhei de uma amiga tive uma vontade imensa de postar uma poesia do mestre
Fernando Pessoa que tanto gosto.
NÃO SEI QUANTAS ALMAS EU
TENHO
Não sei quantas almas eu
tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me
estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho
alma.
Quem tem alma não tem
calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e
vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho eu
desejo.
É do que nasce e não
meu.
Sou minha própria
paisagem;
Assisto à minha
passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde
estou.
Por isso, alheio, vou
lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não
prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “fui eu?”
Deus sabe porque
escreveu.
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