Acho que passei a vida toda lendo,
vendo filmes ou peças de teatro do poeta inglês William Shakespeare. Fiz uma
seleção que obedece absolutamente minhas preferências pessoais e impressões de
toda uma vida, sobre os seus melhores textos.
Hamlet- é a peça
mais moderna ou premonitória de Shakespeare, com seu herói pré-edipiano
indeciso entre cumprir a obrigação atávica de vingar o pai e matar quem tomou
seu lugar, o do pai e o dele, na cama da mãe, ou ouvir sua consciência. Um
texto entre o conflito entre as razões de sangue e a própria razão. Sempre
achei que a figura mais trágica da peça não é Hamlet tragado pelo passado pelo
clamor da vingança do pai, mas Laerte irmão de Ofélia, que pensa ter escapado
das desgraças e intrigas das cortes de Elsinore- isto é, o passado e é obrigado
a voltar também para ser destruído. O protótipo de todo jovem que quer se
livrar da família e de seus rituais de sangue e quer e inventar uma vida
própria, mas não consegue porque leva o sangue junto.
Ricardo III-
Shakespeare criou alguns ótimos vilões que celebram ou se encantam com sua
própria vilania. Ricardo é o primeiro personagem totalmente cínico da
literatura mundial. Ricardo se congratulando, deslumbrado por ter conseguido seduzir
a viúva do homem, que mandou matar com o corpo dele ainda quente, é não apenas
um ode ao cinismo mas uma rapsódia ao poder e ao sortilégio e as palavras bem
ditas.
Antônio e Cleópatra-
é a peça mais poética do inglês, embora trate do amor de personagens tão
obcecados pelo poder quanto um pelo outro. No texto Cleópatra prevê que o amor
dos dois será representado em algum lugar fétido, diante de uma plateia
irrequieta, e que o papel será feito por um rapaz de fala fina, conforme o
costume do malcheiroso teatro elisabetano. Uma metalinguagem que o mestre se
permitiu.
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