Ontem
fui à farmácia, vi um cartaz bem interessante. Uma mulher nua em tamanho
natural entre as gôndolas da farmácia. A imagem não choca os compradores, nem
as compradoras de aspirina, em seu corpo há pequenos botões que reproduzem um
sofá capitonê, ela é metade mulher, metade objeto. Daí pensei deixar de ser
pessoa é muito fácil. Biografias, amores, medos, conquistas profissionais, nada
garante acesso permanente a categoria de pessoas.
No
Segundo Sexo Simone de Beauvoir já
tinha nos avisado que não se nasce mulher, torna-se. Mas eram perigos mais
abstratos que a preocupavam. Para tornar-se e manter-se mulher hoje é
necessário, antes ou no mínimo, ser jovem, ou parecer jovem. E para isso existem
botox, fios, incisões, cânulas, sugadores. Existem cirurgiões, dermatologistas,
nutricionistas, preparadores físicos, massagistas e um público ávido por isso.
Todas
queremos, é claro, ser jovens e bonitinhas. E todas somos pessoas não importa
se velhas ou feias, mas há quem não saiba disso. Algumas se orientam por
cartazes de farmácia ou por uma infinidade de assuntos semelhantes que se
perdem no caminho. Há histórias drásticas de mulheres que não conseguiram
enxergar a imagem completa e se tornaram só uma parte dela. Pernas, bundas,
bocas ou olhos azuis.
São
tempos passivos em matéria de reivindicação da mulher. É significativo que uma
mensagem publicitária se permita espetar botões de estofado num corpo feminino.
Talvez não fosse tão tranquilo tratar assim o corpo de um gay ou de um negro.
As voltas com reclamações urgentes não tem a mesma paciência com brincadeiras
de mau gosto e não se deixam desrespeitar com tanta docilidade. Nossas
ancestrais feministas, como Simone de Beauvoir, nos anos 40, Betty Friedman,
nos anos 50, Carmen da Silva, nos anos 60, Gloria Steinman, nos anos 70, só
para ficar apenas nas clássicas, mereciam um público mais grato a seus
esforços.
A história mostra que os padrões de beleza e seus sacrifícios femininos sempre existiram..mas acredito que hoje a situação fugiu do controle e tange à insanidade. .as mulheres apelando a inúmeras intervenções cirúrgicas em busca de um modelo plastificado. .mais próximo possível da boneca Barbie.
ResponderExcluir