sábado, 30 de novembro de 2013

GASTRONOMIA UMA ARTE COMPARTILHADA




Essa semana lendo sobre arte vi que muitos consideram que a arte precisa simplesmente existir independente das pessoas entenderem ou não. Daí me questionei que com a gastronomia é exatamente o contrário, seja aonde for, o mais importante é saber que existe um público interessado naquilo que você vai fazer, afinal, ninguém gosta de cozinhar para si mesmo e não ter com quem partilhar o que foi produzido.


Encontrei uma definição de gastronomia no livro do chefe brasileiro Alex Atala que diz que o trabalho do cozinheiro é levar a matéria prima ao seu auge, daí ser tão importante ter alguém para apreciar e qualificar o que foi produzido. Imagine o sentimento de solidão que deve ser um restaurante vazio sem clientes, um bolo de chocolate sem entusiasmo de crianças e uma feijoada sem a alegria dos amigos.


Mas nada substitui o prazer e o talento para cozinhar. É possível sim agradar a maioria das pessoas que comem a sua comida. Ingredientes de qualidade, manipulados com respeito com técnicas corretas apresentados de forma harmoniosa com alguma criatividade são os elementos da fórmula mágica do sucesso.


Se existem pessoas que não compreender a arte de produzir alimentos, elas estão em toda parte, e quanto a isso não há muita coisa a ser feita. Mas nada pode atrapalhar o prazer de ir ao mercado, escolher os alimentos, de preferencia frescos e inovar mudando as receitas canônicas. Para mim, cozinhar é uma forma diferente de amar os outros e a cozinha a arte de dá felicidade as pessoas. 

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

QUANDO LI Paris é uma Festa DE ERNEST HEMINGWAY



            Esse livro é de uma beleza sem igual, primeiro porque é o relato da Cidade de Paris em todo o seu esplendor, depois porque é situada nos anos 1920 período do desabrochar das mudanças e transformações do mundo moderno, além do inegável caráter autobiográfico, do escrito americano Ernest Hemingway. Na época Hem como era chamado pelos mais íntimos buscava em Paris um ambiente favorável aos intelectuais e artistas. Acompanhado de sua esposa Hadley, já escrevia e procurava se adaptar a um ambiente intelectualizado. O livro foi publicado postumamente e isso o torna ainda mais especial.


            Paris se torna quase palpável aos nossos olhos após a leitura da obra, ele traça os caminhos por onde andou, as ruas que caminhava, os cafés que frequentava e os amigos com quem convivia. É o charme da vida boemia em que Hemingway era capaz de deixar de comer, mas não de tomar um vinho. Quando sentava num café, poderia deixar render toda manhã só para poder observar a irresistível Paris dos anos 1920 e escrever o que quisesse sem normas ou qualquer regra.


            A leitura é cativante, trata-se de uma espécie de diário descontínuo, os cafés que ele convivia era frequentado por grandes nomes da arte do período como: Scott Fitzgerald e Gertrude Stein, pessoas que Hemingway revela detalhes indiscretos de suas vidas. O bom do livro é mostrar o homem por traz do escritor, aquele que frequentava cafés em meio a amigos, vinhos e caderninhos de nota de capa azul para anotar as ideias que fervilhavam.


             A leitura de Paris é uma Festa pode ser uma porta de entrada para outros textos do Hemingway, além de ser uma fotografia minuciosa da Paris dos anos 1920. Uma coisa é certa, conhecer Paris todos nós podemos, mas uma cidade em que conviviam as maiores cabeças da arte do século XX e ainda nos dá a sensação de fazer parte dessa turma só Hemingway é capaz. Digo sem exagero minha vida ficou mais bonita após viajar com ele de mãos dadas por esse período. Se você quando jovem teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

VINÍCIUS DE MORAES 100 ANOS DE POESIA





            Gosto de Vinícius desde sempre é daquelas paixões antigas que não lembro como começou nem porque começou. Escuto suas músicas quando estou triste e quando estou feliz, seu lirismo preenche o meu ser, me acalma, me dá a sensação de que sou acolhida, que tudo sempre vai ficar bem, já li sua atuação como diplomata, suas poesias e suas críticas de cinema, assim como, as suas histórias de amor. Vinícius é tão grande para mim, que desde outubro último quando ele faria cem anos que questionava como iria escrever algo sobre ele. Tive uma ideia, revi o documentário sobre ele para poder sistematizar linearmente seu percurso de uma vida bem vivida.


            Vi o filme Vinícius (2005) de Miguel Faria Júnior, logo no lançamento e lembro que quando fui entrando no cinema o cartaz já me contagiou com a citação  em que dizia: quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores. Vinícius foi um ser humano multifacetado: poeta, dramaturgo, diplomata, jornalista, cantor, compositor, crítico de cinema e sobretudo, apaixonado pelas mulheres, acredito ser daí que reside o seu charme imortal. O filme recorda as inúmeras histórias que parentes e amigos tem para contar do poetinha.


            Foi elaborado uma excelente pesquisa de imagens de arquivo desse que é um dos mais intrigantes personagens da cena brasileira. O elenco traz vários entrevistados que a época da Bossa Nova e dos Afro sambas eram somente uma turma que cantava e tocava diferente, hoje são os grandes nomes da MPB. Um dos depoimentos que mais gosto é do Chico Buarque, porque é feliz, sentido, entre os muitos sorrisos ao falar do amigo, do parceiro musical; Maria Betânia lembra quando apresentou a amiga Gessy a ele, que se apaixonou a primeira vista por aquela que viria ser a esposa de número sete, responsável por leva-lo a praia de Itapuã. Os demais amigos o recordam com o mesmo bom humor que tinha em vida.


            Com interpretações de canções e poesias suas, ele é invocado por meio de sua obra, o grande mérito do filme é trazer de volta a vida esse personagem que asperge uma brasilidade e uma paixão muito intensa. O documentário, toca em algumas feridas principalmente na fala das filhas deixando a cargo do expectador vê-lo como: beberrão, ou boêmio, apaixonado ou mulherengo, mais do que isso o filme mantem viva sua memória.


            Para mim ele traz alegria e tudo fica melhor quando escuto os versos é melhor ser alegre que ser triste, assim como, não há dor de amor que não seja amenizada no que não seja imortal, posto que é chama mais que seja infinito enquanto dure, estando perto de sua obra lembro que o nosso objetivo maior aqui é a felicidade que para Vinícius era uma gota de orvalho num pétala de flor e que a vida deveria ser muito bem vivida já que a vida não é brincadeira, amigo; 
a vida é arte do encontro
; embora haja tanto desencontro pela vida.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O SURREALISMO DE BUÑUEL EM UM CÃO ANDALUZ



Conhecia Um Cão Andaluz (1929) de Luiz Buñuel da maioria dos manuais especializados em cinema, além da associação do nome de Salvador Dali. Partindo de uma linguagem vanguardista de superação dos moldes clássicos da arte, o filme cria uma realidade não tangível aquela que engloba o mundo exterior e interior, sintetizando todos os aspectos da existência humana. O filme não se faz de imagens fantásticas nem de cenários artificiais, o trabalho das imagens é feito com base na recriação da realidade absoluta.



O cinema surrealista de Um Cão Andaluz trabalha bem a ideia de aproximação de imagens aparentemente inconciliáveis, funda-se imagens de objetos cuja significância aparentemente não se assemelham como os pelos da axila de uma mulher e um ouriço, porém relacionam-se pela forma que se apresentam como um formigueiro saindo da mão de um homem. Talvez tente passar a ideia de que a multidão curiosa é como um formigueiro na rotina das ruas.



O filme mostra também fatos irrealizáveis na vida cotidiana: a mulher que tem o olho cortado, aparece oito anos depois, sem nenhuma marca; o ciclista que havia se acidentado e desaparecido aparece depois na casa da mulher; isso mostra que o cinema surrealista, ultrapassa a linguagem tangível. Uma outra noção que é ultrapassada é a de espaço como a mulher que sai direto do cômodo de sua casa para uma praia. Para mim a cena que mais carrega nas tintas do simbolismo e da metáfora, é a do homem puxando arreios presos a dois padres e dois pianos de calda cada um com um jumento morto em cima após acariciar os seios da mulher, o que lembra a culpa sentida pelo fato.



Mas a grande sacada do filme é tratar da reprodução da lógica dos sonhos e do funcionamento da mente humana, não há necessidade de mensuração de tempo e de espaço. O que importa não é o ambiente onde a ação se constitui, mas a ação em si. Acho que o filme trabalha com a ideia de um espectador que deseja uma linearidade, aquele espectador acostumado ao cinema tradicional, com um nexo causal e lógico entre as cenas.


Como o sonho o filme nega essa linearidade, pois para a proposta surrealista que Buñuel e Dali apresentam a arte que se deixa seduzir aos apelos da clareza, acaba por subestimar a inteligência do espectador. Buñuel quando lançou o filme esperava a plateia com um balde cheio de pedras, caso o filme fosse mal recebido, e disse que não aceitaria nenhuma imagem que pudesse se prestar a uma explicação racional, a regra era subverter, por isso que acredito ser o tipo de filme que é preciso ver, para se tirar conclusões particulares sobre o que é apresentado.