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quarta-feira, 18 de junho de 2014

AH, OS BONS TEMPOS DE OUTRORA


            Vocês já devem ter ouvido falar em Ulisses, o herói da Odisseia. É aquele sujeito que depois da Guerra de Troia passou dez anos tentando voltar para casa. Não foi fácil. Ele teve de enfrentar um ciclope queijeiro e antropófago, um bando de sereias psicopatas e uma bruxa que, só de implicância, queria transforma-lo num porco. Sem falar, que foi obrigado a ser amante de uma ninfa por sete longos anos.



            Sempre lembro de Ulisses quando tento fazer um programa cultural. No cinema preciso enfrentar o cheiro de pipoca com manteiga. Em concertos as pessoas que falam em voz alta. No teatro a peça, muitas vezes tediosa. E em todos os lugares tenho que enfrentar os flanelinhas. Os flanelinhas são muito piores que os ciclopes queijeiros e antropófagos.



            Em seus poemas Homero repete 873 vezes que Ulisses tinha mil estratagemas para enfrentar seus obstáculos. Eu tenho apenas um penso nos bons tempos de outrora. Me imagino caminhando pelas cidades que admiro, passeando pelos períodos mais gloriosos da humanidade. Como a magistral Roma Antiga. É para lá que eu vou quando o cheiro de pipoca com manteiga tenta dominar minha alma ou quando alguém começa a falar no celular no meio da execução musical.




            Também costumo dá uma passada na Londres do século 18, com os teatros cheios. Com as pessoas que não gostavam das peças e jogavam laranjas nos atores. E quando volto, percebo que o cinema e o teatro hoje são mais toleráveis, chego mesmo a achar que estou num lugar civilizado.

segunda-feira, 3 de março de 2014

JOSEPHINE BAKER: A VÊNUS NEGRA


Os anos 1920 são para mim um período de admiração e curiosidade já falei outras vezes aqui no blog sobre essa época, há tempos vinha pensando em escrever um texto sobre Josephine Baker mulher ambivalente complexa e multifacetada. Grande estrela do período. Sem levantar bandeiras políticas ou se engajar no movimento de emancipação feminina, assumia um comportamento vanguardista. Seus biógrafos contam que era uma mulher de personalidade forte, dinâmica, extrovertida e desprovida de maiores pudores. Quando sentia atração por um homem, fazia sexo com ele.



Josephine Baker nasceu em 1906 nos Estados Unidos no Estado de Missouri. Filha de uma afro americana de descendência indígena e um músico negro passou a infância num ambiente de penúria. Foi garçonete e deixou sua terra natal com um grupo de artistas mambembes. Fez algumas apresentações americanas, passou por dificuldades financeiras e  na década de 1920 vai para Paris. Em 1925 a jovem sorridente e de olhos esbugalhados explodia no palco com uma energia vulcânica.



Vendo seus vídeos hoje para mim ainda parecem impactantes é uma mulher que mexe com as emoções explorando suas habilidades pantomímicas, fazia caretas, contorcia-se, remexia-se e gingava-se freneticamente de um lado para outro. Balançava as nádegas ao som sincopado do jazz e do Charleston, a mais nova sensação musical do momento. O interessante é que ao vê-la em cena as plateias francesas ficavam em estado de excitação, convictas que tinham encontrado algo novo, insólito, porém fascinante e hipnotizador. Ao que parece ela era o arquétipo de uma nova fantasia moderna, fonte de prazer, vitalidade, desprendimento e liberdade.



A performance de Baker nos palcos não passava silenciosa. Misto de teatro, dança e música, a linguagem artística de seus espetáculos fundia elementos corporais e sonoros afro, mas extremamente criativos e engenhosos. No final da década de 1920 o sucesso da Vênus Negra era engenhoso foram lançados perfumes, brilhantinas, roupas e bonecas com sua marca. Seu cabelo alisado e grudado a cabeça tournou-se a moda do momento entre as mulheres. Pela primeira passou a ser bonito substituir a brancura da pele pela aparência bronzeada.  




Foi uma dessas mulheres liberadas dos anos 1920 que não se submetia a códigos de conduta. Foi alvo de alvo de diversas polêmicas de natureza moral. Referência indiscutível do movimento artístico do século XX, o Modernismo, foi uma das mulheres mais cultuadas do período. Era sobretudo, um espírito iluminador, símbolo do cosmopolitismo artístico-cultural da vez. Ícone moderno, mulher enigmática e grande artista.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A HUMANIZAÇÃO


 Fiz uma visita a casa de uma amiga que tem crianças e vi o quanto que ser criança hoje é diferente de ser criança na minha época nos anos 1980. Os interesses as conversas e perspicácia e a abordagem são totalmente diferentes, ao que parece essas crianças de hoje são mais ativas do que os meus contemporâneos e têm uma visão mais detalhada do mundo. Penso que essa nova forma de pensar onde impera os elementos do mundo virtual foi construída para que as crianças também fizessem parte dessa nova lógica do capital.



homem não nasce homem, pois precisa da educação para se humanizar. Muitos são os exemplos dados por an­tropólogos e psicólogos a respeito de crianças que, ao crescerem longe do contato com seus semelhantes, perma­neceram como se fossem animais.



Na Alemanha, no século passado, foi encontrado um rapaz que crescera ab­solutamente isolado de todos. Kaspar Hauser, como ficou conhecido, perma­neceu escondido por razões não escla­recidas. Como ninguém o ensinara a fa­lar, só se tornou propriamente huma­no quando sua educação teve início. Nessa ocasião ficou constatado que pos­suía inteligência excepcional, até então obscurecida pelo abandono a que fora relegado.



Esse caso extremo serve para ilustrar o processo comum pelo qual ca­da criança recebe a tradição cultural, sempre mediada pelos outros homens, com os quais aprende os símbolos e torna-se capaz de agir e compreender a própria experiência. A linguagem simbólica e o trabalho constituem, assim, os parâmetros mais importantes para distinguir o homem dos animais.



Não se pode dizer que o homem tem instintos como os dos animais, pois a consciência que tem de si próprio o orienta, por exemplo, para o controle da sexualidade e da agressividade, sub­metidas de início a normas e sanções da coletividade e posteriormente assu­midas pelo próprio indivíduo. O ho­mem foi "expulso do paraíso" a partir do momento em que deixou de se ins­talar na natureza da mesma forma que os animais ou as coisas.



Assim, o comportamento humano passa a ser avaliado pela ética, pela es­tética, pela religião ou pelo mito. Isso significa que os atos referentes à vida hu­mana são avaliados como bons ou maus, belos ou não, pecaminosos ou abençoa­dos por Deus, e assim por diante.



Uma coisa tenho por certa, o homem é o que a tradição cul­tural quer que ele seja e também a cons­tante tentativa de ruptura da tradição. Assim, a sociedade humana surge por­que o homem é um ser capaz de criar interdições, isto é, proibições, normas que definem o que pode e o que não pode ser feito. No entanto, o homem é também um ser capaz de transgressão. Transgredir é desobedecer. Não me re­firo apenas à desobediência co­mum, mas àquela que rejeita as fórmu­las antigas e ultrapassadas para insta­lar novas normas, mais adequadas às necessidades humanas diante dos pro­blemas colocados pelo existir. A capa­cidade inventiva do homem tende a de­salojá-lo do "já feito", em busca daqui­lo que "ainda não é". Portanto, o ho­mem é um ser da ambiguidade em cons­tante busca de si mesmo. 


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

TEATRO DE REVISTA NO BRASIL



            Dos vídeos do You tube estão entre os meus favoritos aqueles que trazem filmes com números do chamado Teatro de Revista, com artistas como Zé Trindade, Virgínia Lane, Renata Fronzzi, Emilinha Borba dentre outros. Os filmes são dos anos 1950, e estão enquadrados no gênero das chamadas chanchadas, filmes carnavalescos comuns nesse período produzidos pela Atlântica a mais famosa produtora carioca da época, com enredos simples, populares que em sua maioria parodiavam sucessos do cinema americano com o popular Teatro de Revista.


            O Teatro de Revista buscava a interação com o público era uma revisão de costumes em que se ironizava e se sondava a alma brasileira. No enredo via-se sempre alguém perdido, perseguido. Os personagens parecem caricaturas, alegorias, com atores que tenham um caráter de improvisação, espontânea, como Oscarito e Grande Otelo, Dercy Gonçalves e Zé Trindade. À este ator cabia, dançar, cantar, possuir o tempo da comédia e a agilidade do improviso.



            Mas a grande atração eram as atrizes que cantavam, dançavam e rebolavam dentro de seus maiôs, com uma sensualidade provocativa numa sociedade que ainda se via pudica, mas que a olhos contemporâneos, chega a parecer inocente. Chamadas de vedetes, receberam influencia francesa, o que pode ser visto com as plumas, o sotaque francês e a bossa como um todo, isso deslumbrou o povo, esse teatro foi se transformando até adquirir características nacionais peculiares que culminam no que pode se definir como uma identidade genuinamente brasileira do gênero.

Para ser vedete, era preciso ser bonita e escultural, e representava na Revista, o último número do espetáculo, era a apoteose. Em 1950, Virginia Lane recebeu do Presidente Vargas o título A Vedete do Brasil, era tão fantástica que nem ele resistiu aos seus apelos, mantendo com ele um discreto caso amoroso por 15 anos. Fez 37 filmes durante sua carreira, hoje sua indefectível apresentação de Sassaricando chega a ser cult. Outras famosas da época foram: Renata Fronzzi, Elvira Pagã e nos anos 1940 Luz del Fogo, primeira naturista brasileira.

A vida particular das vedetes era o que causava interesse e aumentava o seu sucesso, Elvira Pagã, no início da década de 1950 na praia de Copacabana foi a criadora do biquíni, exalava sexualidade e enlouquecia a constante plateia feminina. Era manchete permanente de escândalos, a bomba que escandalizava a preconceituosa sociedade da época. Chegou a ser impedida de entrar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, frequentado pela alta sociedade da época.

Gosto de ver os vídeos porque considero que é a melhor forma artística que representou a ideia que o Brasil tinha de si, onde é possível reconhecer a sociedade brasileira nos palcos e traçar uma identidade cultural do país. O interessante é que não se abdicava em suas apresentações do olhar crítico e irônico dos acontecimentos sociais da época. Eram produções recheadas de humor e duplo sentido, apesar de ser um gênero marginalizado, considerado menor, enriqueceram a produção nacional e dialogaram muito bem com o mundo de então.