Acho que passei a vida toda lendo,
vendo filmes ou peças de teatro do poeta inglês William Shakespeare. Fiz uma
seleção que obedece absolutamente minhas preferências pessoais e impressões de
toda uma vida, sobre os seus melhores textos.
RESENHAS DE LIVROS. CRÍTICAS DE FILMES. ANÁLISE DE ARTE. TEXTOS SOCIOLÓGICOS, FILOSÓFICOS E MUITO MAIS!
terça-feira, 29 de julho de 2014
GOLPES DE MESTRE: OS MELHORES TEXTOS DE SHAKESPEARE
domingo, 27 de julho de 2014
RAÍZES DA VIOLÊNCIA
No imaginário coletivo, a imagem do
brasileiro cordial remete a figuras idealizadas: paz e solidariedade. Nada mais
distante de nossa realidade histórica. E nada mais avesso a visão de Sérgio
Buarque de Holanda, pensador que resistiu como poucos a nossa prodigiosa
autoindulgência, mantendo acessa a verve crítica. Em Raízes do Brasil, que
neste ano completa 78 anos de publicação. O brasileiro seria cordial porque é
avesso a formalidade, aos ritos de sociabilidade, aos limites, a disciplina das
regras e dos princípios abstratos.
A natureza do brasileiro induziria a
expansão dos sentimentos, estendendo as lealdades privadas à esfera pública. Essa
hipótese interpretativa ainda seria aplicável ao Brasil contemporâneo? De que
modo esse debate nos ajudaria a compreender a violência brasileira hoje? Um
jovem estudante que aprende na escola que vive num país democrático e vai a
casa onde sua mãe trabalha sem carteira assinada, usa o elevador de serviço e
não tem hora certa para sair se sente confuso. Sua mãe é considerada parte da
família que trabalha e mesmo sem direitos trabalhistas é ajudada pela patroa
quando passa por situações difíceis, mas nada lhe é garantido.
Sai o salario, entra a ajuda; sai a
negociação entra o pedido; sai o contrato fica a palavra. Nosso problema hoje,
não reside propriamente na cordialidade; a raiz da nossa violência patológica
reside na dualidade, na ambivalência, na dupla mensagem. Hoje o capitalismo
avançado convive com o patrimonialismo tradicional. No campo dos mais
favorecidos pode-se jogar segundo conveniência da ocasião com os dois modelos.
Nas classes populares pode-se também jogar com esse dois modelos, um dos
resultado desse jogo conduz a violência que enseja um individualismo
predatório, sem culpas e freios. Embora a violência não seja patrimônio das
classes populares, a corrupção tem se mostrando o braço mais extenso da nossa
violência.
Buarque nos deu régua e compasso por
isso não acho possível analisar a intensidade da violência brasileira sem
penetrar no espírito de seus agentes. As personalidades extraordinariamente violentas
e corruptas que povoam o Brasil são uma resposta a esquizofrênica ambiguidade a
que são submetidas, afinal a dupla mensagem causa um desequilíbrio considerável.
sábado, 26 de julho de 2014
MULHER OBJETO
Ontem
fui à farmácia, vi um cartaz bem interessante. Uma mulher nua em tamanho
natural entre as gôndolas da farmácia. A imagem não choca os compradores, nem
as compradoras de aspirina, em seu corpo há pequenos botões que reproduzem um
sofá capitonê, ela é metade mulher, metade objeto. Daí pensei deixar de ser
pessoa é muito fácil. Biografias, amores, medos, conquistas profissionais, nada
garante acesso permanente a categoria de pessoas.
No
Segundo Sexo Simone de Beauvoir já
tinha nos avisado que não se nasce mulher, torna-se. Mas eram perigos mais
abstratos que a preocupavam. Para tornar-se e manter-se mulher hoje é
necessário, antes ou no mínimo, ser jovem, ou parecer jovem. E para isso existem
botox, fios, incisões, cânulas, sugadores. Existem cirurgiões, dermatologistas,
nutricionistas, preparadores físicos, massagistas e um público ávido por isso.
Todas
queremos, é claro, ser jovens e bonitinhas. E todas somos pessoas não importa
se velhas ou feias, mas há quem não saiba disso. Algumas se orientam por
cartazes de farmácia ou por uma infinidade de assuntos semelhantes que se
perdem no caminho. Há histórias drásticas de mulheres que não conseguiram
enxergar a imagem completa e se tornaram só uma parte dela. Pernas, bundas,
bocas ou olhos azuis.
São
tempos passivos em matéria de reivindicação da mulher. É significativo que uma
mensagem publicitária se permita espetar botões de estofado num corpo feminino.
Talvez não fosse tão tranquilo tratar assim o corpo de um gay ou de um negro.
As voltas com reclamações urgentes não tem a mesma paciência com brincadeiras
de mau gosto e não se deixam desrespeitar com tanta docilidade. Nossas
ancestrais feministas, como Simone de Beauvoir, nos anos 40, Betty Friedman,
nos anos 50, Carmen da Silva, nos anos 60, Gloria Steinman, nos anos 70, só
para ficar apenas nas clássicas, mereciam um público mais grato a seus
esforços.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
NARA LEÃO INTERPRETAÇÃO APURADA E OUSADIA MUSICAL
Nara Leão foi considerada musa da
Bossa Nova, sua interpretação da música A Banda é magistral. Tinha de 14 para
15 anos quando o apartamento de seus pais na Avenida Atlântica, em Copacabana
no Rio de Janeiro, virou ponto de encontro dos amigos, todos mais velhos que
ela que passavam as noites tocando violão, compondo e conversando sobre música.
Sylvia Teles, Roberto Menescal, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli eram uns dos
frequentadores mais assíduos das famosas reuniões. Pelas quais também passavam
Tom Jobim e João Gilberto. Tudo isso quando a Bossa Nova começava a nascer.
Nara Leão não foi musa apenas da
Bossa Nova, foi uma artista que marcou a música brasileira. Foi musa da música
de protesto e da tropicália. E essa é uma das suas características mais
marcantes, já que passou 20 anos cantando quando era, na verdade soprano: a de
não se prender a formato algum. Em 1966, rompeu com a Bossa Nova, período que
coincidiu com o fim do seu noivado traumático com Ronaldo Bôscoli.
Nara Leão foi uma das grandes
mulheres do cenário artístico nacional. Fez o que quis da sua vida, da maneira
que quis, com ferrenha dedicação em tudo. Deixou a carreira de lado para se
dedicar a maternidade, escolheu seus relacionamentos a dedo, fez todos os
discos que teve vontade, mesmo indo contra a corrente, lançou moda, atacou a
ditadura, estudou psicologia. Cantou samba, Bossa Nova, cantigas de roda,
chorinho, música popular, americanas, música de seresta, protesto e até música
dançante. Lutou como pode por sua independência, pelos seus ideais e pela vida,
a única batalha que não conseguiu vencer, vencida por um câncer em 1986.
segunda-feira, 21 de julho de 2014
A ARTE DO ESQUECIMENTO
Se procurarmos o significado da
palavra memória encontraremos que se trata de uma faculdade que retém
conhecimentos e experiências passadas. Esquecimento por oposição é a
incapacidade de reter informações, com um certo descontrole. Por causa da nossa
necessidade de controle acabamos valorizando mais as lembranças do que os
esquecimentos. Uma agenda de esquecimento seria um empreendimento paradoxal,
pois o esquecimento não permite listas, planos, ou cronogramas. Por que então
querer esquecer?
A vantagem de olhar para o passado é
a oportunidade de compreender e experimentar esse passado como nosso. Em geral
tendemos a olhar para a história como um processo onde não temos nenhuma
participação. Olhar para o passado nos ajuda a lembrar que somos também a nossa
história. Isso só é ruim quando feito de forma excessiva. Supervalorizar a
memória pode, às vezes, significar falta de perspectivas para o futuro. Para o
futuro se realizar é preciso as vezes esquecer o passado. O esquecimento é condição
de possibilidade de tudo o que é grande, saudável e nobre no homem.
Saber selecionar o que deve ser
esquecido para poder se concentrar no que pode ser realizado, eis o segredo das
grandes ações humanas. Parece que nossa época está sofrendo de um excesso de
sentido histórico de um exercício desmedido de memória. Um homem que nunca
esquecesse ficaria doente e enfraquecido. Esquecer não significa simplesmente
apagar da mente e da vista, mas ter a força de recriar a memória de reinventa-la,
libertando-se das interpretações oficiais e canônicas e partindo para a
criação. A memória pode até ajudar a conservar a vida, mas só o esquecimento
pode contribuir com a sua regeneração.
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