Acredito que a rebeldia tem um
conteúdo dramático fundamental porque possibilita que um personagem supere seus
limites e lute contra forças superiores estabelecidas. O destino, o poder, as
normas do seu tempo, a própria morte. Selecionei quatro personagens que
considero símbolos da contestação.
Antígona (Sófocles, 442 a.C.)- encarna o mito da
rebeldia da pólis grega. Para ela não há escolha possível não há escolha
possível: sua ação (sepultar o corpo do irmão contra a ordem do rei) é justa e
necessária. Não admite submeter a sua ética a leis injustas, resta a ela se
rebelar em sacrifício.
Julieta
(Shakespeare, 1597)- é capaz
das maiores transgressões pela paixão. Contraria os pais e recusa-se a casar
com seu primo Teobaldo. Apesar da guerra ente as duas famílias une-se a Romeu
em segredo. Mesmo com o fim trágico não deixou de viver sua paixão.
Santa
Joana dos Matadouros
(Bertolt Brecht, 1932)- Joana é uma líder proletária de uma revolta de
trabalhadores dos matadouros, mas tem uma fragilidade no fundo acredita que
todo homem é bom. Seduzida pelo patrão acredita que pode converte-lo, não
consegue levar uma mensagem às outras fábricas. Por sua culpa a greve geral
naufraga. Joana a partir de sua contradição, toma consciência do seu erro na
hora da morte.
Geni (Toda Nudez Será Castigada, Nelson
Rodrigues, 1965)- traz em si os dois arquétipos da mulher rodriguiana: a santa
e a prostituta. Sua rebeldia está na síntese destes opostos. Geni é a
prostituta que se apaixona por Herculano, mas não aceita ser amante dele exigindo casamento.