Ética significa sem rodeios ou
grandes dificuldades “estudo dos hábitos e de suas normas”. Na vida real, a
palavra ética surge quando nada mais se tem a dizer, e seu significado é quase
nulo. Em meio ao impasse da crença culturalista de que o mal em si não existe
porque tudo é construção social, portanto objeto de manipulação retórica e
midiática, vivemos a pulverização dos critérios de valor. O conflito entre
relativismo e universalismo ético sempre rasgou a reflexão filosófica desde o
emblemático embate socrático-sofista.
Os sofistas definiam a verdade como
o efeito da retórica de um indivíduo sobre outro e afirmavam ser o ser humano
“a medida de todas as coisas”. O filósofo via nisso uma raiz da barbárie: a
elevação da retórica ao nível de norma de construção social de valor que
implicaria no niilismo vulgar da sabedoria interesseira. Temos ai uma séria
dúvida quanto a viabilidade moral da democracia para além de um sistema que se
afoga na retórica.
Sócrates defendeu a busca de ideias
universais e racionais (o bem, a justiça, a sabedoria...), mesmo que essa busca
se definisse antes de tudo, pela consciência crescente de uma certa ignorância.
Devo ser capaz de reconhecer que quanto mais sei, mas sou capaz de perceber
quanto ainda preciso saber. A orientação ética é clara: superar a desordem de
um sistema baseado no somatório de opiniões superficiais e na racionalidade
interesseira. Em tempos atuais Sócrates continua mais necessário do que nunca.