Esse
espaço que uso no mundo virtual para escrever me remete ao que de melhor tenho
lido, visto, discutido e apreendido nesses últimos anos. Quando estava
concluindo a faculdade de Serviço Social um amigo me apresentou um livro,
pequeno, mas de uma profundidade imensurável, trata-se da Hora da Estrela de
Clarice Lispector. O livro é centrado em forma de narração, feita por uma
figura masculina, na verdade, o álter ego de Clarice. Publicado pouco antes da
autora falecer é feita uma descrição objetiva da vida e contestado uma série de
elementos, o que leva em ultima
instancia a contestação do sentido da literatura e da própria vida.
Macabéa
a nordestina, assim como Clarice que viveu a infância no Nordeste, é a
protagonista, trata-se de uma medíocre imigrante de 19 que vive no Rio de
Janeiro. Apaixona-se também por um nordestino Olímpico de Jesus e juntos vão
dividir suas solidões e mediocridades. O livro é dinâmico e brutal o que faz
ser lido apressadamente pela maioria das pessoas. Os personagens que desfilam em
suas páginas, são feios, miseráveis, são seres totalmente dispensáveis na
engrenagem da sociedade em que vivemos onde as pessoas são medidas pelas coisas
que possuem.
A personagem de Macabéa me causou uma profunda
reflexão, pelo seu lamentável passado e seu futuro sem esperanças. Ela é
descrita como alguém que vive sem ter consciência de si mesma. O clímax da obra
é o encontro da protagonista com a cartomante que se compadece da sua insignificância
e inventa para ela um futuro melhor do que qualquer outro que ela poderia ter.
Vi
em Macabéa um grito da autora para questionar, o que é realmente existir? Até
que ponto somos imprescindíveis para a sociedade, para o mundo e para nós
mesmos. Quando Macabéa se olha diante do espelho é a primeira vez que ela
realmente se enxerga. Imagino quando passamos realmente a nos enxergar, a
aceitar a nossa real condição na vida e no mundo. Acredito que a partir do
momento em que tomamos consciência de quem realmente somos, conseguimos
conviver melhor com a nossa solidão, e não exigir de nós mais do que aquilo que
somos capazes de dá e de oferecer.
Com
Macabéa fui iniciada na obra de Clarice, do fim para o começo, e percebi que
realmente a vida é um grande luxo e que viver é o maior privilégio que
desfrutamos na nossa existência. Mas para enfrentar a dureza da vida é preciso
sonhar e acreditar: ela acredita em anjo e, porque acreditava, eles existiam.