A vida vem em ondas como o mar,
assim como os reencontros com o passado, senti isso ao comprar uma coletânea de
músicas dos movimentos da Bossa Nova e do Tropicalismo, momentos marcantes da
cultura brasileira na segunda metade do século 20 que continuam a bater às
portas da atualidade. Vista por alguns como manifestações antagônicas, a Bossa Nova e o Tropicalismo demarcam uma década de intensa criatividade na cultura do país e de importantes acontecimentos em sua vida política. Entre 1957 e 1958 pode-se dizer que “tudo” aconteceu.
É preciso reconhecer que o
tropicalismo como movimento estritamente musical pouco teve de bossa novista,
quando se pensa na insuperável formalização de gênero, realizada por Tom, Vinícius
e João Gilberto, este bem mais do que um mero intérprete, na verdade um dos
inventores da coisa, ou o inventor. A invasão tropicalista era diferente,
ruidosa e se fez acompanhar do mais moderno conjunto de rock da época, o
paulista Mutantes, e de orquestrações vanguardistas que mesclavam instrumentos
tradicionais e modernos.
Enquanto a melhor tradução bossa
novista, semanticamente superada pelos novos ventos políticos, era substituída
pelo samba jazz e assemelhados, e ecoava o conteúdo engajado das letras de
protesto, prosperavam os gêneros comerciais clássicos dos anos 60 que mostravam
elementos da emergente cultura de massas de uma Brasil que já era bastante
internacionalizado. Esses guardiões do templo, queriam erguer um dique contra a
invasão imperialista.
O tropicalismo era uma bomba
cultural que propunha na música o que já vinha sendo feito em Terra em Transe de Glauber Rocha ou no Rei da Vela montado por Celso Martinez
Correa. Obras que se inserem dentro da temática modernista antropofágica de
Oswaldo de Andrade. É difícil superar a Bossa Nova, algo que atingiu um grau de
sofisticação e acabamento formal absolutamente invejável e alcançou
reconhecimento tão amplo, mas, no sentido de tentarem recriar a música brasileira os dois movimentos se completam e o tropicalismo não deixa de ser bossa
novista.