Já
falei em outros momentos aqui no blog sobre a felicidade que acredito a priori
ser o objetivo maior da nossa existência, embora entenda que o primeiro
fundamento desse princípio, deve ser a incerteza. Esse é um tema que
perturba, impressiona e tem a capacidade de comover as pessoas. Não temos
certeza do que é, mas somos convocados a todo tempo para buscar essa tal
felicidade. Embora já tenha tentado
construir conceitos sobre o assunto, hoje compreendo que só é possível falar em
felicidade num nível de dúvida.
Ao
longo da história do pensamento, sempre se tentou responder justamente essa
pergunta, o que é a felicidade? E foi aí que se criaram regras para ela e é
assim que impomos uns aos outros os nossos paradigmas. O que pode nos salvar
desses deveres para com a felicidade, é justamente a interrogação que deveria
ser um exercício cotidiano. Pensando e duvidando de conceitos é possível buscar
e construir nossa própria felicidade, não como algo pronto e acabado, mas como
algo capaz de ser construído não como o ideal pronto e realizado, mas como uma
aventura que é gestada a partir do nosso próprio cotidiano.
Em
nossos tempos atuais, ser feliz é praticamente uma obrigação, que nos é lançada, sobretudo, por meios de comunicação, e podemos muito bem dizer que a felicidade
dos nossos dias foi cativada pela publicidade. Mas mesmo assim, não devemos
abrir mão desse termo, mesmo após sua transformação em uma mercadoria, capaz de
vender outras mercadorias. A felicidade surge inicialmente nos textos dos
filósofos da antiguidade grega. Naquele momento, eles estavam preocupados em
entender como alguém pode ser feliz sem precisar da intervenção de uma força
maior, ou seja, como posso ser feliz chamando apenas aquilo que tenho dentro de
mim?
A
questão é o que que você enquanto ser individual é capaz de fazer junto a outros
seres humanos para ser feliz consigo mesmo? E é aí que a felicidade se insere no campo
da ética, que é de modo geral algo que fazemos com o outro. Essa ideia do nosso
tempo de ser feliz, é uma imposição do outro, a gente só quer ser feliz porque
existe um ordenamento social e cultural que nos exige isso.
Reafirmo
e aceito o pensamento dos gregos, o ser humano consegue ser feliz quando ele
mesmo se torna virtuoso, e encontra o equilíbrio interior entre o bem e o mal,
pois seria virtude do ser humano a mistura que resulta na capacidade de cometer
erros e acertos, sendo assim, a felicidade seria o encontro daquilo que sou
capaz de compreender em relação a própria vida que vivo, o encontro do meu
pensamento com a minha ação.
Tenho
a impressão que existem muitas pessoas que vivem como se a vida fosse algo de
plástico, como se ela não fosse de concreto, na verdade, a vida é muito pesada.
Todos mais cedo ou mais tarde irão vivenciar uma coisa que chamo de dor de
existir. Nietzsche entendia que para ser feliz, basta está vivo, porque viver é
algo bonito e nesse ponto ele está correto, porque viver é uma infinitude de
possibilidades e é a chance que temos de experimentar a condição humana. Já que
fora disso não temos a certeza racionalista que existe algo.
Por
isso, entendo que felicidade é a capacidade que cada um de nós tem de inventar
essa sensação para si mesmo, já que cada um pode desenhar a sua ideia de
felicidade. Nesse sentido, Kant tinha razão, talvez a gente não possa ser feliz
num sentido total metafísico, mas apenas no sentido de termos feito tudo que
estava a nosso alcance para botar a cabeça no travesseiro e ficar numa boa. Afinal,
a vida não é sonho.
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