Dos vídeos do You tube estão entre
os meus favoritos aqueles que trazem filmes com números do chamado Teatro de
Revista, com artistas como Zé Trindade, Virgínia Lane, Renata Fronzzi, Emilinha
Borba dentre outros. Os filmes são dos anos 1950, e estão enquadrados no gênero
das chamadas chanchadas, filmes carnavalescos comuns nesse período produzidos pela Atlântica a mais famosa produtora carioca da época, com enredos simples,
populares que em sua maioria parodiavam sucessos do cinema americano com o popular Teatro de Revista.
O Teatro de Revista buscava a
interação com o público era uma revisão de costumes em que se ironizava e se
sondava a alma brasileira. No enredo via-se sempre alguém perdido, perseguido.
Os personagens parecem caricaturas, alegorias, com atores que tenham um caráter
de improvisação, espontânea, como Oscarito e Grande Otelo, Dercy Gonçalves e Zé
Trindade. À este ator cabia, dançar, cantar, possuir o tempo da comédia e a
agilidade do improviso.
Mas a grande atração eram as atrizes
que cantavam, dançavam e rebolavam dentro de seus maiôs, com uma sensualidade
provocativa numa sociedade que ainda se via pudica, mas que a olhos
contemporâneos, chega a parecer inocente. Chamadas de vedetes, receberam
influencia francesa, o que pode ser visto com as plumas, o sotaque francês e a
bossa como um todo, isso deslumbrou o povo, esse teatro foi se transformando até
adquirir características nacionais peculiares que culminam no que pode se
definir como uma identidade genuinamente brasileira do gênero.
Para
ser vedete, era preciso ser bonita e escultural, e representava na Revista, o
último número do espetáculo, era a apoteose. Em 1950, Virginia Lane recebeu do
Presidente Vargas o título A Vedete do Brasil,
era tão fantástica que nem ele resistiu aos seus apelos, mantendo com ele um
discreto caso amoroso por 15 anos. Fez 37 filmes durante sua carreira, hoje sua
indefectível apresentação de Sassaricando
chega a ser cult. Outras famosas da época foram: Renata Fronzzi, Elvira Pagã e
nos anos 1940 Luz del Fogo, primeira naturista brasileira.
A
vida particular das vedetes era o que causava interesse e aumentava o seu
sucesso, Elvira Pagã, no início da década de 1950 na praia de Copacabana foi a
criadora do biquíni, exalava sexualidade e enlouquecia a constante plateia
feminina. Era manchete permanente de escândalos, a bomba que escandalizava a
preconceituosa sociedade da época. Chegou a ser impedida de entrar no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, frequentado pela alta sociedade da época.
Gosto
de ver os vídeos porque considero que é a melhor forma artística que
representou a ideia que o Brasil tinha de si, onde é possível reconhecer a
sociedade brasileira nos palcos e traçar uma identidade cultural do país. O
interessante é que não se abdicava em suas apresentações do olhar crítico e
irônico dos acontecimentos sociais da época. Eram produções recheadas de humor
e duplo sentido, apesar de ser um gênero marginalizado, considerado menor,
enriqueceram a produção nacional e dialogaram muito bem com o mundo de então.
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