Revendo o relevante texto As Flores do Mal de Charles Baudelaire,
vejo o quanto este continua atual no mundo em que vivemos. Em tempos de
Internet e redes sociais, o aspecto da formação da pessoa humana deixa a
desejar. A tecnologia ameaça nos isolar das interações mais verdadeiras, a
efemeridade da vida atua criando uma agonia em grande parte da população, as
quais vivem na razão de submissão a vida, encontrando saídas no fictício cyber
espaço e criando angústias das mais diversas naturezas.
Em As
Flores do Mal Baudelaire, antecipa essa angústia que a modernidade traz
para a vida do homem, percebemos nos poemas sua insatisfação em relação ao
progresso da Modernidade, e a substituição do homem pela máquina, o que levava
o homem moderno a pensar que estava perdendo a sua própria identidade. O homem
moderno estava perdido em sua época, valendo-se de várias identidades para
sobreviver.
Para Baudelaire, a modernidade é a
reconstrução e a afobação da humanidade na grande metrópole de Paris. Nada para
ele é mais moderno do que a vida nas grandes cidades. O que seria então essa
modernidade para o poeta? Seria a ideia de conflito, pois, provoca angústia e
perda de aceleração, e é aí que reside o centro de aceleração cotidiana da vida
moderna.
Baudelaire não vivia nos salões nobres
de Paris, mas na vida boêmia francesa, carregada de extravagancias e conflitos
que marcou a existência de sua época. Contudo, é considerado um dos maiores
pensadores franceses de todos os tempos. Pela sua ousadia, tornou-se modelo
para o século XX, influenciando as poesias de cunho simbolista.
Para ele o principal motivo de angustia
do homem, é a fragmentação que ele está se deparando por consequência da
modernidade. Nosso poeta é tão atual que acreditava que o avanço do moderno no
século XIX, tinha rompido o laço de confiança das relações intrapessoais, tudo
ficou muito passageiro, artificial, os homens têm medo de se relacionarem com
os outros, porque se sentem fragmentados diante das grandes cidades.
Com sua poesia ele mostrou as
divergências que a Cidade Luz oitocentista estava passando, com o belo e o feio, as
diferentes classes sociais dividindo o mesmo lugar. Acredito que Baudelaire é
pertinente a nossa contemporaneidade e as nossas angústias, uma vez que temos a
facilidade de observarmos com facilidade todas as transformações que ocorrem ao
nosso redor, não cultivamos mais nossas reflexões, mas, nossos bens materiais,
não buscar mais o flâneur pelas
cidades, mas pelas vitrines das lojas de grife, assim, percebemos que o nosso flâneur está invertido não queremos
refletir, mas possuir.
Seja pela nossa ânsia de nos
comunicarmos por meio da comunicação virtual, seja por nossa necessidade de
consumir, a angústia moderna permanece, como podemos ver nesse trecho: Sou como o rei sombrio de
um país chuvoso, Rico, mais incapaz, moço e, no entanto idoso, [...] Não sabem
mais que traje erótico vestir Para fazer este esqueleto enfim sorrir / O sábio
que ouro lhe fabrica desconhece
Como extirpar-lhe ao ser a parte que apodrece,
[...] (BAUDELAIRE, 1985, p. 295).
Nesse trecho fica evidente
a fragilidade do homem moderno que tem tudo, mas não tem nada, sendo jovem
percebeu-se idoso porque não pode atuar, as máquinas tomaram o lugar dos
trabalhos artesanais. O homem da modernidade é o da incerteza do vazio que o
norteia, das aparências que cultiva. O homem contemporâneo, vive de valores efêmeros,
fragmentação, angustia existencial, daí, reside a atualidade do pensamento de
Baudelaire.