Gilda (1946) é um desses filmes que se sabe
quase tudo, mas nunca se vê, lembro que cresci vendo a imagem enigmática na
velha Enciclopédia Britânica, daquele mulher de cabelos esvoaçantes num vestido
preto de alta costura, uma luva numa mão e na outra um cigarro, com o título
“nunca houve uma mulher como ela”. Essa semana, muito tempo depois comprei o
filme e vi que o título do passado realmente faz jus a essa máxima e a toda a
mitologia que se criou em torno da personagem.
Antes de qualquer coisa é preciso
pensar na Hollywood dos anos 1940, período que o cinema americano, viveu uma
época imensamente lucrativa. O filme se passa em Buenos Aires na Argentina, mas
nada da cidade é mostrada, o cassino é o cenário principal. A amizade entre os
dois homens Johnny Farrell um aventureiro americano que vive na Argentina em
busca de fortuna e torna-se o homem de confiança do dono do casino, Mudson, que
no filme aparece com um ar meio lunático, é a base do enredo. Mudson aparece
casado com Gilda, e logo de início dá para perceber que ela e Farrell já
viveram algo no passado, Gilda faz de tudo para destruir a amizade dos dois, e
o que achei mais intrigante é como a trama força sempre os dois a permanecerem
juntos e essa tentativa forçada é banal e sem sentido.
O filme é cheio de estereótipos
típicos da sociedade moralista da época, Gilda sai com homens, mas isso não há
problema contado com que Mudson, o esposo não saiba. Apanha de Farrell o novo
marido, após se pensar que o primeiro tinha morrido, e ainda assim se sugere
que ela não traiu ambos. Além da dubiedade embora sutil, da relação entre os
dois personagens masculinos. Além da fumaça constante dos cigarros que em
várias cenas.
Mas o forte do filme é mesmo a
figura de Rita Hayworth, na época com 28 anos, sua sensualidade é explícita e
antes dela no cinema nunca tinha aparecido uma mulher capaz de ser o eixo
central do filme e prender as plateias do início ao fim. Fiquei meio sufocada
com os cenários fechados e claustrofóbicos do filme, nem uma cena se passa a
luz do dia. Mas vale a pena a fotografia de cunho noir, os cenários art decó
e sobretudo o número em que Gilda canta e dança Put the Blame a Meme.