O Mal Estar na Civilização (1930) de Sigmund Freud é um texto muito
curioso no percurso freudiano foi escrito em 1929 e publicado no ano seguinte,
no momento de crise da Bolsa de Nova York em que o mundo passava por um
processo de recessão e parece que ele já estava sentindo o que estava por vir
(ascensão do nazismo e da Segunda Guerra Mundial). É um livro que ele transfere
as questões da metapsicologia sobre o indivíduo para o social. Ele vai tentar
entender com o social os mesmos conceitos que ele trabalhou com o indivíduo,
enquanto sujeito dividido com questões de vida e questões de morte. Ele vai
tentar entender o social a partir da divisão entre amor e agressividade.
Uma
das primeiras perguntas colocadas no livro é o que querem os humanos? O
entendimento seria que os humanos querem ser felizes, mas, tudo conspira para a
infelicidade que provém de três fontes: primeiro a natureza é sempre mais
poderosa do que o sujeito; segundo a decadência do corpo, somos mortais,
adoecemos e envelhecemos; a terceira fonte seria a responsável de fato pelo mal
estar da civilização que é o convívio com o meu semelhante, é o fato do sujeito
ter que viver e dividir esse mundo com os outros.
O
ser humano vive um paradoxo sozinho ele não sobrevive. Foi esse ser humano que
criou a civilização, foi ele que decidiu se juntar aos outros para melhor
dominar a natureza, para que o trabalho rendesse mais. O interessante, é que ele não suporta o que ele mesmo criou, a civilização, a família, a
sociedade, o Estado. Para ele, nós humanos sofremos com aquilo que criamos.
Freud
vai dizer que o homem moderno trocou o seu desejo de felicidade por aceitar não
ser infeliz. É a ideia de que não há ganho sem perda, fio condutor de toda
teoria analítica freudiana. Mas cada qual vai encontrar esse caminho como pode,
uns viram emérita, outros se misturam na massa é esse equilíbrio que se busca para o que seja mais próximo da felicidade, já que para esta não existe modelo
universal.
Freud
retoma o entendimento de Hobbes de que o homem é o lobo do homem, ao dizer que
os humanos têm uma agressividade inata, que não a usamos somente para nos
defender quando somos agredidos, mas a agressividade está no cerne do nosso
desejo e dá prazer ao ser humano. Essa agressividade se reflete na violência
sexual; na exploração do trabalho; na exploração política; nas ditaduras; nas
guerras; na violência social. Temos essa agressividade independente do estágio
social a que chegarmos faz parte da nossa essência enquanto humanos. Conhecer
essa essência humana permitiu a Freud dizer que não acreditava que a abolição
da propriedade privada pela Revolução Russa fosse capaz de abolir a violência
humana e a agressividade. a história provou que ele tinha razão.
Não
é um texto fácil de ser aceito porque acaba com qualquer possibilidade de
harmonia entre o homens e entre o homem consigo mesmo. O ser humano iria
suprimir essa destruição através do complexo de culpa e do superego. A
violência que ele gostaria de cometer contra o outro vai acabar sendo contra si
mesmo. E assim, Freud descontroi a certeza linear da modernidade.