A década de 1930, assistiu no Brasil
a construção de uma nova identidade nacional, onde elementos das camadas
populares foram incorporados a ela. A construção dessa identidade tinha como
agente o Estado e diversos elementos sociais. Carmen Miranda foi o maior ídolo
popular da época e a cantora mais famosa daqueles tempos, chegando a
representar o Brasil no exterior.
O desenvolvimento do rádio como novo
meio de comunicação foi fundamental na construção dessa nova identidade. Antes
de ser a baiana, sua imagem pública suas canções traziam o modelo de uma mulher
bem sucedida, batalhadora, bela, sedutora. Na música as Cantoras do Rádio, essas mulheres eram as matriarcas que uniam o
país de norte a sul.
Carmen em suas canções popularizava
a nação e vivenciava as narrativas de suas canções. Resumia a imagem que se
queria da capital brasileira: Rio lindo
sonho de fadas. Noites sempre estreladas e praias azuis. Rainha branca do
samba, em suas canções a natureza era personificada bem como as cidades e as
grandes massas populares.
A
baiana foi sua marca mais forte, Em 1939, num momento fortemente
influenciado pela aversão estatal à figura do malandro, foi gravada “O que é
que a baiana tem”. É um samba típico baiano de Dorival Caymmi, que, além de
compositor, também a ajudou a montar o figurino de baiana e participou da
gravação da música para o filme “Banana da Terra”.
CM: O que é que a baiana tem?
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Tem torso de seda, tem (tem)
Tem brinco de ouro, tem (tem)
Corrente de ouro tem (tem)
Tem pano da Costa, tem (tem)
Tem bata rendada, tem (tem)
Pulseira de ouro tem (tem)
Tem saia engomada, tem (tem)
Tem sandália enfeitada, tem (tem)
E tem graça como ninguém
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Como ela requebra bem
(...)
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Um rosário de ouro
Uma bolota assim
Ai, quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim
Oi, quem não tem balangandãs
A cantora mais famosa do Brasil, identificada com o
Rio de Janeiro, nessa música passava a se apresentar vestida com os trajes
típicos das negras da Bahia. Na verdade, a imagem de baiana construída por
Carmen não foi uma cópia fiel das baianas que vendiam comidas em Salvador. Ela
selecionou alguns elementos dos trajes dessas baianas e acrescentou outros. Foi
algo muito chocante para a época: uma cantora que sempre havia se vestido
dentro das tendências da moda urbana do Rio de Janeiro, nesse momento construiu
um figurino totalmente distinto. Mais impressionante ainda foi o resultado
disso.
Carmen
teve um claro feeling para se tornar “mais brasileira”, ou seja, mais
aceita pelo imaginário nacional, a figura da baiana. A baiana, como o próprio
nome diz, não deixou de ser uma figura regional, mas as alterações feitas pela
cantora deram a ela a possibilidade de, além disso, também ser nacional. Seu
papel ultrapassava a bela voz e o requebrado e ajudavam a consolidar a imagem
cultural que temos do Brasil.