Se procurarmos o significado da
palavra memória encontraremos que se trata de uma faculdade que retém
conhecimentos e experiências passadas. Esquecimento por oposição é a
incapacidade de reter informações, com um certo descontrole. Por causa da nossa
necessidade de controle acabamos valorizando mais as lembranças do que os
esquecimentos. Uma agenda de esquecimento seria um empreendimento paradoxal,
pois o esquecimento não permite listas, planos, ou cronogramas. Por que então
querer esquecer?
A vantagem de olhar para o passado é
a oportunidade de compreender e experimentar esse passado como nosso. Em geral
tendemos a olhar para a história como um processo onde não temos nenhuma
participação. Olhar para o passado nos ajuda a lembrar que somos também a nossa
história. Isso só é ruim quando feito de forma excessiva. Supervalorizar a
memória pode, às vezes, significar falta de perspectivas para o futuro. Para o
futuro se realizar é preciso as vezes esquecer o passado. O esquecimento é condição
de possibilidade de tudo o que é grande, saudável e nobre no homem.
Saber selecionar o que deve ser
esquecido para poder se concentrar no que pode ser realizado, eis o segredo das
grandes ações humanas. Parece que nossa época está sofrendo de um excesso de
sentido histórico de um exercício desmedido de memória. Um homem que nunca
esquecesse ficaria doente e enfraquecido. Esquecer não significa simplesmente
apagar da mente e da vista, mas ter a força de recriar a memória de reinventa-la,
libertando-se das interpretações oficiais e canônicas e partindo para a
criação. A memória pode até ajudar a conservar a vida, mas só o esquecimento
pode contribuir com a sua regeneração.