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segunda-feira, 7 de julho de 2014

A FILOSOFIA DO CASAMENTO


            Com tantas maneiras de se relacionar nos dias de hoje o casamento parece um assunto fora de moda, então por que as pessoas continuam a se casar? Dentro das histórias de vida de cada um todo ser humano constrói o seu personagem, isso significa que nós escolhemos uma maneira pela qual queremos ser vistos e acolhidos pelo nosso mundo.


            Os personagens é que se casam. Existem personagens generosos, doadores e são esses que permitem que se vejam a pessoa. Existem os personagens dissimuladores que não permitem que se veja a pessoa, quanto mais dissimuladores mas impraticável se torna o casamento. Dentro do personagem que mostramos ao mundo habita o ser misterioso que é a pessoa que nós somos.


            Jamais o outro vai conhecer o companheiro em sua totalidade assim como eu não me conheço completamente porque se eu me conhecer completamente eu não preciso mais viver. Se eu conhecer o outro completamente não terei mais expectativas em relação a ele. A vida é feita da dinâmica das angústias. Nenhuma união se sustenta voltada somente para atender os nossos interesses pessoais, porque união é dialogia de vida. União é a iluminação do encontro pessoal que é algo que acontece no momento em que os personagens generosamente vão mostrando as pessoas que os involucram.


            O século XIX cunhou uma fórmula de que homem é igual a produção que é igual a dinheiro. Sheller filosofo alemão, chamou essa fórmula do desastre antropológico que nos veio do século XIX. Por isso que na nossa sociedade de consumo as coisas valem cada vez mais e as pessoas cada vez menos. O desvario individualista da sociedade de consumo é o que mais compromete as uniões hoje em dia. Embora a sociedade não sobreviva sem as estruturas familiares que hoje se fundamentam em casamentos formais ou informais.


            Nós, homens e mulheres da contemporaneidade acabamos de uma forma ou de outra reproduzindo um conceito industrial, que é o conceito de produto descartável e isso quando aplicado em nossas relações interpessoais é lamentável. Vemos com muita frequência pessoas usando as outras quando interessa e descartando quando não interessa mais.



            Os personagens aprisionam de tal forma as pessoas que há casamentos que são insustentáveis. É preciso descobrir que vale a pena a inclusão que se faz no território do outro, o descobrimento da mútua imperfeição num casal que se fingia perfeito durante o namoro. O matrimônio é alguma coisa que exige compaixão, compassividade e doação. Compaixão no sentido de sofrer com o outro ao ajuda-lo a superar suas dificuldades, não apenas pelo pragmatismo de uma troca, mas pela alegria de ser alguém que é importante para esse outro. Acredito que a grande política do casamento é que cada um tenha que ceder um pouco para nenhum dos dois ter que ceder tudo.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

AH, OS BONS TEMPOS DE OUTRORA


            Vocês já devem ter ouvido falar em Ulisses, o herói da Odisseia. É aquele sujeito que depois da Guerra de Troia passou dez anos tentando voltar para casa. Não foi fácil. Ele teve de enfrentar um ciclope queijeiro e antropófago, um bando de sereias psicopatas e uma bruxa que, só de implicância, queria transforma-lo num porco. Sem falar, que foi obrigado a ser amante de uma ninfa por sete longos anos.



            Sempre lembro de Ulisses quando tento fazer um programa cultural. No cinema preciso enfrentar o cheiro de pipoca com manteiga. Em concertos as pessoas que falam em voz alta. No teatro a peça, muitas vezes tediosa. E em todos os lugares tenho que enfrentar os flanelinhas. Os flanelinhas são muito piores que os ciclopes queijeiros e antropófagos.



            Em seus poemas Homero repete 873 vezes que Ulisses tinha mil estratagemas para enfrentar seus obstáculos. Eu tenho apenas um penso nos bons tempos de outrora. Me imagino caminhando pelas cidades que admiro, passeando pelos períodos mais gloriosos da humanidade. Como a magistral Roma Antiga. É para lá que eu vou quando o cheiro de pipoca com manteiga tenta dominar minha alma ou quando alguém começa a falar no celular no meio da execução musical.




            Também costumo dá uma passada na Londres do século 18, com os teatros cheios. Com as pessoas que não gostavam das peças e jogavam laranjas nos atores. E quando volto, percebo que o cinema e o teatro hoje são mais toleráveis, chego mesmo a achar que estou num lugar civilizado.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A HUMANIZAÇÃO


 Fiz uma visita a casa de uma amiga que tem crianças e vi o quanto que ser criança hoje é diferente de ser criança na minha época nos anos 1980. Os interesses as conversas e perspicácia e a abordagem são totalmente diferentes, ao que parece essas crianças de hoje são mais ativas do que os meus contemporâneos e têm uma visão mais detalhada do mundo. Penso que essa nova forma de pensar onde impera os elementos do mundo virtual foi construída para que as crianças também fizessem parte dessa nova lógica do capital.



homem não nasce homem, pois precisa da educação para se humanizar. Muitos são os exemplos dados por an­tropólogos e psicólogos a respeito de crianças que, ao crescerem longe do contato com seus semelhantes, perma­neceram como se fossem animais.



Na Alemanha, no século passado, foi encontrado um rapaz que crescera ab­solutamente isolado de todos. Kaspar Hauser, como ficou conhecido, perma­neceu escondido por razões não escla­recidas. Como ninguém o ensinara a fa­lar, só se tornou propriamente huma­no quando sua educação teve início. Nessa ocasião ficou constatado que pos­suía inteligência excepcional, até então obscurecida pelo abandono a que fora relegado.



Esse caso extremo serve para ilustrar o processo comum pelo qual ca­da criança recebe a tradição cultural, sempre mediada pelos outros homens, com os quais aprende os símbolos e torna-se capaz de agir e compreender a própria experiência. A linguagem simbólica e o trabalho constituem, assim, os parâmetros mais importantes para distinguir o homem dos animais.



Não se pode dizer que o homem tem instintos como os dos animais, pois a consciência que tem de si próprio o orienta, por exemplo, para o controle da sexualidade e da agressividade, sub­metidas de início a normas e sanções da coletividade e posteriormente assu­midas pelo próprio indivíduo. O ho­mem foi "expulso do paraíso" a partir do momento em que deixou de se ins­talar na natureza da mesma forma que os animais ou as coisas.



Assim, o comportamento humano passa a ser avaliado pela ética, pela es­tética, pela religião ou pelo mito. Isso significa que os atos referentes à vida hu­mana são avaliados como bons ou maus, belos ou não, pecaminosos ou abençoa­dos por Deus, e assim por diante.



Uma coisa tenho por certa, o homem é o que a tradição cul­tural quer que ele seja e também a cons­tante tentativa de ruptura da tradição. Assim, a sociedade humana surge por­que o homem é um ser capaz de criar interdições, isto é, proibições, normas que definem o que pode e o que não pode ser feito. No entanto, o homem é também um ser capaz de transgressão. Transgredir é desobedecer. Não me re­firo apenas à desobediência co­mum, mas àquela que rejeita as fórmu­las antigas e ultrapassadas para insta­lar novas normas, mais adequadas às necessidades humanas diante dos pro­blemas colocados pelo existir. A capa­cidade inventiva do homem tende a de­salojá-lo do "já feito", em busca daqui­lo que "ainda não é". Portanto, o ho­mem é um ser da ambiguidade em cons­tante busca de si mesmo.