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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

QUANDO LI O FILHO DE MIL HOMENS


Conheci a literatura de Valter Hugo Mãe através do Romance de Baltazar Serapião que falei aqui no blog, literatura envolvente, densa e de qualidade, assim não foi surpresa para mim O Filho de Mil Homens livro com a mesma qualidade literária que cai de amores a primeira vista. É um livro que qualifico como sincero, porque há tanta realidade nos personagens que é impossível não se apaixonar. O livro é um acalanto, um lembrete, uma esperança que as vezes pela dureza da vida fica guardada no fundo da alma.


O livro conta a estória de Crisóstomo um homem de quarenta que se vê como alguém pela metade carregado de ausências e silêncios, como alguém que necessitava de se entregar ao outro para curar sua solidão. A partir dessa base o romance se fundamenta como algo delicado e terno. Crisóstomo sai em busca de um filho e encontra Camilo um rapaz sozinho que o avó acabara de morrer. Daí são histórias entrecortadas que mostram: o pescador que queria um filho; o filho que não tinha um pai;  uma anã que queria amar;  Isaura uma mulher que era rejeitava pelo amor e resolveu ficar feia e triste; Antonino um “homem maricas” que queria casar com um mulher para ser aceito; Matilde uma mãe que queria amar.


Tenho tanta fé nas palavras que acredito esse livro deveria ser lido pelo maior número de pessoas, tenho vontade de doá-lo a parentes e amigos. As estórias dos personagens mostram que para ser feliz é preciso aceitar aquilo que se pode ser, reforçando uma frase que gosto muito que é “a vida não é feita do ideal, a vida é feita do possível”. A forma como os personagens são apresentados é genial, a cada capítulo eles vão se envolvendo com os anteriores. A linguagem é toda poética muito longe do óbvio.


Fiquei encantada com a procura pela felicidade de cada personagem, eles enfrentam tudo: a solidão, a morte, o preconceito, a inveja, mas a esperança é quem dá o tom em cada página. É o tipo de livro que nos identificamos com ele, afinal a busca da felicidade é inerente a condição humana. Leitura recomendadíssima com todas as estrelas possíveis e lugar de destaque em minha estante.


terça-feira, 30 de setembro de 2014

F. SCOTT-FITZGERALD E A ACLAMADA PROSA DO GRANDE GATSBY


F. Scott Fitzgerald, tem sido assunto do momento com O Grande Gatsby (2013) estrelado por Leonardo DiCaprio no cinema de qualidade inquestionável revisionado e colorido com a melhor tecnológia atual. Eu já tinha visto a versão de 1974 estrelada por Robert Redford e Mia Farrow, mesmo não tido sido bem aclamado pela crítica em sua época mostra-se resistente ao tempo com uma boa reconstrução histórica. Considerei Leonardo DiCaprio um Gatsby caloroso e simpatico como Redford não conseguiu ser. A versão recente é mais interessante apesar do barulho excessivo da reconstrução das festas. Nos permite imagens perfeitas e poemas visuais.



O livro que dá origem ao filme (The Great Gatsby 1925)  é de  de alta qualidade literária  que resolvi reler após ver novamente essas duas versões cinematográficas. F. Scott Fitzgerald é conhecido por sua verve literária, seus fantásticos anos 1920, sua vida em Paris para escrever, sua escrita aclamada. Mas vou logo dizendo caro leitor, se você quer se apaixonar o livro é vivo e nos últimos dias me salvou do marasmo literário. Gatsby é daquelas leituras que tem fôlego, além da capacidade de se ler somente uma vez, você pode ler várias e continuar se apaixonando.



O autor conta a história através do personagem Nick, o narrador que fala os acontecimentos muitos anos depois. É através dele que conhecemos os personagens, Dayse sua prima, o marido dela, Jordan e por vim Gatsby. Nick é o menos abastado de todos eles, os demais vivem do luxo e da opulência do dinheiro. A descrição do ambiente é incrível com luzes, roupas, gestos falas. São lições de como se ambientar uma casa, tanto do apartamento da amante de Tom, marido de Dayse quanto da casa do casal ou do hotel das cenas finais.



O suspense que o livro traz é bem mais sútil do que o filme que é mais direto, quem é Joy Gatsby? Na verdade creio que Fitzgerald estava mais preocupado em mostrar a luta dos personagens pelas suas aparências. Tenho algumas convicções e não sinto pena de Gatsby como Nick, acho que ele amava mais o que Dayse representava do que ela própria, ele queria que a riqueza o aceitasse e só seria aquilo que planejou se tivesse ela a seu lado. Tanto que pagou o preço ao não denuncia-la depois do acidente.




Livro incrível F. Scott Fitzgerald faz jus a fama, novelista de primeira linha. Wood Allen tem razão em sentir inveja de sua escrita. É o romance definitivo dos anos prósperos e loucos que sucederam a Primeira Guerra Mundial.  Mesmo Gatsby sendo arrogante e Dayse prepotente com vidas superficiais, através de suas personagens é possível discutir o consumismo desenfreado e a vida vazia de toda uma sociedade. Reflexo dos nossos tempos atuais. Outra coisa o livro é superior a qualquer versão cinematógrafica.

terça-feira, 29 de julho de 2014

GOLPES DE MESTRE: OS MELHORES TEXTOS DE SHAKESPEARE


            Acho que passei a vida toda lendo, vendo filmes ou peças de teatro do poeta inglês William Shakespeare. Fiz uma seleção que obedece absolutamente minhas preferências pessoais e impressões de toda uma vida, sobre os seus melhores textos.


  Hamlet- é a peça mais moderna ou premonitória de Shakespeare, com seu herói pré-edipiano indeciso entre cumprir a obrigação atávica de vingar o pai e matar quem tomou seu lugar, o do pai e o dele, na cama da mãe, ou ouvir sua consciência. Um texto entre o conflito entre as razões de sangue e a própria razão. Sempre achei que a figura mais trágica da peça não é Hamlet tragado pelo passado pelo clamor da vingança do pai, mas Laerte irmão de Ofélia, que pensa ter escapado das desgraças e intrigas das cortes de Elsinore- isto é, o passado e é obrigado a voltar também para ser destruído. O protótipo de todo jovem que quer se livrar da família e de seus rituais de sangue e quer e inventar uma vida própria, mas não consegue porque leva o sangue junto.


 Ricardo III- Shakespeare criou alguns ótimos vilões que celebram ou se encantam com sua própria vilania. Ricardo é o primeiro personagem totalmente cínico da literatura mundial. Ricardo se congratulando, deslumbrado por ter conseguido seduzir a viúva do homem, que mandou matar com o corpo dele ainda quente, é não apenas um ode ao cinismo mas uma rapsódia ao poder e ao sortilégio e as palavras bem ditas.


  Antônio e Cleópatra- é a peça mais poética do inglês, embora trate do amor de personagens tão obcecados pelo poder quanto um pelo outro. No texto Cleópatra prevê que o amor dos dois será representado em algum lugar fétido, diante de uma plateia irrequieta, e que o papel será feito por um rapaz de fala fina, conforme o costume do malcheiroso teatro elisabetano. Uma metalinguagem que o mestre se permitiu.

terça-feira, 10 de junho de 2014

O ROMANTISMO DO FILME O ATALANTE


            Para viver para sempre feliz com quem você ama, é preciso ter a capacidade de conviver com o outro e suportar tudo. Pequenos problemas devem ser ultrapassados. Ela não gosta de gatos sobre a mesa quando está comendo. Ele guarda roupa suja no armário a mais de um ano. Ela guarda para si os momentos que passam juntos. Ele curte o seu melhor amigo, barbudo e tagarela. Ela quer ver Paris. Ele se preocupa com o seu trabalho.



            O Atalante, de 1934, do francês Jean Vigo, nos conta uma história de amor desse tipo e consta nas listas entre os grandes filmes da história do cinema. Em linhas gerais, parece uma história comum. Começa com o casamento de Jean, um jovem capitão de uma barcaça, com Juliete uma jovem de um vilarejo. Não há festa no casamento, ela vai morar diretamente na barcaça com o marido, Jules um marinheiro que andou no mundo, um taifeiro e pelo menos meia dúzia de gatos.



            Certa noite ela escuta no rádio as mágicas palavras isto é Paris. O marido preocupado com o trabalho não a leva para ver a cidade, ela decide sair sem que ele perceba e quando volta a barcaça não está mais lá. O bonito do filme é que a história não é banal, mas apresentado de uma forma poética. Mais do que ligar o jovem casal a qualquer enredo eles são os momentos que a memória irá iluminar daqui a cinquenta anos, basta ver a primeira manhã deles, quando acorda ouvem uma serenata de acordeão e uma canção de marinheiro.




            O filme apresenta um ar suavemente poético. Na fotografia a maioria dos planos captura o frio das paisagens dos canais, os esfumaçados bistrôs, os apertados quarteirões e magnificência da velha barcaça. É o tipo de filme que você irá voltar a apreciar como sua canção preferida. Lembrando-se de onde estava quando a ouviu pela primeira vez e como fez você se sentir. Dentre as alternâncias entre tristeza e felicidade, esse casal nos ensina que o amor sobrevive, se realmente for amor. 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

BERNARD SHAW UM FEMINISTA CÍNICO


            Conheci a obra de Georg Bernard Shaw (1856-1950) através do filme My Fair Lady estrelado por Audrey Hepburn. Shaw dramaturgo irlandês, enfureceu milhares de mulheres em várias gerações. Em definições como: cabe a mulher casar cada vez mais cedo possível e ao homem ficar solteiro o maior tempo que puder. Frases como essas levaram muitos a classifica-lo como machista e misógino. O que não sabiam é que, ao contrário, Shaw era um defensor dos direitos das mulheres, e que suas declarações não passavam de ironia com o acomodamento feminino em relação aos homens.


            Escrita em 1913 Pigmaleão, obra em que se baseia My Fair Lady, enfureceu milhares de várias gerações. Ainda assim a história da jovem florista Eliza Doolittle, humilhada e submetida a todo tipo de tormento pelo grosseiro e intolerante Henry Higgins, é um dos maiores sucessos de Shaw. A peça foi encenada diversas vezes, com a versão cinematográfica estrelado por Hepburn ganhou nada menos oito Oscars.


            Bernard Shaw conhecia muito bem o mundo de Eliza, já que ele vinha de uma família humilde de Dublin, na Irlanda. Com 20 anos, mudou-se para Londres onde deu início a uma carreira brilhante como crítico cultural. Sua marca principal era a polêmica. Sempre com argumentação segura seus ensaios iam de críticas a Shakespeare até defesas ferozes do vegetarianismo. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1925, mas recusou o dinheiro.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

CÂMARA CASCUDO INTÉRPRETE DO BRASIL


O potiguar Luís da Câmara cascudo (1898-1986), foi um intelectual na acepção mais profunda do que a palavra possa significar. Sua produção se deu em múltiplos gêneros da escrita (crônica, ensaio, monografia e livros de viagem) e em diferentes campos do conhecimento (história, estudos literários e etnografia, para ficar restrito aos mais marcantes). Seus estudos operam permanentemente uma mistura de conquistas que são o melhor de sua produção.


Cascudo publicou seu primeiro livro aos 23 anos, mas já escrevia em jornais desde os 16 anos. Seu trabalho de etnógrafo se misturava com o de memorialista (escritor) e com a tarefa de crítico literário. Para ele sem memória não há saber nem racional nem sensível. O estudioso da sociedade é escritor e memorialista. Considerava a poesia com rima e ritmos importantes porque ajuda na preservação da memória, apoiada na transmissão oral. Escrever sobre poesia e cultura popular tema recorrente em sua obra, é valorizar arquivos desse mundo.


O melhor de seu trabalho é que ele rouba de si por meio de literatura que ele mesmo produz esboços de memória metamorfoseadas em fragmentos de interpretações, com compreensões da história voltadas para o cotidiano numa época que não era usuais esse tipo de análise. Ele foi um pioneiro brasileiro na valorização da literatura oral e da cultura popular. Professor da UFRN, foi responsável por diferentes frentes culturais no Rio Grande do Norte (docência no Atheneu, publicações de incentivo a produção literária e musical).



Câmara Cascudo se definiu como incurável provinciano. Até era. Mais sua vida e sua obra demonstram que província e mundo não se constituem em instâncias isoladas. Ele conseguiu dialogar com os poetas orais nordestinos, mas também se manifestou na fina análise em diálogos com Dante, Cervantes, Descartes, Montaigne e tantos mais.