Desde o início do blog quando me
propus a escrever sobre músicas e cantores que eu gosto numa opinião
absolutamente pessoal, pensei em falar sobre Chico Buarque minha primeira e
grande paixão musical. Chico para mim sempre foi tão grande que nunca soube por
onde começar esse texto. Hoje no seu aniversário de 70 anos resolvi falar sobre
o que considero que ele fez muito bem, que foi fazer música para as mulheres,
assumindo um lirismo doce e feminino.
A primeira música em que ele deu voz
a mulher foi na primeira pessoa com “Com Açúcar com Afeto”, em 1966 encomendada
por Nara Leão. A letra fala da mulher submissa que com amor e paciência espera
o marido em casa. É bem verdade que na família enquanto crescia Chico conviveu
mais com mulheres do que com homens. Chico nunca aceitou o lugar comum de que
conhece bem a alma feminina, para ele o ser mulher é um grande mistério.
Mas ele é um mestre na dificílima
tarefa- de sendo homem- criar músicas que só ganham significado quando cantadas
por mulheres, são aquelas que trazem tão forte a maneira feminina de viver as
grandezas e torturas do amor apaixonado. A canção “Olhos nos Olhos”
interpretada por Maria Betânia tornou-se um grande sucesso popular. Chico
consegue tocar em regiões tão doloridas e sensíveis das pessoas com tal talento
e delicadeza que o gosto amargo se dissolve em pura poesia.
Poetas e escritores tem a capacidade
de representar aquilo que não vivenciaram. Chico imaginou o trabalhador sem
perspectivas de “Cotidiano” ou o operário desesperançado de “Construção” sem
nunca ter sido uma coisa nem outra. Retratou a morena de Angola sem jamais
tê-la visto. Assim descreveu tudo o que uma mulher sente ao ser abandonada em
“Olhos nos Olhos” ou em “Atrás da Porta”, e carregou na tinta da emoção ao
falar como a mãe pobre e ingênua do marginal de “O Meu Guri”. Grande Chico!