Para viver para sempre feliz com
quem você ama, é preciso ter a capacidade de conviver com o outro e suportar
tudo. Pequenos problemas devem ser ultrapassados. Ela não gosta de gatos sobre
a mesa quando está comendo. Ele guarda roupa suja no armário a mais de um ano.
Ela guarda para si os momentos que passam juntos. Ele curte o seu melhor amigo,
barbudo e tagarela. Ela quer ver Paris. Ele se preocupa com o seu trabalho.
O Atalante, de 1934, do francês Jean
Vigo, nos conta uma história de amor desse tipo e consta nas listas entre os
grandes filmes da história do cinema. Em linhas gerais, parece uma história
comum. Começa com o casamento de Jean, um jovem capitão de uma barcaça, com
Juliete uma jovem de um vilarejo. Não há festa no casamento, ela vai morar
diretamente na barcaça com o marido, Jules um marinheiro que
andou no mundo, um taifeiro e pelo menos meia dúzia de gatos.
Certa noite ela escuta no rádio as
mágicas palavras isto é Paris. O
marido preocupado com o trabalho não a leva para ver a cidade, ela decide sair
sem que ele perceba e quando volta a barcaça não está mais lá. O bonito do
filme é que a história não é banal, mas apresentado de uma forma poética. Mais
do que ligar o jovem casal a qualquer enredo eles são os momentos que a memória
irá iluminar daqui a cinquenta anos, basta ver a primeira manhã deles, quando
acorda ouvem uma serenata de acordeão e uma canção de marinheiro.
O filme apresenta um ar suavemente
poético. Na fotografia a maioria dos planos captura o frio das paisagens dos
canais, os esfumaçados bistrôs, os apertados quarteirões e magnificência da
velha barcaça. É o tipo de filme que você irá voltar a apreciar como sua canção
preferida. Lembrando-se de onde estava quando a ouviu pela primeira vez e como
fez você se sentir. Dentre as alternâncias entre tristeza e felicidade, esse casal nos ensina que o amor sobrevive, se realmente for amor.