Sempre li que Romance
da Pedra do Reino era a obra magistral do paraibano Ariano Suassuna,
trata-se de uma produção quase épica sobre o sertão e o nordeste brasileiro que
só é possível conhecer a sua dimensão após a leitura. O Auto da Compadecida é a sua obra mais conhecida e está marcada pelo
assassinato do seu pai em 1930, então governador do Estado da Paraíba.
Romance da Pedra do
Reino, é uma obra extensa com mais de 700 páginas, complexa, híbrida que
não cabe em classificações limitadoras. Para Suassuna, essa obra é um romance
picaresco. Ao longo da narrativa há epopeia, poesia, romance de cavalaria, e
mais outras formas que indicam lembrança tradição e vivência que sinaliza uma
integração do popular ao erudito, com toque pessoal de originalidade e improvisação.
Me arrisco a dizer que se trata da nossa epopeia épica,
sertaneja, mestiça, criada por um escritor nordestino. Uma projeção profética e
simbólica do futuro do tempo de agora, a expectativa messiânica de redenção dos
mais pobres. A historia é contada pelo cronista-fidalgo-Rapsodo-Acadêmico e
poeta escrivão Dom Pedro Diniz Ferreira Quaderna, ilustre descendente de Dom
João Ferreira Quaderna, ou Dom João o execrável. Semelhante a uma narrativa
policial, pelo tom do crime e o tom de mistério, o romance epopeia é formado
por cinco livros, dividido em folhetos, que mostra como o protagonista foi
parar na prisão.
O protagonista é um herói que após perder a integridade
afasta-se dos outros para então viver uma série de aventuras e, assim, lutar
para rever sua identidade. O enredo mistura a realidade do mágico e leva ao
Nordeste, um espírito medieval, explícito no domínio da piedade, nas santas que
aparecem para interceder, nas entidades que veem assassinatos em tocaias e se
tornam outros personagens.
Assisti uma palestra de Ariano Suassuna aqui na cidade
que moro, a algum tempo, sua postura é de alguém comprometido com a cultura
nacional, tanto que fundou no Recife, em 1970, o movimento Armorial, cuja
proposta era realizar uma arte brasileira erudita com base em raízes populares
e da cultura do país. Muito desse princípio está implícito em Pedra do Reino
onde há uma notável intertextualidade com autores da literatura local e
elementos característicos regionais, perceptíveis inclusive nos seus aspectos
linguísticos.
Livro indispensável para nos aproximar da busca de uma
cultura que seja nossa, autentica, que dê sentido aos nossos costumes enquanto
povo pertencentes a nação brasileira e sobretudo, nordestina. Grande Ariano
Suassuna!
Explanação autentica, convidou o leitor de modo bem sutil ...Deu até vontade de ler.
ResponderExcluirObrigada Felipe, leia vale conhecer!!
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