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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

AS PERSONAGENS FEMININAS MAIS TRANSGRESSORAS DO TEATRO


            Acredito que a rebeldia tem um conteúdo dramático fundamental porque possibilita que um personagem supere seus limites e lute contra forças superiores estabelecidas. O destino, o poder, as normas do seu tempo, a própria morte. Selecionei quatro personagens que considero símbolos da contestação.


Antígona (Sófocles, 442 a.C.)- encarna o mito da rebeldia da pólis grega. Para ela não há escolha possível não há escolha possível: sua ação (sepultar o corpo do irmão contra a ordem do rei) é justa e necessária. Não admite submeter a sua ética a leis injustas, resta a ela se rebelar em sacrifício.


Julieta (Shakespeare, 1597)- é capaz das maiores transgressões pela paixão. Contraria os pais e recusa-se a casar com seu primo Teobaldo. Apesar da guerra ente as duas famílias une-se a Romeu em segredo. Mesmo com o fim trágico não deixou de viver sua paixão.



Santa Joana dos Matadouros (Bertolt Brecht, 1932)- Joana é uma líder proletária de uma revolta de trabalhadores dos matadouros, mas tem uma fragilidade no fundo acredita que todo homem é bom. Seduzida pelo patrão acredita que pode converte-lo, não consegue levar uma mensagem às outras fábricas. Por sua culpa a greve geral naufraga. Joana a partir de sua contradição, toma consciência do seu erro na hora da morte.



Geni (Toda Nudez Será Castigada, Nelson Rodrigues, 1965)- traz em si os dois arquétipos da mulher rodriguiana: a santa e a prostituta. Sua rebeldia está na síntese destes opostos. Geni é a prostituta que se apaixona por Herculano, mas não aceita ser amante dele  exigindo casamento.

sábado, 26 de julho de 2014

MULHER OBJETO


Ontem fui à farmácia, vi um cartaz bem interessante. Uma mulher nua em tamanho natural entre as gôndolas da farmácia. A imagem não choca os compradores, nem as compradoras de aspirina, em seu corpo há pequenos botões que reproduzem um sofá capitonê, ela é metade mulher, metade objeto. Daí pensei deixar de ser pessoa é muito fácil. Biografias, amores, medos, conquistas profissionais, nada garante acesso permanente a categoria de pessoas.



No Segundo Sexo Simone de Beauvoir já tinha nos avisado que não se nasce mulher, torna-se. Mas eram perigos mais abstratos que a preocupavam. Para tornar-se e manter-se mulher hoje é necessário, antes ou no mínimo, ser jovem, ou parecer jovem. E para isso existem botox, fios, incisões, cânulas, sugadores. Existem cirurgiões, dermatologistas, nutricionistas, preparadores físicos, massagistas e um público ávido por isso.


Todas queremos, é claro, ser jovens e bonitinhas. E todas somos pessoas não importa se velhas ou feias, mas há quem não saiba disso. Algumas se orientam por cartazes de farmácia ou por uma infinidade de assuntos semelhantes que se perdem no caminho. Há histórias drásticas de mulheres que não conseguiram enxergar a imagem completa e se tornaram só uma parte dela. Pernas, bundas, bocas ou olhos azuis.


São tempos passivos em matéria de reivindicação da mulher. É significativo que uma mensagem publicitária se permita espetar botões de estofado num corpo feminino. Talvez não fosse tão tranquilo tratar assim o corpo de um gay ou de um negro. As voltas com reclamações urgentes não tem a mesma paciência com brincadeiras de mau gosto e não se deixam desrespeitar com tanta docilidade. Nossas ancestrais feministas, como Simone de Beauvoir, nos anos 40, Betty Friedman, nos anos 50, Carmen da Silva, nos anos 60, Gloria Steinman, nos anos 70, só para ficar apenas nas clássicas, mereciam um público mais grato a seus esforços.


segunda-feira, 30 de junho de 2014

SIMONI DE BEAUVOIR: O QUE É SER MULHER?


Conheci a obra de Simoni de Beauvoir a muito tempo quando estava na faculdade de Serviço Social em especial O Segundo Sexo, lançado em 1949. Penso que seu texto continua tão atual quando da data de seu lançamento. Trazendo a máxima o que é ser mulher? que continua sendo uma pergunta atual, que deve ser feita por todas nós em algum momento da nossa vida. Ela tem uma das principais frases do movimento feminista não se nasce mulher, torna-se mulher.



A mulher não tem um destino biológico ela nasce numa cultura que define seu papel dentro da sociedade. Durante muito tempo as mulheres desempenharam o papel de mãe e esposa ocupando espaços como o casamento ou o convento. O interessante é que a própria Simoni, de origens burguesas, rompe esse papel ao se negar a ter um casamento arranjado e opta por uma vida de sucesso acadêmico.




O Segundo Sexo é uma obra de inspiração para conhecer o processo de construção em que as mulheres são criadas para ser inferiores aos homens. Acho que sua obra continua atual porque propõem a discussão democrática e a ruptura das estruturas psíquicas, sociais e políticas de um modelo de mulher pré- determinado. Trazendo para o debate o mais importante princípio: como as mulheres se enxergam? Seu trabalho jogou luz para a causa feminista. Hoje as mulheres podem ser o que desejarem independente das convenções sociais e dos modelos pré estabelecidos, embora ainda tenham que lutar para desmontar o preconceito das estruturas psíquicas da sociedade. 

quinta-feira, 20 de março de 2014

ELIS, PARA SEMPRE ELIS


Se viva fosse essa seria a semana de aniversário de Elis Regina conhecida cantora da Música Popular Brasileira. Embora hoje não escute tanto Elis, quando criança convivia com sua música que era ouvida em minha casa pelos parentes mais velhos. Quando estava na faculdade li Noites Tropicais do produtor musical Nelson Motta e conheci um pouco mais sobre sua trajetória e sua vida. É inegável sua voz dramática e o uso de diversos recursos vocais para acentuar essa característica.



            Sua interpretação é tão marcante que chega a interferir nas músicas e como se seu gosto, estilo e imagem pública pudessem evidenciar os elementos inscritos em uma canção. Sua voz é sempre cúmplice suas primeiras interpretações me lembram as antigas cantoras de rádio. Ela cantava sorrindo e as vezes era irônica, podia cantar também malandramente, improvisava e as vezes no meio de uma música soltava uma gargalhada. Acho que Elis é muito maior do que qualquer rótulo e sempre preferiu a complexidade da fluidez seja em sua identidade artística, quanto na forma como pensou o Brasil, a cultura brasileira, o cotidiano, a indústria cultural ou mesmo a política. Embora suas apresentações tenham um que de um espírito revisionista.



            Sua figura é de alguém que sempre primou pelo aperfeiçoamento, a versatilidade, o domínio técnico combinado com a espontaneidade e a embriaguez equilibrista sendo uma referência para outras cantoras suas contemporâneas ou de gerações posteriores. Elis parece ter criado uma gramática do canto, onde várias intérpretes, não só brasileiras fariam seus estudos. Nesse processo, atravessaria fronteiras temporais, como alguém que deve ser lembrado a partir da excelência alcançada e largamente aclamada pela crítica.



Como essa lembrança vem de uma necessidade do presente, não podemos considerá-la apenas como um rastro do passado, mas sim como algo que, a partir das práticas deste presente, atualiza-se, ganhando novo sopro de vida com as diversas reedições de sua obra chegando até a minha geração  e provando a longevidade de seus discos. O que fazem dela uma Elis, para sempre Elis.


sexta-feira, 7 de março de 2014

A LEITURA DA CASA DOS ESPÍRITOS DE ISABEL ALLENDE


            Comprei A Casa dos Espíritos de Isabel Allende em 2011 e ele ficou lá na estante um pouco esquecido, agora ao terminar a leitura me arrependi de não o ter feito antes. Desde a primeira página entrei num mundo encantado de misticismo e magia que logo entra em contraste com o conflito e a tensão do personagem central Estebán Trueba. No entanto, são as personagens femininas que realmente dominam a trama. Clara, Blanca e Alba três gerações de mulheres que lutam pelo que acreditam. Criticadas por uma sociedade conservadora encontram sempre meio de ajudar os outros.



            Clara é indiscutivelmente minha personagem predileta, o seu mundo é mágico ela convive com naturalidade com espíritos, lê a alma das pessoas, tem um cão incomum o Barrabás, escreve tudo em cadernos de anotar a vida. Sua sensibilidade é grande a tudo tem certeza do seu futuro que é casar com Estebán Trueba noivo de sua irmã de cabelos verdes Rosa que havia morrido. Trata todos com o mesmo carinho e simpatia que devota ao marido. É uma personagem extremamente profunda com imensa carga psicológica e sua grandeza está em se afastar dos estereótipos. Por sua visão de mundo se mantém superior a tudo de ruim que pudesse lhe acontecer.



            Blanca filha de Clara é desprezada pelo pai e não herdou os encantos da mãe. Tinha uma personalidade mais forte do que a mãe mas não o suficiente para enfrentar tudo e todos e fugir com seu grande amor Pedro Terceiro, camponês da fazenda do seu pai. No fim perdoa o pai pela não aceitação do romance e mostra ser uma mulher lutadora por ter persistido durante toda a vida para ficar com o homem que escolheu.



            Alba é uma mistura das duas antepassadas mostra ter dons como a avó compreensiva e avessa a certos sentimentos, mas é romântica como a mãe e vive um romance com o socialista Miguel acarretando problemas políticos num momento de mudanças em seu pai. Como as outras é corajosa sendo a única capaz de enfrentar o Estebán Trueba patriarca e dominador da família.



            O livro é uma saga épica. É possível sentir o sabor das grande obras em suas linhas, o passado e presente se entrelaçam para formar uma intriga brilhante de ódio, morte, traição e ira. Isabel Allende nos mostra a profunda visão que tem da história chilena do século XX, do caos do governo Allende ao golpe militar tendo como pano de fundo as desventuras da família Trueba. Os personagens mantém uma certa ambiguidade é possível em pouco tempo ama-los ou odia-los. Acho que o excesso de melodrama deixa o ritmo um pouco cansativo, mas como seus personagens são extremamente explorados é possível retomar o ritmo da obra.




            Considero Allende bem próxima do realismo mágico de Garcia Márquez com a deliciosa união entre o divino e o profano. Nos capítulos finais que trata da situação política a obra se torna mais madura e equilibrada. O livro todo é um tributo a luta das mulheres pela emancipação em uma sociedade machista e autoritária. Dou vivas ao seu feminismo doce e lírico que coroa a excepcionalidade da obra.