Quando começou a circular em 1928 a
revista O Cruzeiro já se auto
qualificava como um veículo moderno, que trazia com o seu nascimento o anúncio
de um novo mundo de arranha céus. O interessante é que no dia do seu lançamento
a publicação atingiu simultaneamente todas as capitais do Brasil, o que lhe
garantiu o pioneirismo em termos de abrangência nacional. A ideia inicial foi
do jornalista português Carlos Malheiro que por dificuldades financeiras,
vendeu o título a Assis Chateaubriand (1892-1968) empresário e jornalista. A
época ele já possuía alguns jornais e a nova revista contribuiu para o seu
conjunto de veículos.
Em pouco tempo se transformou em um
título de grande destaque no mercado editorial brasileiro, encontrando um
sucesso de público que se estenderia por décadas até sua última edição em 1974.
A revista possuía independência para definir a pauta e os procedimentos
internos. Porém como os outros veículos do Diários
Associados, estava sujeita a acatar as vontades e os interesses de seu
proprietário. Sendo usada como ferramenta de pressão política e ideológica. Era
vitrine e meio privilegiado para divulgação de notícias, assuntos variados e
campanhas de interesse nacional.
O Cruzeiro marcou época na história
do jornalismo brasileiro ao incorporar a reportagem investigativa e o modelo de
fotojornalismo. A fotografia substituiu a ilustração trazendo para as matérias
mais impacto visual. A revista era a aproximação da jovem República com o que se convencionou chamar de civilização
ocidental, positivista e tecnocrática, um flerte com as ideias de Modernidade,
modernismo e vanguarda. A revista buscou por enaltecer traços que ajudassem na
representação do país como nação moderna e democrática.
O Cruzeiro apresentava
matérias jornalísticas sobre temas nacionais e estrangeiros, textos primorosos
bem diagramados, apresentando boas fotos e ilustrações. Sua receita pode ser decifrada como uma resenha do noticiário semanal nacional e internacional
com muito material fotográfico, literatura, reportagens sobre locais exóticos e
quase desconhecidos da flora e fauna nacionais, colunas que abordavam um grande
espectro de assuntos.
Tais
características fizeram O Cruzeiro
se firmar como a grande revista de penetração nacional em poucos meses após
seu lançamento. Muitos leitores se dirigiam à redação da revista na tentativa
de encontrar o exemplar que não haviam conseguido comprar nas bancas. O Cruzeiro
circulava em todas as classes sociais; tinha como público fiel
mulheres e homens, idosos e adolescentes, moradores de grandes e de pequenas
cidades, circulavam do Sul ao Norte do país, como desejou “Chatô”, ao projetar
a revista.
Eram destaques na revista as
colunas O Amigo da Onça e a seção Garotas coluna de ilustração impressa
em cores sobre as jovens modernas e breves textos de ironia e humor. Carmen
Miranda era campeã de capas nos anos1940 e Getúlio Vargas figura frequente. Tinha em seu quadro nomes como: Millôr
Fernandes, Ziraldo, Raquel de Queiroz, Anita Mafalti entre outros. E foram eles
que construíram um outro patamar sobre a imprensa nacional. Desconsiderando as questões
ideológicas, O Cruzeiro inaugurou um outro estilo mais maduro e profissional, com grandes reportagens que fizeram
história com iniciação no candomblé, índios, misseis, personagens políticos,
extra terrestres, sobre tudo que pudesse ver e ser visto.
O Cruzeiro trouxe incontestável
contribuição para os estereótipos, arquétipos e modelos que temos do Brasil em
seus aspectos visuais, culturais, sociais, econômicos e políticos do que seja a
nação brasileira e sua chamada modernidade.