Sempre
considerei a música como um dos mais importantes elementos capazes de nos
humanizar, ela é essencial na vida das pessoas, podendo nos acalmar quando
estamos ansiosos, nos animar quando estamos precisando, e claro, nos fazer
dançar. Além de nos remeter diretamente a situações que lembram aquela música
que estávamos ouvindo na época.
Estudo a
língua francesa a muitos anos, daí naturalmente veio o meu interesse pela
música francesa. Sendo considerada um centro europeu para as artes e para a música, a França produziu grandes
compositores e intérpretes e as melhores canções da nossa contemporaneidade,
que vão desde o Hino do país, A Marselha,
passando pela indefectível Ne me quitte
pas, do compositor Jacques Brel, a primeira música francesa que gostei e
que acredito ser responsável por meu aprofundamento na música desse país.
Tenho
algumas preferências especiais vou descreve-las usando a hierarquia de execução
na minha play list. Primeiro e grande
cantor e compositor francês que considero, Charles Aznavour
(1924- ), de origem armênia, é um dos mais
importantes cantores franceses, e um dos cantores mais conhecidos do mundo, sua
voz é sombreada, tendendo ao tenor e encantadora e me lembra uma época que já
passou, ouvindo suas músicas me sinto em salões dos anos 1960, a canção La boheme
fala de um tempo que é preciso que os muito jovens não podem saber
em que Montmarte era realmente o berço da boemia, e mesmo sem dinheiro era
possível ser feliz.
Outra
grande notável que é a cara da França, da sua cultura, das suas ruas é a Edith Piaf (1915-1963), cantora
que começou na rua, mas, com inigualável talento, foi a maior representante da
música de seu país. Teve uma vida marcada por tragédias, com a morte da filha e
do namorado, além de uma saúde frágil. Suas músicas mais representativas são: Mon diue, Milord, Mon Legionaire, Je ne
Reegrette rien e La vie rose que fala de amor, da amante que quando está nos
braços do amado vê a vida cor de rosa e tem a vida tocada por imensurável
felicidade. São as grandes e atemporais chansons.
Uma outra
cantora, de origem grega que morou e teve grande sucesso em Paris foi a lírica Maria Callas (1923-1977), sua interpretação de Carmen
do compositor francês George Bizet é memorável. Trata-se de uma ópera em quatro
anos em que uma cigana espanhola usa seus talentos de dança e canto para
seduzir vários homens. A música que não consigo parar de ouvir é Habanera, que fala que o amor é um
pássaro rebelde impossível de ser aprisionado, que é o período da infância da
boemia, impossível de ser regido por lei, que é um sentimento que quando vêm é
impossível de ser evitado.
Jacques Brel (1929-1978)- de origem belga, é um poeta
vocal de grande quilatação, viveu a maior parte de sua vida em Paris, autor de
belos textos capazes de se sustentar tanto na voz, quanto na música. É
considero como um dos responsáveis por manter a poesia oral e cantada, no mundo
ocidental. Suas canções foram traduzidas e cantadas por vários cantores de
renome como Ray Charles, Frank Sinatra e Kurt Cobain. Sua canção mais conhecida
e que para mim, não está esvaziada nem envelhecida é Ne me quitte pas, sinto sua grande força lírica como podemos ver
nos versos de deixe que eu me torne/ A sombra de sua sombra/ A sombra da sua
mão/ A sombra do seu cão, em uma gradação que busca mimetizar o desejo de
penitência do amante. Brel é um presente aos sentidos e ao convite a boa música
atemporal.
Compilação da Putamayo (PARIS)- muito antes da World
Music se tornar banalizada, o selo Putamayo já produzia compilações de
qualidade, fundada pelo sociólogo americano Dan Storper em 1993, virou símbolo
de boa música. Essa compilação Paris, foi lançada em 2006 e reúnem nomes da
nova cena Nouvelle Scene, as músicas
nos remetem a um clima harmonioso, com vozes como a doçura juvenil de Coralie Clément e o timbre
marcante de Thomas Fersen apresentado logo no primeiro título Au Café de la Paix. Destaques para as
faixas: Samba de Mon Coeur Qui Bat,
je reste au Lit do Pascal Parisot,
notável interprete que nos brinda com uma brasilidade inconfundível em conjunto
com criativos efeitos eletrônicos, Jardin
d'Hiver da Keren Ann, de origem Israelense-indonésia-neerlandesa, que
regravou competentemente este clássico do saudoso Henri Salvador. Música de
qualidade que só não dou nota dez para o disco porque só tem 12 faixas, para
quem não gosta de música antiga, essa é uma pedida mais moderna imperdível.
Carla Bruni (1967-) foi um daqueles achados felizes,
fora a aura de celebridade em torno dela, sua rouquidão sensual que apresenta
em seu disco de estréia Quelqu'un m'a Dit de 2003 é de
uma beleza capaz de encantar com seu estilo meio folk de guitarra acústica nos
remete a artistas mais aquilatados como Bob Dilan. É o estilo eletro-americano,
mais o frescor é francês, sua voz é clássica e suas músicas trazem um lirismo
jovial, em que o amor é prerrogativa para ser feliz, música das boas para ser
ouvida a qualquer tempo.
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