Comprei o Ser e o Nada de Sartre quando entrei
na faculdade de filosofia queria me inteirar do que se tratava e finalmente
entender o que era existencialismo. O livro foi lançado em 1943 em plena
Segunda Guerra Mundial, é volumoso, e sua leitura, pelo menos para mim, é densa
e difícil, mas, ao final é fundamental para entendimento desse posicionamento
filosófico. O existencialismo parte do principio de que a liberdade humana é a
essência de todas as coisas, o homem seria capaz de se fazer a si mesmo a
partir de suas escolhas.
O livro se
inicia tratando sobre a consciência humana afirmando que esta é relacionada a
algo exterior a ela própria. O homem é o grande elemento central de sua obra, e
para ele, é esse homem que é capaz de modificar as coisas, já que a existência precede a essência, e é aí
que reside a liberdade da natureza humana. Os outros seres são predeterminados,
o homem é livre, então o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo. Sendo
assim, o próprio homem decide o seu caminho, se decidir ser herói ou covarde
ele é o único responsável por esse ato praticado.
Sartre
defende a acusação de que o existencialismo seria pessimista afirmando que
seria uma doutrina otimista, pois nela está inserida o destino do homem. O
homem existe, se descobre, aparece no mundo, só depois ele se define, sendo
assim, o único fundamento de ser é a liberdade. O homem escolhe os seus projetos usando de sua liberdade e os seus valores, esses valores serão criados a
partir das escolhas por ele feita, de onde não tem como fugir.
Essa liberdade é diferente da liberdade
do humanismo que está relacionada a livre arbítrio, fazer ou não fazer, a
liberdade sartreana é a capacidade do
sujeito encaminhar o que será de sua vida responsabilizando-o pelos seus atos. A
liberdade do existencialismo apresenta limitações impostas pela sociedade e
suas regras as quais devemos nos submeter e é devido a essa submissão que as
vezes o homem entra em conflito com o meio social em que vive.
Ao colocar o homem como responsável por
sua existência, Sartre afirma ser um existencialista ateu, desse modo conclui
que não há uma natureza humana e que não há um Deus para originá-la. Entendo que
aqui o que Sartre pretende é que independente de Deus existir ou não, nada
poderá livra-lo de si próprio, nem mesmo a concretude de Deus.
Toda a proposta apresentada por Sartre
nessa obra é muito forte, e tive a sensação de que não sabemos exatamente quem
somos, falta o ser, vivemos num
caminho de contentamento com nossas ações fragmentadas, ao ponto de ser quase
insuficiente a criação de uma identidade definitiva e autônoma. Lendo Sartre
sinto um mal estar inquietando o meu ser, capaz de provocar minha existência, e
consumir ilusões e crenças de que somos sustentáculo, da identidade, do nome, do
título, da profissão e tudo o mais que seja capaz de levar a esperança vazia de
ser humano, de ser Deus.