As
minhas últimas aulas como professora foi na disciplina de Ética, o que para mim
foi de grande valia, porque a discussão sobre o assunto transcende os aspectos
puramente acadêmicos ou filosóficos e alcançam a vida pessoal. Um dos
principais textos que gostei de trabalhar foi A Condição Humana de Hannah Arendt que apresenta uma ética com
pressupostos ligados mais ao mundo, seu maior interesse, muito maior do que
qualquer inquietação com o espírito, ou com o ser em si.
Essa
ética não está centrada em elementos subjetivos, mas na política e no centro de
suas questões. Daí comungo com o pensamento dela, o que pode ser visto em
outros textos aqui no blog, de que a crítica da falência ética está centrada
contra a consagração do sujeito moderno e seu processo de alienação do mundo, a
ponto desse sujeito vir a ser somente mais um objeto passível de destruição.
Como
o mundo é condição da existência da condição humana é preciso que se tenha
cuidado com ele, é esse espaço em que o homem por meio de algumas atividades
condiciona a sua própria existência, sendo assim, tudo que adentra esse mundo,
ou por ele é trazido pelo esforço humano faz parte da condição humana.
O
bom do pensamento e da obra de Arendt é que ela nos apresenta uma ética que não
tem um modelo definido como na ética tradicional, é uma ética ativa em que o próprio
movimento se configura na referencia de como agir novamente. A prática (práxis)
é o que revela o conteúdo ético. Essa práxis é toda atividade que ao ser
executada é um fim em si mesma. O caráter político de sua ética é reafirmada
quando entende que transformações sociais só são feitas por muitos homens e
nunca por um só.
Como
esse pensamento de uma ética que pode ser mensurada na prática pode ser
materializada? Pode ser através das respostas as questões que surgem da
experiência cotidiana, do inesperado, do contingente que atuam em nossas vidas,
não poderiam ter um único sentido nem uma essência invariável que predetermina
o modo de agir, o ainda que existe o Bem
essencial, onde todas as ações deveriam convergir para esse fim. O que existe
são bens que surgem e se mostram a medida que os homes se movimentam em seus
espaços de mundo.
A
ética de Arendt apresenta uma proposta voltada não para o EU mas para o mundo. Sua
ética se forma a partir de uma prática referenciada pelo cuidado em relação ao
espaço que vivemos e compartilhamos com os outros, o qual garante nossa
dignidade como seres singulares. E nossa visão crítica dos hábitos e costumes
dos grupos sociais dos quais somos parte.