Acho
que as Ciências Sociais deveriam servir como base para a grande maioria das
profissões, possibilitaria uma abertura maior do entendimento do mundo em que o
indivíduo está inserido, para mim um dos conceitos mais caros no entendimento
desse mundo é o de estranhamento as coisas que não são comuns a meu
entendimento. Uma delas é a estética, com suas sensações do belo, das emoções e
das técnicas de arte. Quando conheci Glauber Rocha tive essa sensação de
estranhamento estético tão forte que chegou a me causar um certo mal estar.
Fui
apresentada a ele através de um livro em que o próprio escrevia cartas para
pessoas ligadas a sua vida, após isso, não deixei mais de pesquisar, ler ou ver
seus filmes sempre embalada pelo furacão de ideias e novo formato que suas
obras trazia. A busca por fazer um trabalho que fosse contrário aos padrões
importados dos Estados Unidos que não fosse colonizado, como o próprio Glauber
diz já traz por se uma mudança considerável na nossa viciada construção
cinematográfica.
Sua
filmografia é inquieta como sua vida, é forte como sua personalidade, busca uma
identificação genuinamente nacional como o Brasil deveria ser. Sempre achei
Glauber Rocha, o menino baiano grande demais para o nosso meio artístico
viciado na estética comercial, naquilo que é mais fácil de vender e de ser
visto, haja vista nossas barreiras educacionais. Fico imaginando toda a efervescência
cultural do Cinema Novo em busca de uma linguagem que se aproximasse do povo e
vejo Terra em Transe (1967) uma vigorosa
alegoria política do populismo, das ilusões das liberdades de esquerda e da
mistura das culturas (africana, índia e branca), se coloca até hoje num grau
apurado de atualidade.
Essa
busca de uma linguagem nacional causa impacto Deus e o Diabo na Terra do
Sol (1964) fortemente influenciado pelas raízes baianas de Glauber, traz o
sertão, as mazelas sociais entre os patrões e o empregados, os cangaceiros e
toda a carga social que esse cenário representa. Manoel o empregado, símbolo do
povo brasileiro escapa, testemunha das teses de suas obra.
Sem
medo de parecer lugar comum vejo Glauber como um homem incompreendido em seu
tempo, atacado por ambos lados (tanto esquerda, quanto direita), seu mundo era
permeado pela onda apocalíptica da decadência. O que não pode ser negado é a
influencia da Nouvelle Vague e do Neorrealismo Italiano. O que não pode
deixar de ser mencionado ainda é o reconhecimento do valor de suas obras com
prêmios como no Festival de Cannes. Glauber é tão grande que uma frase sua não
deixa de ecoar em minha mente inventar-se
antes que os outros o transformem num mal entendido.