Minha
história com os livros sempre foi uma história de amor, lembro que quando
estava na faculdade tinha uma banca com uma vendedora que expunha e vendia
livros, aquilo para mim era o melhor lugar da Universidade e perco as contas de
quantas vezes me ausentei das aulas para ficar naquele espaço e conhecer as novidades técnicas e literárias.
Numa dessas visitas lembro de uma colega falando que tinha em casa a História da Loucura de Michel Foucault,
depois disso, trabalhei com Foucault durante o mestrado e em minha trajetória
como professora, conheci vários textos, mas só li História da Loucura esse ano, dez anos após ter terminado a
graduação.
Ler
a obra é revolucionar nosso olhar sobre a loucura, e as relações entre razão e
desrazão como paradigmas do pensamento ocidental. O livro dialoga com as mais
diferentes áreas de conhecimento como história, filosofia, psicologia, medicina,
psiquiatria, psicanálise, a literatura e as ciências humanas em geral. O
interessante é que Michel Foucault é um crítico mordaz do cientificismo puro e
do academicismo e nesse ponto, me encontro totalmente afinada com o seu
pensamento. Além de ter sido militante político e defender o direito dos
loucos, prisioneiros e homossexuais.
A
obra nos permite pensar a questão da loucura sob um outro prisma, que abala as
estruturas tradicionais do racionalismo moderno, aquele que se encontra
sacralizado no pensamento ocidental como sendo a verdade absoluta. Ele revira
nossas tradições, nossos modos de existência. Publicado em 1961 como tese de
doutorado do autor o seu texto continua atual.
História
da Loucura, realiza uma investigação das diferentes formas de percepção da
loucura, no período compreendido entre o Renascimento e a Modernidade. Antes do
século XVII a loucura tinha uma outra percepção social, após esse período foi
introduzida a prática de exclusão como necessidade de ordenação do espaço
público. O interessante é que ele mostra que a psiquiatria desde o seu
nascimento sempre teve em crise, pelo menos no que está relacionado a cientificidade
e a neutralidade.
O
grande mérito da obra é nos permitir escapar da definição da loucura como
doença mental, percebendo o processo de constituição desta como uma
construção através de uma análise histórica sobre a medicalização e
psiquiatrização da sociedade. Após História da Loucura é possível e real, a
negação para o internamento e isolamento do paciente com doenças mentais. Além
de nos fazer refletir que tratamento damos para o
diferente na nossa sociedade?
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