Estreou
no Fantástico da TV Globo uma série baseada na obra de Clarice Lispector quando
esta escrevia a coluna Correio Feminino, publicada na imprensa brasileira nos
anos 1950 e 1960. Daí me questionei sobre duas questões fundamentais: até que
ponto as questões do universo feminino estão resolvidas, como a identidade no
casamento, nessa contemporaneidade de
aberturas e permissividades? O que era ser mulher no período em que Clarice
escreveu a coluna?
Os
anos 1950 foram uma época de prosperidade e relativa paz mundial, apesar da divisão do mundo entre as superpotências político-militares: Estados Unidos e União
Soviética. São características dessa época melhores condições de habitação, de
comunicação, a busca pelo novo, pelo conforto e a consolidação da sociedade de consumo. O Brasil era governado por Juscelino
Kubitschek, as cidades estavam mais urbanas e a Televisão e o Rádio davam uma
outro formato a imprensa.
Em
sua aparência física a mulher viveu a era da feminilidade, com roupas de cintura
marcada, sapatos altos, o uso de luvas e assessórios luxuosos como pérolas e
peles. A beleza e o uso de cosméticos se tornaram importantes, com o auge das
tinturas para o cabelo. Os ícones de elegância e feminilidade foram Grace Kelly
e Audrey Hepburn, já em beleza, eram imbatíveis Marilyn Monroe e Brigitte
Bardot. Foi o apogeu da alta costura, do salto agulha e do uso do rabo de
cavalo.
A
televisão foi introduzida nos lares, e as pessoas puderam ver a vida dos ricos
e famosos como o casamento de Grace Kelly com o príncipe Rainier de Mônaco. Foi
o período da tradição por excelência, as pessoas casavam cedo, e além de bela a
mulher deveria ser boa dona de casa, boa esposa e boa mãe. Na tarefa de dona de
casa era auxiliada pela introdução dos eletrodomésticos, como a máquina de lavar
e o aspirador de pó.
A
responsabilidade de preservar o lar, era inteiramente da mulher, pois ela, era
o reflexo do trabalho do seu marido. As mulheres eram educadas para ser boas
esposas, o que significava ser recatada e com bons modos. Geralmente as
mulheres tinham um mundo que se resumia a casa, idas a costureira, casa de
amigas e longa espera pela chegada do marido do trabalho. A mulher devia
respeito ao nome do pai e do marido e a fidelidade era essencial, além de se
relacionar com questões religiosas, reflexo de um lar decente.
Considero
que hoje as mulheres ainda são cobradas sendo responsáveis, em sua maioria,
pela casa, pelo marido e pela educação dos filhos. Mas diferente das mulheres
dos anos 1950, as mulheres saíram de casa, foram para o
mercado de trabalho, invadiram as universidades, assumiram tarefas que tantos
duvidavam que elas seriam capazes de realizar. Além disso, fizeram uma
revolução dentro de casa: diminuíram o número de filhos e mudaram radicalmente
o papel pré-definido para elas ao longo de séculos. Nada foi fácil, nada foi
sem dor ou dúvida. Mas, persiste o desafio como
equilibrar uma vida conjugal longeva com esse novo papel de mulher?
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