O potiguar Luís
da Câmara cascudo (1898-1986), foi um intelectual na acepção mais
profunda do que a palavra possa significar. Sua produção se deu em múltiplos
gêneros da escrita (crônica, ensaio, monografia e livros de viagem) e em
diferentes campos do conhecimento (história, estudos literários e etnografia,
para ficar restrito aos mais marcantes). Seus estudos operam permanentemente
uma mistura de conquistas que são o melhor de sua produção.
Cascudo
publicou seu primeiro livro aos 23 anos, mas já escrevia em jornais desde os 16
anos. Seu trabalho de etnógrafo se misturava com o de memorialista (escritor) e
com a tarefa de crítico literário. Para ele sem memória não há saber nem
racional nem sensível. O estudioso da sociedade é escritor e memorialista.
Considerava a poesia com rima e ritmos importantes porque ajuda na preservação
da memória, apoiada na transmissão oral. Escrever sobre poesia e cultura
popular tema recorrente em sua obra, é valorizar arquivos desse mundo.
O
melhor de seu trabalho é que ele rouba de si por meio de literatura que ele mesmo
produz esboços de memória metamorfoseadas em fragmentos de interpretações, com
compreensões da história voltadas para o cotidiano numa época que não era
usuais esse tipo de análise. Ele foi um pioneiro brasileiro na valorização da literatura oral e da
cultura popular. Professor da UFRN, foi responsável por diferentes frentes
culturais no Rio Grande do Norte (docência no Atheneu, publicações de incentivo
a produção literária e musical).
Câmara
Cascudo se definiu como incurável provinciano. Até era. Mais sua vida e sua obra
demonstram que província e mundo não se constituem em instâncias isoladas. Ele
conseguiu dialogar com os poetas orais nordestinos, mas também se manifestou na
fina análise em diálogos com Dante, Cervantes, Descartes, Montaigne e tantos
mais.
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