Mostrando postagens com marcador cinema europeu. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cinema europeu. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 10 de junho de 2014

O ROMANTISMO DO FILME O ATALANTE


            Para viver para sempre feliz com quem você ama, é preciso ter a capacidade de conviver com o outro e suportar tudo. Pequenos problemas devem ser ultrapassados. Ela não gosta de gatos sobre a mesa quando está comendo. Ele guarda roupa suja no armário a mais de um ano. Ela guarda para si os momentos que passam juntos. Ele curte o seu melhor amigo, barbudo e tagarela. Ela quer ver Paris. Ele se preocupa com o seu trabalho.



            O Atalante, de 1934, do francês Jean Vigo, nos conta uma história de amor desse tipo e consta nas listas entre os grandes filmes da história do cinema. Em linhas gerais, parece uma história comum. Começa com o casamento de Jean, um jovem capitão de uma barcaça, com Juliete uma jovem de um vilarejo. Não há festa no casamento, ela vai morar diretamente na barcaça com o marido, Jules um marinheiro que andou no mundo, um taifeiro e pelo menos meia dúzia de gatos.



            Certa noite ela escuta no rádio as mágicas palavras isto é Paris. O marido preocupado com o trabalho não a leva para ver a cidade, ela decide sair sem que ele perceba e quando volta a barcaça não está mais lá. O bonito do filme é que a história não é banal, mas apresentado de uma forma poética. Mais do que ligar o jovem casal a qualquer enredo eles são os momentos que a memória irá iluminar daqui a cinquenta anos, basta ver a primeira manhã deles, quando acorda ouvem uma serenata de acordeão e uma canção de marinheiro.




            O filme apresenta um ar suavemente poético. Na fotografia a maioria dos planos captura o frio das paisagens dos canais, os esfumaçados bistrôs, os apertados quarteirões e magnificência da velha barcaça. É o tipo de filme que você irá voltar a apreciar como sua canção preferida. Lembrando-se de onde estava quando a ouviu pela primeira vez e como fez você se sentir. Dentre as alternâncias entre tristeza e felicidade, esse casal nos ensina que o amor sobrevive, se realmente for amor. 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O GABINETE DO DR. CALIGARI



O Gabinete do Dr. Caligari de 1920 é o tipo de filme que interessa aos que estudam, discutem e trabalham com as questões relacionadas ao cinema. Filme de estilo expressionista com aspecto claustrofóbico e cenários feitos de papel. Em um jardim ermo o jovem Francis conta a um homem neurótico e atormentado os acontecimentos que o traumatizaram. Alguns tempos antes a cidade de Holstenwall foi visitada por Dr. Caligari, um charlatão que frequentava feiras de variedades com o seu sonâmbulo Cesare. Enquanto Caligari apresenta seu número na feira, Cesare faz profecias de morte que mais tarde se concretizam, porque o sinistro doutor manda seu escravo-zumbi para cometer os crimes que ele previra.



No fim descobre-se que Francis é paciente de um manicômio e que sua história não passa de uma fantasia delirante povoada pelos demais internos e pelos funcionários do local. O filme é uma denúncia de um mundo novo de um novo século, mas povoado de loucuras e hipocrisias. Os cenários não realísticos e com sombras pintadas e perspectivas distorcidas eram uma estratégia para perturbar os espectadores.



O filme tem uma estética peculiar e é exemplo inicial da mistura entre cinema de arte e cinema comercial, uma estranheza rebelde coroada para agradar o gosto burguês que o filme pretendia. Filme essencial para o desenvolvimento do cinema e da imaginação, além de marco inaugural de diversos elementos do cinema de horror. Para mim diversão garantida. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Volver DE ALMODÓVAR



Sempre gostei de Almodóvar, seja pelos temas, o uso predominante da cor vermelha e principalmente pela estética diferente do que estamos acostumados dentro dos padrões americanos. Vi Volver em 2006 no seu lançamento no cinema, revi agora com uma visão mais madura, para ver quais as minhas impressões. A produção marca uma série de retornos para o cineasta, ao seio materno, a infância, ao universo feminino, ao ambiente da parte de Barcelona onde nasceu, além da atriz Carmen Maura, fetiche do início de sua carreira.



O filme fala de três mulheres, Raimunda (Penélope Cruz) que tem o marido assassinado por sua filha após a jovem sofrer uma tentativa de violência sexual, sua irmã Sole que ganha a vida como cabelereira e sua mãe Irene (Carmen Maura), que, depois de dada como morta surge como uma aparição, primeiro para Sole e depois para Raimunda que tenta se reconciliar por erros do passado.



Almodóvar é tão importante para o mundo cinematográfico que se transformou num adjetivo, nesse sentido, vejo-o perto de grandes como Felini e Hitchcock. Para o cinema atual ele representa o mesmo sentido que esses outros cineastas incorporarão no passado: um autor para as massas com idiossincrasias assimiláveis pelo grande público, um realizador que frequenta com a mesma desenvoltura o Oscar americano e a Cinemateca francesa.



O que mais gosto em Volver é o casamento do fantástico com o cotidiano, é marca característica de sua obra filmar com graça e naturalidade as situações e os personagens mais absurdos, isso pode ser visto em Irene que ao ser considerada morta volta a sua terra natal, para resolver questões pendentes. Até a cena em que Raimunda limpa o sangue do marido morto é filmada de forma magistral. Volver faz bem aos olhos e alimenta a magia cinematográfica, filme de primeira e que valeu a pena ser revisto.