Comprei A Casa dos Espíritos de
Isabel Allende em 2011 e ele ficou lá na estante um pouco esquecido, agora ao
terminar a leitura me arrependi de não o ter feito antes. Desde a primeira página entrei num mundo encantado de
misticismo e magia que logo entra em contraste com o conflito e a tensão do
personagem central Estebán Trueba. No entanto, são as personagens femininas que
realmente dominam a trama. Clara, Blanca e Alba três gerações de mulheres que
lutam pelo que acreditam. Criticadas por uma sociedade conservadora encontram
sempre meio de ajudar os outros.
Clara é indiscutivelmente minha
personagem predileta, o seu mundo é mágico ela convive com naturalidade com
espíritos, lê a alma das pessoas, tem um cão incomum o Barrabás, escreve tudo
em cadernos de anotar a vida. Sua sensibilidade é grande a tudo tem certeza do
seu futuro que é casar com Estebán Trueba noivo de sua irmã de cabelos verdes
Rosa que havia morrido. Trata todos com o mesmo carinho e simpatia que devota ao marido. É uma
personagem extremamente profunda com imensa carga psicológica e sua grandeza
está em se afastar dos estereótipos. Por sua visão de mundo se mantém superior
a tudo de ruim que pudesse lhe acontecer.
Blanca filha de Clara é desprezada
pelo pai e não herdou os encantos da mãe. Tinha uma personalidade mais forte do
que a mãe mas não o suficiente para enfrentar tudo e todos e fugir com seu
grande amor Pedro Terceiro, camponês da fazenda do seu pai. No fim perdoa o pai
pela não aceitação do romance e mostra ser uma mulher lutadora por ter
persistido durante toda a vida para ficar com o homem que escolheu.
Alba é uma mistura das duas
antepassadas mostra ter dons como a avó compreensiva e avessa a certos
sentimentos, mas é romântica como a mãe e vive um romance com o socialista
Miguel acarretando problemas políticos num momento de mudanças em seu pai. Como
as outras é corajosa sendo a única capaz de enfrentar o Estebán Trueba
patriarca e dominador da família.
O livro é uma saga épica. É possível
sentir o sabor das grande obras em suas linhas, o passado e presente se
entrelaçam para formar uma intriga brilhante de ódio, morte, traição e ira.
Isabel Allende nos mostra a profunda visão que tem da história chilena do
século XX, do caos do governo Allende ao golpe militar tendo como pano de fundo
as desventuras da família Trueba. Os personagens mantém uma certa ambiguidade é
possível em pouco tempo ama-los ou odia-los. Acho que o excesso de melodrama
deixa o ritmo um pouco cansativo, mas como seus personagens são extremamente
explorados é possível retomar o ritmo da obra.
Considero Allende bem próxima do
realismo mágico de Garcia Márquez com a deliciosa união entre o divino e o
profano. Nos capítulos finais que trata da situação política a obra se torna
mais madura e equilibrada. O livro todo é um tributo a luta das mulheres pela emancipação
em uma sociedade machista e autoritária. Dou vivas ao seu feminismo doce e lírico
que coroa a excepcionalidade da obra.
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