Com tantas maneiras de se relacionar
nos dias de hoje o casamento parece um assunto fora de moda, então por que as
pessoas continuam a se casar? Dentro das histórias de vida de cada um todo ser humano
constrói o seu personagem, isso significa que nós escolhemos uma maneira pela
qual queremos ser vistos e acolhidos pelo nosso mundo.
Os personagens é que se casam. Existem
personagens generosos, doadores e são esses que permitem que se vejam a pessoa.
Existem os personagens dissimuladores que não permitem que se veja a pessoa,
quanto mais dissimuladores mas impraticável se torna o casamento. Dentro do
personagem que mostramos ao mundo habita o ser misterioso que é a pessoa que
nós somos.
Jamais o outro vai conhecer o
companheiro em sua totalidade assim como eu não me conheço completamente porque
se eu me conhecer completamente eu não preciso mais viver. Se eu conhecer o
outro completamente não terei mais expectativas em relação a ele. A vida é
feita da dinâmica das angústias. Nenhuma união se sustenta voltada somente para
atender os nossos interesses pessoais, porque união é dialogia de vida. União é
a iluminação do encontro pessoal que é algo que acontece no momento em que os
personagens generosamente vão mostrando as pessoas que os involucram.
O século XIX cunhou uma fórmula de
que homem é igual a produção que é igual a dinheiro. Sheller filosofo alemão,
chamou essa fórmula do desastre antropológico que nos veio do século XIX. Por
isso que na nossa sociedade de consumo as coisas valem cada vez mais e as
pessoas cada vez menos. O desvario individualista da sociedade de consumo é o
que mais compromete as uniões hoje em dia. Embora a sociedade não sobreviva sem
as estruturas familiares que hoje se fundamentam em casamentos formais ou
informais.
Nós, homens e mulheres da
contemporaneidade acabamos de uma forma ou de outra reproduzindo um conceito industrial,
que é o conceito de produto descartável e isso quando aplicado em nossas
relações interpessoais é lamentável. Vemos com muita frequência pessoas usando
as outras quando interessa e descartando quando não interessa mais.
Os personagens aprisionam de tal
forma as pessoas que há casamentos que são insustentáveis. É preciso descobrir
que vale a pena a inclusão que se faz no território do outro, o descobrimento
da mútua imperfeição num casal que se fingia perfeito durante o namoro. O
matrimônio é alguma coisa que exige compaixão, compassividade e doação. Compaixão
no sentido de sofrer com o outro ao ajuda-lo a superar suas dificuldades, não
apenas pelo pragmatismo de uma troca, mas pela alegria de ser alguém que é
importante para esse outro. Acredito que a grande política do casamento é que
cada um tenha que ceder um pouco para nenhum dos dois ter que ceder tudo.