Vocês já devem ter ouvido falar em
Ulisses, o herói da Odisseia. É
aquele sujeito que depois da Guerra de Troia passou dez anos tentando voltar
para casa. Não foi fácil. Ele teve de enfrentar um ciclope queijeiro e antropófago,
um bando de sereias psicopatas e uma bruxa que, só de implicância, queria
transforma-lo num porco. Sem falar, que foi obrigado a ser amante de uma ninfa
por sete longos anos.
Sempre lembro de Ulisses quando
tento fazer um programa cultural. No cinema preciso enfrentar o cheiro de
pipoca com manteiga. Em concertos as pessoas que falam em voz alta. No teatro a
peça, muitas vezes tediosa. E em todos os lugares tenho que enfrentar os
flanelinhas. Os flanelinhas são muito piores que os ciclopes queijeiros e
antropófagos.
Em seus poemas Homero repete 873
vezes que Ulisses tinha mil estratagemas para enfrentar seus obstáculos. Eu
tenho apenas um penso nos bons tempos de outrora. Me imagino caminhando pelas
cidades que admiro, passeando pelos períodos mais gloriosos da humanidade. Como
a magistral Roma Antiga. É para lá que eu vou quando o cheiro de pipoca com
manteiga tenta dominar minha alma ou quando alguém começa a falar no celular no
meio da execução musical.
Também costumo dá uma passada na
Londres do século 18, com os teatros cheios. Com as pessoas que não gostavam
das peças e jogavam laranjas nos atores. E quando volto, percebo que o cinema e o
teatro hoje são mais toleráveis, chego mesmo a achar que estou num lugar
civilizado.