domingo, 10 de novembro de 2013

O LEGENDÁRIO COLE PORTER





            Conheci as músicas de Cole Porter por influência de uma colega da época do mestrado, no início não conseguia compreender a grandiosidade do seu trabalho, mas com aprofundamento é possível diferenciar, conhecer e sobretudo, apreciar seu estilo que é composto por letras sofisticadas, ritmos inteligentes e formas complexas. Suas melhores canções viraram clássicos e possuem reconhecimento de alta relevância como I love Paris, que notadamente, gosto da intepretação da cantora Maysa, Anything goes e a magistral Night and day.


            Cole Porter (1891-1964), é americano e foi iniciado na música por sua mãe, estudou em Yale e vinha de família abastada. Em seu tempo não era preciso apenas, ter dinheiro ou entender e se comportar de acordo com as etiquetas sociais, era preciso talento e o seu espumava como champanhe. Nos anos 1930 e 40, escreveu letras e músicas para a Broadway e Hollywood, das quais pelo menos cem atravessaram o século e me dão a impressão de estarem tão classudas e inteligentes quanto o dia que sairão do piano de Cole.


            Uma produção sobre sua vida que causa satisfação é o filme De Lovely : as vidas e os amores de Cole Porter (2004), além de ser o musical mais charmoso e melhor produzido dos últimos tempos, é a biografia musical desse grande artista um dos maiores do século XX. É mostrado o lado mais problemático de sua vida, com os excessos e o os problemas conjugais com sua esposa Linda. O interessante é que as pessoas que fazem parte de sua vida se transformam em personagens através de flash backs feitos pelo músico.



            O que mais gosto desse filme é a trilha sonora que  é maravilhosa, o clássico night and day na voz de Bono do U2 foi muito bem regravado. Para a nossa época contemporânea, e para mim em especial fico admirada com a quantidade de cigarros que aparece no filme. Mas o ponto alto da trama é o relacionamento de Porter com sua esposa Linda, ela tem tanta admiração pelo marido que perdoa seus excessos e dedica a vida a ele. Linda era de uma das famílias mais ricas dos EUA, foi a primeira mulher de seu meio social a cortar os cabelos curtos e pinta-los. Os dois permanecem juntos por 34 anos.


            Acredito que o filme De Lovely foi realizado entre outras coisas, para apresentar o legado de Porter as novas gerações. Quando vejo o seu fim, após a morte de Linda sozinho e melancólico penso: quem havia inspirado tantas pessoas acaba por perder sua essência e inspiração. Tenho certeza que vale a pena assistir mais de uma vez esse filme para poder ouvir suas músicas e saber um pouco mais sobre sua vida. E por fim relembro o grande jornalista Paulo Francis quando dizia: Ruim não é morrer, é não poder mais ouvir Cole Porter.

sábado, 9 de novembro de 2013

A OUSADIA DE DAVID BOWIE



Existem alguns artistas que tem a capacidade de nos remeter a elementos recônditos do nosso psique como a curiosidade, a atenção, e a sensação de se está diante de um bom trabalho. David Bowie (1947), faz para mim parte desse time, quando vejo os seus clipes e escuto sua música me questiono, como ele consegue ser atual em tempos de bisbilhotice exacerbada da internet?


Ele começou sua carreira nos anos 1960, cantando rock e é considerado um dos mais importantes artistas da música pop de todos os tempos. Nos anos 1970 quando começou a ficar famoso, começou a encarnar o clichê do camaleão, e, é possível vê-lo com trajes de inspiração eduardiana, languidamente estendido num divã. Ele é o tipo de artista de quem sempre é possível esperar uma novidade, nos anos 1980 antecipou-se a moda e lançou música dance, assim como, nos anos 1990 lançou música eletrônica, e agora lança a pré venda do seu disco através do I tunes.


Mas Bowie não é somente interessante pela sua vanguarda ou irreverência, sua música é boa. Ele faz boas letras e boas canções. Meu disco preferido dele é Pin Ups de 1973, que aparece na capa com a modelo Twiggy, é o disco mais rock dele, e o que mais rápido vendeu na Inglaterra, é uma seleção de covers de suas canções preferidas da década de 1960. Sua vida é marcada pela invenção contínua e pela forte apresentação visual, é considerado como grande influenciador de artistas, da libertação gay e da nova juventude independente.


Quem o conhece vale a pena ouvir sempre, que não o conhece, convido a conhece-lo, pois é um artista capaz de transformar suas aspirações e seus problemas pessoais em cultura popular, como podemos ouvir nos versos de Space Oddity. 

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

PENSANDO A HISTÓRIA DA BELEZA DE UMBERTO ECO



História da beleza de Umberto Eco, é daqueles livros que quando lançado se torna automaticamente objeto de desejo para leitores vorazes e amantes de livros como eu. Seja bela sua bela edição, com imagens memoráveis, seja pelo feito de levar erudição a leitores comuns. São 400 páginas de ideias, textos históricos e ilustrações. O que realmente me cativou por desejar tanto e comprar a obra, é a erudição de Eco conhecido por livros como O Nome da Rosa, consegue aqui, ser erudito sem ser pedante.


O autor percorre a linha da história para falar sobre beleza, indo por Grécia e Roma Antiga, Idade Média e Renascimento, passando pela estética vitoriana do século XIX. O livro se apoia em textos de notáveis como Eric Hobsbawm, Dante, Kant, Hegel e Kafka. Lendo o texto me senti fazendo uma viagem pela história do homem, da arte e sobretudo do olhar que se tem da estética, que é a apuração da ideia de beleza.


A obra anima um espírito que me agrada de sobremaneira, é entender que a beleza não é um dado absoluto, mas uma variante histórica, geográfica e cultural. Daí ser traçada essa linha que explica a beleza que vai da antiguidade, a sociedade de consumo do século XX.


Mas, observando História da Beleza, apesar de Eco, não o considerar assim, tenho a impressão que estou diante de um livro de arte, ou um livro de que tem como interlocutores os estudiosos da arte. E acho que peca, por não situar as citações que apresenta em seus contextos culturais e historiográficos.


O argumento que ele apresenta é de fácil compreensão, não será o mundo que a beleza tomará como modelo, nem tampouco o homem tal como se situa nesse mundo, mas sim, o homem cria o belo a imagem e semelhança a forma como vê e se representa. É nesse sentido que a beleza é um elemento da história, pois é um entendimento do homem consigo mesmo.


Em sua análise da contemporaneidade, podemos dizer que este carrega nas tintas do romantismo, ao ver nosso tempo, como simples regeneração e corrupção de um passado que antes era maravilhoso, pois a beleza hoje, é degenerada e prostituída, sendo considerada pelas campanhas publicitárias, tanto a beleza nórdica de Claudia Schiffer, quanto a beleza de origem afro de Naomi Campbell. Numa única campanha publicitária é possível se reunir o universo oitocentista e elementos de ficção científica.


Não obstante as limitações metodológicas, História da beleza reúne em si, pelas gravuras, imagens e textos que apresenta, a materialização do belo e como diz o próprio Eco o belo é aquilo que agrada de maneira desinteressada, aquilo que provoca prazer aos nossos sentidos, deve ser por isso, que é tão prazerosa a experiência com este livro, que chega a ser uma aventura intelectual, apaixonante e emotiva. 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

OS ANOS 1800 NO BRASIL E A INVENÇÃO DA FOTOGRAFIA



            Quando chegou a terras brasileiras, o engenhoso instrumento de Daguerre, causava admiração a facilidade com que se obtinha, se conservava e se mantinha a imagem. A necessidade por uma experiência visual era uma constante, numa sociedade em que a maioria era analfabeta tal artifício possibilitaria um conhecimento mais rápido, mais generalizado, possibilitando também que os grupos pudessem se auto representar.


            A fotografia que se ambicionava era a de paisagem, e está se aproximava aos cânones da pintura romântica. A partir de 1862, os fotógrafos do Império participaram de exposições universais e receberam prêmios. Foi o período da pose por excelência, os preços da fotografia eram módicos e um trabalhador poderia tirar uma foto no centro do Rio de Janeiro.


            No Brasil ganhou grande público a foto pintura que fornecia um ar aristocrático a fotografia e a aproximava da pintura a óleo. Fazia sucesso também os retratos em porcelana, que era dado a parentes e amigos como lembranças da pessoa retratada. As idas ao fotógrafo não era frequente iam-se geralmente de uma a duas vezes por ano.


            Nenhuma família se interessou tanto por fotografia quanto a imperial, D. Pedro II é citado como grande incentivador da fotografia. As fotografias pertencentes a família imperial, incluem uma gama variada de temas: desde os retratados posados mais formais, passando pelas imagens do cotidiano e indo até a acontecimentos formais do Império.


            Além da família imperial, a clientela dos estúdios era formada pela classe senhorial agrária e pela população urbana, enriquecida pelo comércio e serviços prestados a burocracia imperial. Uma das imagens mais comuns retratadas nessa época que chegaram até nós é a de escravos que era produzida dentro e fora dos seus ateliês. Os escravos apareciam em atividades cotidianas, encenadas no estúdio do fotógrafo, em outras, pousavam em trajes bem cuidados as mulheres com turbantes e os homens de terno, sempre descalços, marca indelével da escravidão.


            Encontramos registros fotográficos que recriam com precisão o cotidiano da sociedade da época como vendedores ambulantes em sua maioria negras, de frutas, doces e fazendas. A reprodução do trabalho das fazendas ficou conhecido internacionalmente, com reprodução do trabalho em fazendas de café, amas de leite, vestidas com elegância com a criança nos braços e negros idosos com o aspecto cansado por não terem sido donos da própria vida. O interessante é como a retratação em preto e branco expressa a melancolia e a riqueza desse período, mostrando como a fotografia é importante para notificar a cara de uma sociedade.