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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

QUANDO LI O FILHO DE MIL HOMENS


Conheci a literatura de Valter Hugo Mãe através do Romance de Baltazar Serapião que falei aqui no blog, literatura envolvente, densa e de qualidade, assim não foi surpresa para mim O Filho de Mil Homens livro com a mesma qualidade literária que cai de amores a primeira vista. É um livro que qualifico como sincero, porque há tanta realidade nos personagens que é impossível não se apaixonar. O livro é um acalanto, um lembrete, uma esperança que as vezes pela dureza da vida fica guardada no fundo da alma.


O livro conta a estória de Crisóstomo um homem de quarenta que se vê como alguém pela metade carregado de ausências e silêncios, como alguém que necessitava de se entregar ao outro para curar sua solidão. A partir dessa base o romance se fundamenta como algo delicado e terno. Crisóstomo sai em busca de um filho e encontra Camilo um rapaz sozinho que o avó acabara de morrer. Daí são histórias entrecortadas que mostram: o pescador que queria um filho; o filho que não tinha um pai;  uma anã que queria amar;  Isaura uma mulher que era rejeitava pelo amor e resolveu ficar feia e triste; Antonino um “homem maricas” que queria casar com um mulher para ser aceito; Matilde uma mãe que queria amar.


Tenho tanta fé nas palavras que acredito esse livro deveria ser lido pelo maior número de pessoas, tenho vontade de doá-lo a parentes e amigos. As estórias dos personagens mostram que para ser feliz é preciso aceitar aquilo que se pode ser, reforçando uma frase que gosto muito que é “a vida não é feita do ideal, a vida é feita do possível”. A forma como os personagens são apresentados é genial, a cada capítulo eles vão se envolvendo com os anteriores. A linguagem é toda poética muito longe do óbvio.


Fiquei encantada com a procura pela felicidade de cada personagem, eles enfrentam tudo: a solidão, a morte, o preconceito, a inveja, mas a esperança é quem dá o tom em cada página. É o tipo de livro que nos identificamos com ele, afinal a busca da felicidade é inerente a condição humana. Leitura recomendadíssima com todas as estrelas possíveis e lugar de destaque em minha estante.


terça-feira, 23 de setembro de 2014

COMO OZ CHEGOU A SER OZ?


Reafirmo o que disse em outros textos dentre as artes o cinema é o meu melhor remédio, minha maior influência e minha melhor inspiração. Ontem após um dia nebuloso resolvi ver o mundo se tornar colorido através das lentes do Mágico de Oz (1939). Percebi o quanto que os personagens do filme serviram de estereótipos para mim, para as culturas de massa, para a nossa contemporaneidade, em especial a bipolaridade entre o que seria o bem e o mal. Me fez muito bem ver o pulsante cenário em Tecnicolor, com suas flores de plástico seu horizonte pintado, suas fumaças amarelas, sua cidade das esmeraldas reluzentes.


Aprecio filmes em que a história apresente boa longevidade e quanto a isso Oz cumpre bem o seu papel. Para mim é o equilíbrio entre infância, diversão e uma bela mensagem da universalidade do amor, do apego a terra natal e a família. Vendo o filme com meus olhos de adulta percebo que Judy Garland, empresta a Dorothy um olhar amoroso e cativante, que nos faz acreditar que realmente ela conseguirá voltar para casa. Minha cena preferida, talvez uma das melhores de todo o cinema é quando ela, já com os indefectíveis sapatos vermelhos segue obstinada o caminho de tijolos amarelos em busca de seus objetivos.



Não me incomoda a inspiração teatral do filme, me admiro como uma técnica nova na época como o Tecnicolor foi tão bem empregada. É tudo absurdamente bonito. A bondade de Dorothy em ajudar os que encontram em seu caminho (Espantalho, Homem de Lata e o Leão) é universal e a ideia que é preciso acreditar em si mesmo não envelhece. Considero um dos melhores filmes já feito, provando que um filme infantil não precisa ser necessariamente tolo para divertir. A bela mensagem e as excelentes interpretações ainda terão denso significado por muito tempo, tanto para a história do cinema, quanto para expectadores de todas as idades.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A INVEJA E A TRISTEZA PELA FELICIDADE ALHEIA



            Acredito ser difícil alguém admitir que sente inveja ter esse sentimento é considerado dentro dos nossos princípios filosóficos como algo vergonhoso. Quero começar fazendo uma distinção entre inveja e cobiça. Cobiça é desejar as coisas do outro é vontade de ter o que os outros têm, não significa que ela seja sempre negativa, eu posso dizer: gosto tanto da casa de fulano que vou fazer uma igual para mim. A inveja ao contrário é sempre negativa dizer que alguém têm inveja branca, está relacionada ao racismo brasileiro além de não entender o que é inveja. Inveja está sempre relacionada a tristeza pela alegria alheia, definição muito bem recortada por São Tomás de Aquino.


            A inveja não resulta na vontade de ter o que o outro têm, essa é a pura  e absoluta cobiça, a inveja é a tristeza que o outro tenha. No purgatório de Dante é um tipo de cegueira, colocada no topo dos pecados os invejosos têm como castigo os olhos costurados com arame, e isso está relacionado a não visão que a inveja provoca. Uma coisa interessante na inveja, é que a maioria das pessoas se considera invejável, mas não invejosa. Um outro elemento é que a inveja está relacionada sempre a alguém próximo: o colega de trabalho, o vizinho, o parente. É mais fácil perdoar o sucesso de alguém distante. Uma pesquisa americana diz que para as pessoas não importa quanto eu ganhe, contando que seja mais do que as pessoas ao meu redor.


            A inveja é a falta da máxima socrática do conhece-te a ti mesmo, escrita no templo de Apolo em delfos, fica mais fácil dizer que o meu fracasso se deveu a inveja do que a minha incapacidade. A inveja é dolorosa porque ela se relaciona sempre a uma homenagem indireta a quem eu invejo. Invejar o corpo, a renda, a inteligência ou a sociabilidade de alguém é dizer sempre que o que invejo é acima do que tenho. A inveja é sempre amargurada, porque nasce do reconhecimento da minha fraqueza. Ser feliz com a felicidade alheia é um grande desafio.


            Penso que todos nos amam quando estamos por baixo, mas poucas pessoas nos amam quando estamos por cima. Na tradição judaico cristã, Caim teria matado Abel por pura inveja. Na literatura Yago inveja Otelo, na peça de Shakespeare, O Mouro de Veneza, não suportando o sucesso deste acaba despertando o ciúme e destruindo a Otelo, Desdomena e a ele próprio. Yago representa a pessoa comum que ao não ser promovido no trabalho por exemplo, não faz uma auto avaliação sobre o seu desempenho, preferindo culpar os outros. A inveja é tratada filosoficamente porque ela traz o defeito socrático do invejo de não se conhecer, o invejoso não ver. Saber o que eu invejo é sempre um espaço possível para eu interpretar o que me falta.


            A inveja é a incapacidade de estabelecer os limites do meu narciso do meu eu, é o reconhecimento da incapacidade e do fracasso pessoal e social. Acredito que a solidariedade ao outro no sucesso é o teste máximo. No momento da dor não testamos os amigos, mas a caridade alheia, esse momento causa simpatia a muitas pessoas. Para Heidegger o teste da amizade é relatar ao amigo o sucesso. 


            O invejoso é aquela pessoa que coloca sua alma à exposição pública. É um pecado e um defeito universal que nasce da diferença humana. Apesar de sermos agrupados em conjuntos de incrível similitude, nós somos, absolutamente diversos. A inveja esconde a dor de que eu prefiro tudo, ao parecer dolorido, fraco ou fracassado. A inveja esconde a falta de convívio com o fracasso, uma habilidade superior a minha, mostra sempre o espaço daquilo que eu não sou. Acredito que a inveja é um grande erro porque ela impede que eu seja feliz, e é esse o seu elemento mais doloroso, ela me torna infeliz ao não me permitir pensar naquilo que eu tenho.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A TAL FELICIDADE



Já falei em outros momentos aqui no blog sobre a felicidade que acredito a priori ser o objetivo maior da nossa existência, embora entenda que o primeiro fundamento desse princípio, deve ser a incerteza. Esse é um tema que perturba, impressiona e tem a capacidade de comover as pessoas. Não temos certeza do que é, mas somos convocados a todo tempo para buscar essa tal felicidade.  Embora já tenha tentado construir conceitos sobre o assunto, hoje compreendo que só é possível falar em felicidade num nível de dúvida.


Ao longo da história do pensamento, sempre se tentou responder justamente essa pergunta, o que é a felicidade? E foi aí que se criaram regras para ela e é assim que impomos uns aos outros os nossos paradigmas. O que pode nos salvar desses deveres para com a felicidade, é justamente a interrogação que deveria ser um exercício cotidiano. Pensando e duvidando de conceitos é possível buscar e construir nossa própria felicidade, não como algo pronto e acabado, mas como algo capaz de ser construído não como o ideal pronto e realizado, mas como uma aventura que é gestada a partir do nosso próprio cotidiano.


Em nossos tempos atuais, ser feliz é praticamente uma obrigação, que nos é lançada, sobretudo, por meios de comunicação, e podemos muito bem dizer que a felicidade dos nossos dias foi cativada pela publicidade. Mas mesmo assim, não devemos abrir mão desse termo, mesmo após sua transformação em uma mercadoria, capaz de vender outras mercadorias. A felicidade surge inicialmente nos textos dos filósofos da antiguidade grega. Naquele momento, eles estavam preocupados em entender como alguém pode ser feliz sem precisar da intervenção de uma força maior, ou seja, como posso ser feliz chamando apenas aquilo que tenho dentro de mim?



A questão é o que que você enquanto ser individual é capaz de fazer junto a outros seres humanos para ser feliz consigo mesmo? E é aí que a felicidade se insere no campo da ética, que é de modo geral algo que fazemos com o outro. Essa ideia do nosso tempo de ser feliz, é uma imposição do outro, a gente só quer ser feliz porque existe um ordenamento social e cultural que nos exige isso.



Reafirmo e aceito o pensamento dos gregos, o ser humano consegue ser feliz quando ele mesmo se torna virtuoso, e encontra o equilíbrio interior entre o bem e o mal, pois seria virtude do ser humano a mistura que resulta na capacidade de cometer erros e acertos, sendo assim, a felicidade seria o encontro daquilo que sou capaz de compreender em relação a própria vida que vivo, o encontro do meu pensamento com a minha ação.



Tenho a impressão que existem muitas pessoas que vivem como se a vida fosse algo de plástico, como se ela não fosse de concreto, na verdade, a vida é muito pesada. Todos mais cedo ou mais tarde irão vivenciar uma coisa que chamo de dor de existir. Nietzsche entendia que para ser feliz, basta está vivo, porque viver é algo bonito e nesse ponto ele está correto, porque viver é uma infinitude de possibilidades e é a chance que temos de experimentar a condição humana. Já que fora disso não temos a certeza racionalista que existe algo.



Por isso, entendo que felicidade é a capacidade que cada um de nós tem de inventar essa sensação para si mesmo, já que cada um pode desenhar a sua ideia de felicidade. Nesse sentido, Kant tinha razão, talvez a gente não possa ser feliz num sentido total metafísico, mas apenas no sentido de termos feito tudo que estava a nosso alcance para botar a cabeça no travesseiro e ficar numa boa. Afinal, a vida não é sonho.