sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A VIDA DA ESTRELA




            Esse espaço que uso no mundo virtual para escrever me remete ao que de melhor tenho lido, visto, discutido e apreendido nesses últimos anos. Quando estava concluindo a faculdade de Serviço Social um amigo me apresentou um livro, pequeno, mas de uma profundidade imensurável, trata-se da Hora da Estrela de Clarice Lispector. O livro é centrado em forma de narração, feita por uma figura masculina, na verdade, o álter ego de Clarice. Publicado pouco antes da autora falecer é feita uma descrição objetiva da vida e contestado uma série de  elementos, o que leva em ultima instancia a contestação do sentido da literatura e da própria vida.


            Macabéa a nordestina, assim como Clarice que viveu a infância no Nordeste, é a protagonista, trata-se de uma medíocre imigrante de 19 que vive no Rio de Janeiro. Apaixona-se também por um nordestino Olímpico de Jesus e juntos vão dividir suas solidões e mediocridades. O livro é dinâmico e brutal o que faz ser lido apressadamente pela maioria das pessoas. Os personagens que desfilam em suas páginas, são feios, miseráveis, são seres totalmente dispensáveis na engrenagem da sociedade em que vivemos onde as pessoas são medidas pelas coisas que possuem.



             A personagem de Macabéa me causou uma profunda reflexão, pelo seu lamentável passado e seu futuro sem esperanças. Ela é descrita como alguém que vive sem ter consciência de si mesma. O clímax da obra é o encontro da protagonista com a cartomante que se compadece da sua insignificância e inventa para ela um futuro melhor do que qualquer outro que ela poderia ter.


            Vi em Macabéa um grito da autora para questionar, o que é realmente existir? Até que ponto somos imprescindíveis para a sociedade, para o mundo e para nós mesmos. Quando Macabéa se olha diante do espelho é a primeira vez que ela realmente se enxerga. Imagino quando passamos realmente a nos enxergar, a aceitar a nossa real condição na vida e no mundo. Acredito que a partir do momento em que tomamos consciência de quem realmente somos, conseguimos conviver melhor com a nossa solidão, e não exigir de nós mais do que aquilo que somos capazes de dá e de oferecer.
Fotografia de stock: Woman looking up

            Com Macabéa fui iniciada na obra de Clarice, do fim para o começo, e percebi que realmente a vida é um grande luxo e que viver é o maior privilégio que desfrutamos na nossa existência. Mas para enfrentar a dureza da vida é preciso sonhar e acreditar: ela acredita em anjo e, porque acreditava, eles existiam. 

Fotografia de stock: Woman with angel wings

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

PLATÃO E A BELEZA



            É sempre bom rever e reler as ideias de Platão sobre o mundo, ontem dei aula de Ética e inevitavelmente entrei em campos próprios da filosofia. Na discussão falamos sobre a ideia do bom associado à beleza o que me remeteu a Platão, quando este acredita que o mundo que parecemos observar a nossa volta é uma ilusão. Suponha que observemos várias coisas belas: um pôr-do-sol, uma flor, uma pintura etc. elas diferem de muitas maneiras obvias. Ainda assim, supomos que têm algo em comum: são todas belas.


            Para Platão esse algo é uma entidade a ideia de beleza. Nenhuma coisa particular jamais é perfeitamente bela; poderia ser um pouco mais bela do que realmente é. A ideia de beleza, por outro lado, a própria beleza, é perfeitamente bela.


            As ideias são eternas; belos particulares vão e vêm. A bela flor desabrocha, mas depois murcha e morre. A própria beleza, em contraposição, nem passa a existir nem deixa de ser.


            As ideias para Platão são imutáveis. Nosso juízo sobre o que é belo muda com o tempo. As modas vão e vêm. Mas a ideia de beleza, a própria beleza não se altera. Assim, a beleza é uma entidade que existe além das coisas particularmente belas. 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A CONTRIBUIÇÃO DE PITÁGORAS




            O nosso pensamento racionalista cunhado a partir do Iluminismo do século XVIII, estabelece que só pode ser comprovado aquilo que possa ser mensurado. E essa mensuração só existe através dos números. Pitágoras filosofo grego que viveu de 570-496 a. C. entendia que a matemática era o meio de descobrir verdades sobre o mundo de outro modo impenetráveis.


            Foi dele a ideia de tratar os números como formas tal como aparece até hoje, por exemplo, nos dados. Seu fascínio pela matemática baseava-se na natureza atemporal e universal de suas descobertas. Diferente das verdades sobre o mundo físico, as verdades matemáticas são eternas. Os objetos matemáticos apreendidos pela mente seriam superiores a descrição que temos deles. O mais legal de tudo isso e que para mim causam um fascínio indescritível é o fato dos intervalos de uma escala musical serem razões aritméticas exatas.


            O seu pensamento é tão importante para nós que temos a ideia de que o universo pode ser explicado matematicamente. É sua também a nossa herança de que a matemática é o paradigma genuíno para o conhecimento intelectual, e para o desenvolvimento da ciência tal qual a conhecemos. 


terça-feira, 31 de julho de 2012

REFLEXÕES EM ALMODÓVAR



Como já disse em outros momentos aqui, Cinema é uma arte que me causa profundas reflexões e deve ser por isso que não consigo ver a maioria dos filmes dos circuitos comerciais e de propaganda, sinto uma inquietude que não consigo ficar nem na sala de cinema, sou daquele tipo que vê filme para discutir depois, analisar a fotografia, o estilo do diretor. Cinema não é somente passa tempo. 


Por fugir a estética tradicional, típica de Hollywood, é que sempre fui ligada a Almodóvar, e considero o filme Fale com Ela uma redenção aos excessos anteriores do Diretor. Passados 10 anos do seu lançamento comprei uma cópia em DVD e vi coisas que não tinha percebido anteriormente. O filme foge dos personagens drogados, selvagens e estranhos.


Almodóvar se dedicou a sutileza do mistério, da leitura da mente humana, do amor e de como o homem está dentro das prisões espirituais, físicas e como no filme reais. A trama está centrada em duas mulheres em coma: Alicia, uma bailarina, e Lydia, uma toureira. A cuidar da primeira está o patético Benigno que no início se mostra um zeloso namorado, mas depois se revela um obsessivo macabro que na verdade só conheceu Alycia ao vê-la em coma.


A história de amor vira quase terror, mas também é uma história de lealdade, como do amante de Lydia Marco, e de empatia como nos pede Almodóvar, pela loucura amorosa de Benigno. Uma coisa que eu não tinha conseguido perceber quando vi o filme há dez anos é a centralidade em que o corpo humano é colocado, como um espaço de beleza privilegiado.




Além de provocar reflexões, o filme me colocou em convivência com a cultura espanhola. Por isso é que valeu muito ter revisto Fale com Ela dez anos após o seu lançamento. 

terça-feira, 24 de julho de 2012

VAMOS CUIDAR DO AMOR




            Possuir um amor! Amar! Ser dono de um carinho é como ter constantemente o sol irradiando a alma é a imensa alegria de voar sobre a terra e a arte de andar até as nuvens. É o dom de tornar suave àquilo que é mais duro. É a capacidade de clarear os nossos deveres.


            Nossa existência converte em luz o que existir de mais opaco, e nos alivia do que está dentro e fora de nós mesmas. O amor concilia tudo, e usamos toda nossa energia, material e espiritual nesse grande e profundo bem.


            Quantas vidas são capazes de renascer por amor, quantas ilusões se criam. Cuidemos muito bem do amor que possuímos se ele nasce da menor coisa, também se esvai com facilidade, às vezes a falta de um carinho, outras basta uma simples corrente de ar...


segunda-feira, 23 de julho de 2012

MARC FERREZ E A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE BRASILIDADE



            Tenho um interesse especial pelo Brasil do século 19, período que considero responsável pela consolidação da nossa cultura e pela nossa formação enquanto nação. É um Brasil que poderia se tornar menos distante através da circulação e da visualização de suas imagens. Apresentadas em exposições as fotografias representavam um elo entre as províncias que iam se ligando no imaginário social como nação.




            Marc Ferrez trabalhou a serviço de diversas instituições do Império. Percorreu o Brasil acompanhando o cotidiano de fazendas de cana de açúcar e café, minas de ouro, construção das primeiras estradas de ferro e transformações urbanas. Esse Brasil formado através das suas lentes mostra um país rico em sua natureza e próspero em sua indústria. Nas fotografias a imagem agrega em vez de separar, e expõem o Rio de Janeiro como principal cartão postal do país, mostram também tipos humanos como escravos e uma série feita com os índios botocudos.





O que se ver em suas fotografias é a imagem de um Brasil ao mesmo tempo exuberante e engajado com o projeto de civilização. É aí que se lançam as bases para que as diversas províncias pudessem criar uma identificação comum e um sentimento nacional. O certo é que as fotografias de Marc Ferrez são partes das estratégias discursivas para formar a noção de uma brasilidade partir das imagens construídas sobre a nação. Por isso vale muito rever e analisar essas imagens.