Já
disse em vários momentos aqui no blog, que sou como dizem hoje, retrô por
excelência, foi antigo, de outra geração, já me interessa, imagine se houver a
combinação entre cinema e produção nacional antiga, é a maravilha. Vi no You tube o filme Entrei de Gaiato de 1959, uma chanchada (gênero de comédia nacional) passando
por musicais com cantores da época como Moacir Franco, Linda Batista e Emilinha
Borba.
Os
atores principais são os comediantes Zé Trindade e Dercy Gonçalves, que
interpretam seus papéis sem grandes esforços. O que me impressiona é o enredo
construído com base na esperteza, malandragem e perspicácia do famoso jeitinho
brasileiro, onde os vigaristas Dercy e Trindade tentam se hospedando num hotel
de luxo, aplicar golpes, para se dá bem e sair da situação de penúria em que
vivem. O filme hoje parece mais ingênuo e infantil do que nunca, o pano de
fundo é o carnaval do Rio e a mudança da Capital para Brasília, como pode ser
visto na música interpretada por Grande Otelo Maria Brasília.
Na
verdade, o filme, faz uma sátira a situação da época o governo JK e a corrupção
da construção de Brasília quando o Coronel JJ (Zé Trindade) aparece no hotel
com uma mala cheia de tijolos, e ainda diz aqui
tem mais tijolo que a construção de Brasília. O que fica claro são as
mudanças da época num mundo de transição entre a morte de Getúlio, o Governo de
JK e a construção do modo de produção capitalista brasileiro.
O
humor apresenta-se com uma função social notável como instrumento de crítica
política na história, como manifestação da nossa cultura de massa dos anos JK.
A comédia musicada carioca, principalmente através das marchinhas carnavalescas
e sambas de todos os tipos, mostra que para que todo esse humor e crítica ser
possível havia liberdade de expressão no Governo JK, possível para as estripulias
de Dercy Gonçalves e Zé Trindade.