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segunda-feira, 16 de junho de 2014

A ÉTICA SOCRÁTICA NOS TEMPOS ATUAIS


            Ética significa sem rodeios ou grandes dificuldades “estudo dos hábitos e de suas normas”. Na vida real, a palavra ética surge quando nada mais se tem a dizer, e seu significado é quase nulo. Em meio ao impasse da crença culturalista de que o mal em si não existe porque tudo é construção social, portanto objeto de manipulação retórica e midiática, vivemos a pulverização dos critérios de valor. O conflito entre relativismo e universalismo ético sempre rasgou a reflexão filosófica desde o emblemático embate socrático-sofista.



            Os sofistas definiam a verdade como o efeito da retórica de um indivíduo sobre outro e afirmavam ser o ser humano “a medida de todas as coisas”. O filósofo via nisso uma raiz da barbárie: a elevação da retórica ao nível de norma de construção social de valor que implicaria no niilismo vulgar da sabedoria interesseira. Temos ai uma séria dúvida quanto a viabilidade moral da democracia para além de um sistema que se afoga na retórica.




            Sócrates defendeu a busca de ideias universais e racionais (o bem, a justiça, a sabedoria...), mesmo que essa busca se definisse antes de tudo, pela consciência crescente de uma certa ignorância. Devo ser capaz de reconhecer que quanto mais sei, mas sou capaz de perceber quanto ainda preciso saber. A orientação ética é clara: superar a desordem de um sistema baseado no somatório de opiniões superficiais e na racionalidade interesseira. Em tempos atuais Sócrates continua mais necessário do que nunca. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A HUMANIZAÇÃO


 Fiz uma visita a casa de uma amiga que tem crianças e vi o quanto que ser criança hoje é diferente de ser criança na minha época nos anos 1980. Os interesses as conversas e perspicácia e a abordagem são totalmente diferentes, ao que parece essas crianças de hoje são mais ativas do que os meus contemporâneos e têm uma visão mais detalhada do mundo. Penso que essa nova forma de pensar onde impera os elementos do mundo virtual foi construída para que as crianças também fizessem parte dessa nova lógica do capital.



homem não nasce homem, pois precisa da educação para se humanizar. Muitos são os exemplos dados por an­tropólogos e psicólogos a respeito de crianças que, ao crescerem longe do contato com seus semelhantes, perma­neceram como se fossem animais.



Na Alemanha, no século passado, foi encontrado um rapaz que crescera ab­solutamente isolado de todos. Kaspar Hauser, como ficou conhecido, perma­neceu escondido por razões não escla­recidas. Como ninguém o ensinara a fa­lar, só se tornou propriamente huma­no quando sua educação teve início. Nessa ocasião ficou constatado que pos­suía inteligência excepcional, até então obscurecida pelo abandono a que fora relegado.



Esse caso extremo serve para ilustrar o processo comum pelo qual ca­da criança recebe a tradição cultural, sempre mediada pelos outros homens, com os quais aprende os símbolos e torna-se capaz de agir e compreender a própria experiência. A linguagem simbólica e o trabalho constituem, assim, os parâmetros mais importantes para distinguir o homem dos animais.



Não se pode dizer que o homem tem instintos como os dos animais, pois a consciência que tem de si próprio o orienta, por exemplo, para o controle da sexualidade e da agressividade, sub­metidas de início a normas e sanções da coletividade e posteriormente assu­midas pelo próprio indivíduo. O ho­mem foi "expulso do paraíso" a partir do momento em que deixou de se ins­talar na natureza da mesma forma que os animais ou as coisas.



Assim, o comportamento humano passa a ser avaliado pela ética, pela es­tética, pela religião ou pelo mito. Isso significa que os atos referentes à vida hu­mana são avaliados como bons ou maus, belos ou não, pecaminosos ou abençoa­dos por Deus, e assim por diante.



Uma coisa tenho por certa, o homem é o que a tradição cul­tural quer que ele seja e também a cons­tante tentativa de ruptura da tradição. Assim, a sociedade humana surge por­que o homem é um ser capaz de criar interdições, isto é, proibições, normas que definem o que pode e o que não pode ser feito. No entanto, o homem é também um ser capaz de transgressão. Transgredir é desobedecer. Não me re­firo apenas à desobediência co­mum, mas àquela que rejeita as fórmu­las antigas e ultrapassadas para insta­lar novas normas, mais adequadas às necessidades humanas diante dos pro­blemas colocados pelo existir. A capa­cidade inventiva do homem tende a de­salojá-lo do "já feito", em busca daqui­lo que "ainda não é". Portanto, o ho­mem é um ser da ambiguidade em cons­tante busca de si mesmo. 


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A ÉTICA EM HANNAH ARENDT



As minhas últimas aulas como professora foi na disciplina de Ética, o que para mim foi de grande valia, porque a discussão sobre o assunto transcende os aspectos puramente acadêmicos ou filosóficos e alcançam a vida pessoal. Um dos principais textos que  gostei de trabalhar foi A Condição Humana de Hannah Arendt que apresenta uma ética com pressupostos ligados mais ao mundo, seu maior interesse, muito maior do que qualquer inquietação com o espírito, ou com o ser em si.


Essa ética não está centrada em elementos subjetivos, mas na política e no centro de suas questões. Daí comungo com o pensamento dela, o que pode ser visto em outros textos aqui no blog, de que a crítica da falência ética está centrada contra a consagração do sujeito moderno e seu processo de alienação do mundo, a ponto desse sujeito vir a ser somente mais um objeto passível de destruição.


Como o mundo é condição da existência da condição humana é preciso que se tenha cuidado com ele, é esse espaço em que o homem por meio de algumas atividades condiciona a sua própria existência, sendo assim, tudo que adentra esse mundo, ou por ele é trazido pelo esforço humano faz parte da condição humana.


O bom do pensamento e da obra de Arendt é que ela nos apresenta uma ética que não tem um modelo definido como na ética tradicional, é uma ética ativa em que o próprio movimento se configura na referencia de como agir novamente. A prática (práxis) é o que revela o conteúdo ético. Essa práxis é toda atividade que ao ser executada é um fim em si mesma. O caráter político de sua ética é reafirmada quando entende que transformações sociais só são feitas por muitos homens e nunca por um só.


Como esse pensamento de uma ética que pode ser mensurada na prática pode ser materializada? Pode ser através das respostas as questões que surgem da experiência cotidiana, do inesperado, do contingente que atuam em nossas vidas, não poderiam ter um único sentido nem uma essência invariável que predetermina o modo de agir, o ainda que existe o Bem essencial, onde todas as ações deveriam convergir para esse fim. O que existe são bens que surgem e se mostram a medida que os homes se movimentam em seus espaços de mundo.


A ética de Arendt apresenta uma proposta voltada não para o EU mas para o mundo. Sua ética se forma a partir de uma prática referenciada pelo cuidado em relação ao espaço que vivemos e compartilhamos com os outros, o qual garante nossa dignidade como seres singulares. E nossa visão crítica dos hábitos e costumes dos grupos sociais dos quais somos parte.